A Inteligência Artificial (IA) veio abrir toda uma
nova vasta gama de possibilidades no mundo da tecnologia, mas da mesma forma
trouxe uma série de ameaças. No que respeita a automatismos de criação de ‘fake
news’ (notícias falsas, desinformação), regista-se uma crescimento explosivo de
conteúdo online que tem uma fachada semelhante a artigos factuais, mas que, em
vez disso, dissemina informações falsas sobre eleições, desastres naturais,
guerras, líderes políticos, ou outros temas.
O fenómeno tem ganho proporções alarmantes nos últimos meses. Segundo dados da NewsGuard, uma organização que acompanha os fenómenos de desinformação e Fake News nos EUA, os sites com artigos falsos criados por IA aumentaram 1000% desde maio deste anos, de 49 para mais de 600. O Washington Post assinala vários casos, como uma história que acabou por se tornar viral, sobre o psiquiatra de Banjamin Netanyahu, que alegadamente teria morrido e deixado uma nota sobre o envolvimento do primeiro-ministro. Trata-se de uma notícia falsa, criada por inteligência artificial, mas que ganhou tração nas redes sociais e sites de notícias em árabe, inglês e indonésio, e até apareceu como peça noticiosa num programa de televisão no Irão.
“Alguns desses sites geram centenas, senão
milhares de artigos por dia. É por isso que lhe chamamos [à IA], o próximo
grande disseminador de desinformação”, disse Jack Brewster, investigador da
NewsGuard ao jornal norte-americano.
Os casos multiplicam-se em todo o mundo, também
com clonagens de imagem e voz, que replicam conteúdo com pessoas ‘de carne e
osso’. Pivots de notícias chinesas fabricadas por IA, políticos eslovacos com
vozes copiadas e manipuladas para os porem a fazer declarações que nunca foram
realmente proferidas. Os nomes dos sites, continua o Washington Post, assumem
nomes que parecem fidedignos como ‘iBusiness Day’, ‘Global Vilage Space’ ou
‘Ireland Top News’. Alguns até misturam artigos reais, com peças de opinião de
figuras reconhecidas, com outros falsos.
Com uma série de eleições em todo o mundo (em
Portugal, na Europa, na Rússia, nos EUA,…), a ameaça das ‘fake news’ e dos
‘deep fakes’ é ainda mais real e agravada.
Há pessoas que simplesmente não têm conhecimento
dos media o suficiente para saber o que é verdadeiro e o que é falso”, avisa
Jeffrey Blevins, especialista em desinformação e professor de jornalismo na
Universidade de Cincinnati.
Os sites de desinformação funcionam de duas
formas. As histórias podem ser criadas manualmente, sendo que depois são
pedidos aos chatbots artigos que ampliem uma narrativa política enviesada de
determinada forma, e o resultado é publicado no site, e depois replicado
noutros.
O processo pode também funcionar automaticamente,
com filtros com base em IA a procurarem artigos com determinadas
palavras-chave, e depois criando e alimentando essas histórias com determinado
modelo de linguagem, para parecerem únicas, diferentes, e para evitar acusações
de plágio. Os resultados são depois publicados automaticamente em várias
plataformas.
à medida que os algoritmos vão ficando mais
sofisticados, o risco é maior. “É uma guerra de desinformação numa escala que
nunca vimos antes”, sumariza Blevin.
Os próximos meses deverão ser de alguma desconfiança, aconselha o especialista. para além de avisar “as pessoas para os sites que podem haver por aí”, o docente universitário recomenda que se tenha atenção a sinais de alerta, como “gramática muito estranha”, ou “erros na construção de frases” nos artigos, em plataformas ou jornais de origem duvidosa (Executive Digest, texto do jornalista Pedro Zagacho Goncalves)
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