Alguns
dos grandes problemas do PSD e de Montenegro, e que os condicionam fortemente, estão
facilmente identificados: por um lado a incapacidade de percepção do que
realmente se passa e por outro a incapacidade deste PSD de Montenegro em
desligar-se do legado passista, que hipocritamente tanto reclama, mas que foi a
causa do PSD estar hoje numa penosa travessia do deserto da qual ainda não
criou condições para sair. Eu entendo, primeiro aspecto, que Montenegro tenha dificuldade em lidar
com esse tempo recente - estamos a falar da Legislatura 2011-2015 - não só
porque foi um dos protagonistas com
maior visibilidade nesse tempo para esquecer e alimentador de um discurso parlamentar radicalizado em São
Bento (ele era o líder do PSD na Assembleia da República que perseguiu
deputados social-democratas da Madeira só porque não votaram a favor de
orçamentos de Estado que deliberadamente penalizavam a Madeira no quadro de um
ajuste de contas político entre Passos/Gaspar e Alberto João Jardim, na altura
com cumplicidades locais bem identificadas).
Um
segundo aspecto tem a ver com o facto de, no plano nacional, uma coligação
pré-eleitoral PSD-CDS ressuscitar fantasmas adormecidos passíveis de assustar e
afastar um significativo número de eleitores - reconhecidamente a base
eleitoral do PS de Costa - sobretudo os pensionistas e muitos funcionários
públicos, que foram os grandes sacrificados com as políticas restritivas e
fundamentalistas do governo de Passos e de Portas, mesmo que vigiados pela
troika que a direita tentou ultrapassar, ultrapassou mesmo, no radicalismo das
medidas aprovadas e que tanto se vangloriou disso.
Terceiro aspecto não menos importante, tem a ver com a lenga-lenga em torno das contas
certas. Em 2011 foi um governo socialista, de Sócrates e Teixeira dos Santos,
que faliu o pais e obrigou Portugal a mendigar ajuda externa urgente para poder
cumprir compromissos assumidos trazendo a troika de volta a Lisboa - a troika
que também tinha estado duas vezes antes de Sócrates, ambas consequência do
descalabro da governação socialista, uma das quais personificada por Mário
Soares.
O
problema é que, devidamente comprovado por instâncias internacionais
independentes, a gestão deste governo de Costa caracterizou-se pela devolução
de rendimentos, por alguma redução da carga fiscal e pela manutenção das contas
públicas, incluindo o nível de endividamento do pais, dentro dos limites
exigidos pela UE, pelo BCE e pelo FMI e demais instituições financeiras,
incluindo as agências de rating. Não creio que o PSD de Montenegro ou o CDS de
Melo tenham a veleidade de achar que os eleitores portugueses vão acreditar num
discurso contrário a tudo isto por parte do PSD e da bengala insignificante
CDS e não naqueles organismos internacionais. Patético!
Ou seja, se não mudarem o discurso político que os marcaram, nestas eleições de Março de 2024, se não estabelecerem linhas vermelhas, se não definirem prioridades que cativem o interesse e o apoio das pessoas, se forem capazes, finalmente, de encontrarem os pilares renovados e essenciais de um discurso político remodelado, realista, credível e adaptado aos factos e à realidade e não refém de uma ficção ridícula, se mantiver o mesmo caminho que desde 2015 não ajuda o PSD que não consegue construir esse novo cartão de visita junto dos eleitores, a derrota nas urnas pode muito bem ser ainda pior do que foi no passado recente.
E finalmente, por favor não se deixem manipular, inclusivamente por alguns meios de comunicação transformados em vuvuzelas de papagaios isolados que fazem a apologia de insignificantes bengalas, apenas porque querem ver o PSD de novo metido em trabalhos, sem sair dos cuidados intensivos em que se encontra. Essas ratazanas têm uma estratégia pessoal, têm propósitos corporativistas, e para eles quanto pior estiver o PSD, melhor. As coligações. Montenegro, sobretudo quando não são mais-valia nenhuma num sistema eleitoral que não assenta um círculo único, revelam fragilidade, medo das urnas e das escolhas livres dos portugueses, reconhecimento da incapacidade em ganharem sozinhos eleições. Se o PS as tem ganho sozinho, até com maioria absoluta, o que impede o PSD de o fazer também, como no passado?! Afinal o PSD, sozinho, tem ou não o apoio dos portugueses? Se não têm então que promova a refundação, que mude tudo, que se renove 1000 por cento mas não tenha medo das urnas, de enfrentar as escolhas livres das pessoas, de mostrar o que vale e quanto vale. Um PSD que precisa de bengalas insignificantes corre o risco de prejudicar diálogos posteriores. A Madeira, este ano, não serviu de exemplo? Coligação qual carapuça, menos votos, menos mandatos, isso sim. Não fosse o PAN e tudo tinha ido de cana, com novas eleições. E se porventura o PSD-Madeira se sentir ameaçado, chantageado, pressionado, usado, se ficar refém seja do que for e de quem for, então vamos para eleições antecipadas sem, medo com dignidade, com história, com património, com novos horizontes, com renovação e as mudanças que tiverem que ser feitas. E logo veremos o desfecho, sem truques, sem fragilidades assumidas, sem medo das urnas. O PSD-Madeira, ao contrário de outros não é um partido a se definhar.
É isto tudo que Montenegro tem que entender, mas não é capaz disso, porque continua amarrado ao passado e a saudosismos que representaram o princípio do fim. O PSD precisa, por exemplo, desde Cavaco Silva, ele sequer diz alguma coisa a alguém salvo à mulher que o espera em casa para o jantar? Ridículo. Ele teve o seu tempo, teve o seu lugar, eventualmente deixou um legado que o PSD pode preservar, caso queira. Mas não exageremos. O país é futuro, é caminhar em frente, sem olhar para o passado como se dependêssemos dele ou de alguém. Cavaco alimenta uma vingança pessoal e política com o PS e com Costa por causa da geringonça feita contra sua vontade.
De uma vez por todas Montenegro, os eleitores, naturais e/ou potenciais do PSD, querem saber o que o líder do PSD quer, pensa, diz, propõe, promete, compromete-se, etc, não o que dizem os Cavacos deste mundo mas de outro tempo, sem eles quem forem. Sempre respeitados, obviamente, mas nunca endeusados, muito menos pintados como pretensas referências de um partido que tem que saber olhar para a frente, que precisa de olhar em frente, para o futuro, que tem que saber comunicar com as pessoas, que tem que identificar as prioridades das pessoas e não achar que as tretas que algumas elites da treta sentadas à volta de uma mesa atiram para o ar, resolvem tudo. O PSD tem que voltar ao terreno, não para visitas montadas para a comunicação social com o líder rodeado das nomenclaturas dessas localidades que não fazem mais do que são obrigados a fazer. Nada disso, se o PSD precisa de pontes novas para chegar de novo às pessoas, só Montenegro as tem que construir, sem bengalas, sem cedências, sem coligações que fragilizam e instalam a dúvida: afinal o PSD deixou sozinho de ser alternativa e de ganhar eleições?! Que tristeza. O povo mudou muito nos últimos anos e também se farta de políticos (LFM)
Sem comentários:
Enviar um comentário