“Os políticos falam demais e fazem de menos?” 87% concordam. “Os deputados deviam seguir a vontade do povo?” 77% respondem que sim. “As diferenças políticas entre a elite e o povo são maiores do que as diferenças políticas que existem no povo?” 60% subscrevem. Três das seis afirmações que pretendem medir atitudes populistas em Portugal obtêm “a concordância de maiorias muito expressivas”, de acordo com a sondagem realizada pelo ICS-ISCTE para o Expresso e a SIC.
Esta escala, explica o relatório da sondagem, “consiste num conjunto de seis afirmações que visam captar as componentes centrais do populismo enquanto orientação ideológica”, tendo por base a definição mínima definida por um dos mais referenciados especialistas em populismo, Cas Mudde. Nas suas investigações, Mudde defende que a sociedade se encontra “dividida em dois campos homogéneos e antagónicos — o povo, puro, versus a elite, corrupta ou incapaz — e que a política deveria ser a expressão da vontade geral do povo”. E, assim, os entrevistadores colocaram cada uma destas questões aos 803 inquiridos neste estudo de opinião.
Se naquelas três afirmações a concordância é bastante maioritária, nas
três restantes é ligeiramente menos prevalecente: 50% dizem que “as decisões
políticas mais importantes deviam ser tomadas pelo povo e não pelos políticos”,
47% gostavam “mais de ser representados por um cidadão do que por um político
profissional” e 47% subscrevem a afirmação de que “em política, aquilo que se
chama ‘chegar a um compromisso’ significa, na verdade, abdicar dos próprios
princípios”.
Ainda assim, a sondagem sugere também que, em geral, houve um ligeiro
recuo na prevalência de atitudes populistas em Portugal desde 2019 — a última
vez que estas mesmas afirmações tinham sido testadas pelo ICS-ISCTE. Havendo
até descidas significativas nas respostas sobre as decisões deverem ser tomadas
pelo povo (não por políticos), acerca das diferenças políticas entre povo e
elite e também sobre o compromisso implicar uma negação dos princípios de cada
um.
Olhando para os diferentes grupos sociodemográficos, mantém-se o padrão
de que só os inquiridos com instrução superior são um pouco menos propensos a
aderir a atitudes populistas — sendo o ligeiro recuo nas atitudes populistas
idêntico em todos os outros subgrupos, incluindo no que mede os seus diferentes
posicionamentos ideológicos.
Porém, há uma alteração quando olhamos partido a partido: “À direita, os simpatizantes do Chega tendem a exprimir maior concordância com afirmações que captam atitudes populistas do que os simpatizantes do PSD e da IL. À esquerda, os simpatizantes do PCP tendem a exprimir maior concordância com afirmações que captam atitudes populistas do que os simpatizantes do BE ou do PS.” Mas todas estas diferenças, vale a pena sublinhar, são muito pequenas (Expresso, texto do jornalista DAVID DINIS)
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