quarta-feira, dezembro 27, 2023

Sondagem: “Falam demais e fazem de menos”: atitudes populistas altas em todos os grupos

“Os políticos falam demais e fazem de menos?” 87% concordam. “Os deputados de­viam seguir a vontade do povo?” 77% respondem que sim. “As diferenças políticas entre a elite e o povo são maio­res do que as diferenças políticas que existem no povo?” 60% subscrevem. Três das seis afirmações que pretendem medir atitudes populistas em Portugal obtêm “a concordância de maiorias muito expressivas”, de acordo com a sondagem realizada pelo ICS-ISCTE para o Expresso e a SIC.

Esta escala, explica o relatório da sondagem, “consiste num conjunto de seis afirmações que visam captar as componentes centrais do populismo enquanto orientação ideológica”, tendo por base a definição mínima definida por um dos mais referenciados especialistas em populismo, Cas Mudde. Nas suas investigações, Mudde defende que a sociedade se encontra “dividida em dois campos homogéneos e antagónicos — o povo, puro, versus a elite, corrupta ou incapaz — e que a política deveria ser a expressão da vontade geral do povo”. E, assim, os entrevistadores colocaram cada uma destas questões aos 803 inquiridos neste estudo de opinião.

Se naquelas três afirmações a concordância é bastante maioritária, nas três restantes é ligeiramente menos prevalecente: 50% dizem que “as decisões políticas mais importantes deviam ser tomadas pelo povo e não pelos políticos”, 47% gostavam “mais de ser representados por um cidadão do que por um político profissional” e 47% subscrevem a afirmação de que “em política, aquilo que se chama ‘chegar a um compromisso’ significa, na verdade, abdicar dos próprios princípios”.

Ainda assim, a sondagem sugere também que, em geral, houve um ligeiro recuo na prevalência de atitudes populistas em Portugal desde 2019 — a última vez que estas mesmas afirmações tinham sido testadas pelo ICS-ISCTE. Havendo até descidas significativas nas respostas sobre as decisões deverem ser tomadas pelo povo (não por políticos), acerca das diferenças políticas entre povo e elite e também sobre o compromisso implicar uma negação dos princípios de cada um.

Olhando para os diferentes grupos sociodemográficos, mantém-se o padrão de que só os inquiridos com instrução superior são um pouco menos propensos a aderir a atitudes populistas — sendo o ligeiro recuo nas atitudes populistas idêntico em todos os outros subgrupos, incluindo no que mede os seus diferentes posicionamentos ideológicos.

Porém, há uma alteração quando olhamos partido a partido: “À direita, os simpatizantes do Chega tendem a exprimir maior concordância com afirmações que captam atitudes populistas do que os simpatizantes do PSD e da IL. À esquerda, os simpatizantes do PCP tendem a exprimir maior concordância com afirmações que captam atitudes populistas do que os simpatizantes do BE ou do PS.” Mas todas estas diferenças, vale a pena sublinhar, são muito pequenas (Expresso, texto do jornalista DAVID DINIS)

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