É louvável que o PSD abra espaço na sua bancada, com os custos internos que isso pode vir a ter, para albergar dois ou mais deputados do CDS. É um alto patrocínio a um velho fiel parceiro que terá, assim, a garantia de voltar ao Parlamento sem um esforço descomunal que lhe seria exigido de outra forma. É uma boa acção natalícia de Luís Montenegro e um presente no sapatinho de Nuno Melo.
Ainda não se sabe em que distritos os centristas integrarão as listas do PSD e há muitos detalhes que só serão finalizados nos próximos tempos, mas esta coligação não é igual a nenhuma outra que alguma vez tenha existido entre os dois partidos para concorrerem a eleições legislativas – e a história é longa e cheia de peripécias, desde a primeira Aliança Democrática (AD), de Francisco Sá Carneiro e Diogo Freitas do Amaral, em 1979, à última, que juntou Pedro Passos Coelho e Paulo Portas sob a sigla Portugal à Frente (PàF), em 2015.
Embora nas anteriores alianças, os dois partidos sempre tenham tido pesos eleitorais distintos, a verdade é que havia um historial de resultados nas urnas que permitia negociar lugares: se o CDS partia de uma base de 15 deputados, sabia que não deveria esperar muito mais do que isso.
Desta vez, com os centristas fora da Assembleia da República desde 2022, a única base de trabalho são as sondagens e a boa vontade dos sociais-democratas. E isso muda tudo. Por força do contexto político actual, esta coligação é menos inspirada nas AD do passado e mais próxima do que tem sido a união entre PCP e PEV debaixo do chapéu da Coligação Democrática Unitária (CDU), na qual os deputados ecologistas mantiveram sempre uma espécie de cordão umbilical que os liga ao partido maior. Mas é assim que funciona uma coligação pré-eleitoral.
A grande vantagem para o CDS — e para a democracia — é regressar ao hemiciclo do Palácio de São Bento. O grande risco é ser engolido pelo abraço de urso do PSD. Nuno Melo, ou quem for eleito, ficará entalado entre o agradecimento profundo aos sociais-democratas e a necessidade de se libertar deles, para se afirmar como líder de um partido cuja agenda faz falta na Assembleia.
Essa tarefa de se distanciar ma non troppo do PSD vai consumir muita energia ao CDS, mas será fundamental para a sua sobrevivência enquanto partido com representação parlamentar. Caso contrário, nunca mais passará de um apêndice (Editorial do Publico, da jornalista Sónia Sapage, com a devida vénia)
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