Na grelha de partida para a campanha eleitoral, o PS resiste à saída de Costa e a direita aspira à maioria. Após a redistribuição de 17% de indecisos, os socialistas têm mais votos. Mas as vantagens são curtas e tudo está dentro da margem de erro. A queda foi grande para o PS: há dois anos, quando as esquerdas reprovaram o Orçamento de António Costa e Marcelo convocou eleições legislativas, os socialistas partiam com 40% nas intenções de voto numa sondagem publicada em novembro de 2021 pelo Expresso e SIC (e 38% em dezembro). Agora, com a demissão de António Costa e diretas à vista para escolher o novo candidato socialista a primeiro-ministro, o PS recolhe não mais de 30% nas intenções de voto, após redistribuição dos 17% de indecisos.
PROJEÇÃO DA INTENÇÃO DE VOTO COM DISTRIBUIÇÃO DE INDECISOS E EXCLUINDO ABSTENCIONISTAS, COM MARGEM DE ERRO DE 3,5%
Projeção dos resultados do total da amostra, excluindo os que dizem não votar (12%) e após imputação de indecisos (17%). A variação, em pontos percentuais, é relativa aos resultados da última sondagem (outubro de 2023)
A queda é grande, mas o PS continua a ser o partido que mais intenções de voto recolhe neste inquérito feito pelo ICS-ISCTE. Com dois boletins de voto diferentes entregues aos 803 inquiridos, um com o nome de Pedro Nuno Santos, o outro com o nome de José Luís Carneiro, o facto é que 91% dos inquiridos declararam a mesma intenção de voto nos dois cenários, revelando que os inquiridos foram insensíveis à variação na futura liderança do PS. O reverso da medalha? Qualquer dos dois parte com ligeira vantagem face ao PSD de Luís Montenegro.
Isso mesmo confirma-se antes da distribuição dos 17% de indecisos: o PS tem 22% das intenções de voto, mais 4 pontos percentuais do que o PSD. A ponderação daqueles indecisos permite estimar uma vantagem semelhante, de 3% a 5% entre os dois partidos. Em concreto: 30% para o PS contra 25% do PSD (cenário com José Luís Carneiro); 29% para o PS contra 26% do PSD (cenário com Pedro Nuno Santos). A aparente vantagem de José Luís Carneiro está dentro da margem de erro de 3,5% da sondagem, pelo que a equipa do ICS-ISCTE considera que não tem significância estatística.
De resto, nem a vantagem de PS para PSD é especialmente relevante por agora: se considerarmos a margem de erro, a votação máxima estimada para PSD é superior à mínima de PS (29,5% para 25,5%). Será muito cedo para celebrações em qualquer das sedes dos dois maiores partidos, até por representarem estimativas inferiores aos resultados de 2022.
Mais razões para sorrir tem, por agora, o Chega: o partido parte com 11% das intenções de voto diretas, 15% após redistribuição de indecisos. É mais do dobro do que registava a um mês das últimas legislativas (onde já tinha crescido de 1 para 12 deputados) e está 2 pontos acima de setembro último.
Na terceira linha partidária, a disputa é mais intensa. Neste retrato, Iniciativa Liberal e Bloco de Esquerda aparecem empatados — com 4% das intenções de voto, 5% a 6% após ponderação. São ligeiras subidas nos dois, se comparadas com a sondagem pré-legislativas de 2022 e com os resultados dessas eleições (IL teve 4,9% e BE 4,4%).
Só depois aparecem CDU (3% a 4% nesta sondagem, ligeiramente maior se o candidato do PS for Pedro Nuno Santos), PAN (3%), CDS e Livre (que estarão entre 1% e 2%). Nestes últimos casos, um fator importante para determinar o número de deputados será a distribuição de votos pelos círculos eleitorais — recorde-se que tanto PAN como Livre tiveram menos votos do que CDS, mas cada um elegeu um deputado por terem mais votos concentrados em Lisboa.
Maiorias? Talvez nenhuma
Numa corrida eleitoral mais marcada pela procura de maiorias, a sondagem Expresso-SIC indica que a direita parte à frente e que uma nova ‘geringonça’ sai em desvantagem. Mas, contas feitas, a vantagem na grelha de partida para a pré-campanha é mais curta do que pode parecer.
Os resultados em bruto apontam para 34% de votos à direita face a 31%/32% de votos concentrados à esquerda. E, após a redistribuição de indecisos, a vantagem passa de 48% para 43%. Vale a pena sublinhar: com 17% de eleitores indecisos, ainda com três meses de campanha pela frente, os 5 pontos não podem ser encarados como uma vantagem definitiva. Muito pode mudar nas intenções de voto e até esta vantagem está bem dentro da margem de erro da sondagem.
Acresce que, à direita, o cenário é mais difícil ainda — e pode levar a um paradoxo: sem contar com Chega, os restantes partidos (PSD, IL e CDS) só conseguem aglutinar 33% dos votos já com a distribuição de indecisos, o que é, neste retrato, menos do que PS, Bloco e PCP juntos (teriam neste caso 38% ou 39%). De resto, o paradoxo também existe à esquerda: se estes fossem os resultados das legislativas, o PS seria o partido mais votado, mas as bancadas à direita teriam mais deputados. E descontando o Chega? Bem, aí não haveria maioria possível de 116 deputados sem um entendimento ao centro.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 18 e 27 de novembro de 2023. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do Iscte - Instituto Universitário de Lisboa (Iscte- IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução (3 grupos), Região (5 Regiões NUTII) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados aleatoriamente 89 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 3163 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 803 entrevistas válidas (taxa de resposta de 25%, taxa de cooperação de 34%). O trabalho de campo foi realizado por 40 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 803 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. As percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas David Dinis e Sofia Miguel Rosa)
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