Uma coligação entre PSD e CDS pode resultar numa
situação curiosa. E deixar mais um dilema ao Presidente
1.NÃO ACONTECEU, MAS IA ACONTECENDO E PODE
ACONTECER
Tem havido alguma discussão no PSD sobre se deve
concorrer às legislativas em coligação com outros partidos ou não. Como a
Iniciativa Liberal já se pôs de fora, neste momento, a questão resume-se a
saber se o PSD (eventualmente, com mais algum partido irrelevante como o PPM ou
o MPT) vai coligado com o CDS ou não. Do lado do CDS, é óbvio o interesse:
conseguirem voltar a existir, com a vantagem de nem sequer terem de convencer
algum eleitor — o que seria uma tarefa árdua.
Para o PSD, as contas são simples: o seu
eleitorado está tão habituado a coligações com o CDS que, de certeza, nenhum
eleitor social-democrata deixará de votar numa coligação que os inclua. Um
pouco como os Verdes e o PCP. Adicionar à votação do PSD um ponto percentual de
votos no CDS pode dar-lhe mais um ou outro deputado e, com as vicissitudes do
método de Hondt, poderá ainda buscar mais um ou outro, contribuindo para que
elejam mais deputados do que o PS
Mas a coligação pode gerar uma situação curiosa.
Suponha que a coligação PSD/CDS consegue ter mais três deputados do que o PS e
que o CDS fica com quatro lugares para si. Isso quer dizer que a maior bancada
do Parlamento é a do Partido Socialista, ficando o Partido Social-Democrata em
segundo.
Se pensa que este cenário é implausível, está enganado. Da última vez que PSD e CDS concorreram coligados, em 2015, sob a sigla PàF, tiveram 38,5% dos votos e elegeram 107 deputados; o PS teve 32,3% e elegeu 86; dos 107 deputados da PàF, 18 eram do CDS, ou seja, o PSD ficou com 89, apenas mais três do que o PS. A possibilidade que descrevo no parágrafo anterior esteve à beira de acontecer.
Foi no blogue de Vital Moreira, “Causa Nossa”, que
pela primeira vez li uma defesa da modalidade de coligações light
Numa situação dessas, quem deve o Presidente da
República convidar para formar Governo? A Constituição apenas diz que “o
primeiro-ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos
representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados
eleitorais”, o que é suficientemente ambíguo para não ajudar a responder à
pergunta. Muitos dirão que o que interessa é a soma dos deputados da coligação,
mas a Lei Eleitoral é explícita a dizer que as coligações são desfeitas logo
que se conheçam os resultados eleitorais. Portanto, para todos os efeitos, as
bancadas parlamentares são distintas. Não é nada óbvio quem é que deverá ser
convidado em primeiro lugar para formar Governo, se o líder do PS ou o do PSD.
E não há jurisprudência, porque esta situação nunca aconteceu.
2.PORQUE NÃO COLIGAÇÕES LIGHT?
Ainda dentro das coligações eleitorais,
permitam-me que mude de assunto. Como está a nossa lei, qualquer coligação
eleitoral obriga a que haja uma lista única de deputados e que cada eleitor
perca a autonomia de votar num ou noutro partido da coligação. Mas não tem de
ser assim.
Seria possível haver coligações em que os partidos
concorrem separados, mas que declarem ao Tribunal Constitucional, seguindo os
formalismos atuais, que pretendem que os seus votos se juntem para o apuramento
de resultados. Numa situação destas, no boletim de voto apareceria o CDS e o
PSD em separado, mas, para o apuramento de deputados eleitos, contaria a soma
dos votos nos dois partidos. Depois, a distribuição entre os deputados que cada
partido da coligação elegeria seria proporcional à votação de cada um.
Este sistema tem diversas vantagens. Primeiro,
apesar de coligados, cada partido mantém a sua identidade. Segundo, o eleitor
não tem de se sujeitar à repartição de listas feitas pelos partidos, nas quais,
verdadeiramente, não sabe em quem está a votar. Terceiro, é um sistema que
promove coligações, aumentando a transparência, ficando mais claro que soluções
de governo serão apoiadas por cada partido. Quarto, havendo mais coligações,
diminui o voto útil, dado que deixa de haver incentivo para votar num partido
só porque é o maior. Quinto, diminui o número de votos desperdiçados.
Se fossem possíveis coligações com estas
características, muito provavelmente teríamos uma grande coligação entre PSD,
CDS e IL — repare-se que os problemas da IL em ir coligada com o PSD seriam
mitigados — e uma outra grande coligação à esquerda entre PS, PCP, BE, Verdes e
Livre. Seria muito mais difícil ao novo líder socialista não prestar
esclarecimentos sobre que tipo de apoios procurará para formar governo.
P.S. — Não devendo ficar com créditos que não são
meus, devo dizer que foi no blogue de Vital Moreira, “Causa Nossa”, que pela
primeira vez li uma defesa da modalidade de coligações light (Expresso, texto
de opinião de LUÍS AGUIAR-CONRARIA, com
a devida vénia)
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