quarta-feira, agosto 23, 2023

Seca, calor extremo e falta de água: O futuro desolador na Europa chegou décadas antes do que se esperava

No sul de Espanha vivem-se dias difíceis para os agricultores. A seca e a falta de água ameaçam culturas e as colheitas deste ano e já começou a corrida aos recursos hídricos, antecipando a guerra que acabará por se estender a toda a Europa, onde se multiplicam os casos semelhantes. Em Letur, uma das regiões mais áridas da Europa ao longo de séculos, uma rede de valas escavadas na Idade Média foi permitindo o cultivo de tomate, cebola ou oliveira, mas agora a seca ameaça gravemente os agricultores. São mais os de 200 que dependem dos canais depois construídos em 1970, e que conduzem água a partir das muitas represas gigantes espanholas, que estão em níveis mínimos sem precedentes. A zona, outrora potência agrícola está a secar e alguns empresários relatam à Bloomberg temerem que, com a falta de água generalizada, outras explorações vizinhas, mais avançadas tecnologicamente, venham ‘roubar’ os recursos existentes em Letur.

É o antecipar da ‘guerra da água’ que inevitavelmente afetará toda a Europa. “A Espanha é o celeiro da Europa e a falta de água lá, a falta de produção agrícola, é uma questão de sobrevivência”, explica Nathalie Hilmi, economista ambiental do Centre Scientifique do Mónaco. As secas que duram vários anos são especialmente devastadoras, porque não dão tempo a setores, como a agricultura, para recuperar. Espanha e Portugal têm sofrido nos últimos anos com secas severas. As estimativas apontam, em Espanha, para quebra de 50% na produção de azeite e de 60% no trigo e cevada.

Por outro lado, em França choveu mais e espera-se nível alto para as colheitas de trigo, ao mesmo tempo que na Alemanha se registou o março mais chuvoso de 2001, com a precipitação a ameaçar as plantações de cevada e beterraba. À seca, há que adicionar também o fator de um clima menos previsível, devido às alterações climáticas, como obstáculos.

O problema não é que o problema não se esperasse, mas sim que chegou mais rápido do que o esperado. A Europa aqueceu duas vezes mais depressa do que o resto do mundo nos últimos 30 anos, segundo revela a Organização Meteorológica Mundial.

Os impactos económicos foram gigantescos e diversos: problemas na geração de eletricidade, escassez de energia, agravada pela questão da guerra na Ucrânia, e poderão manifestar-se ainda mais, com aumento (maior) do preço dos alimentos, devido às colheitas cada vez mais fracas.

Portugal e Espanha registaram o mês de abril mais quente e seco de sempre, enquanto a neve acumulada nos Alpes, e essencial para fornecimento a França e Itália, está em níveis negativos recorde da última década.

O nível de seca só era esperado regularmente em 2043. “Se nada for feito, esperamos que esse evento ocorra quase todos os anos”, avisa Andrea Toreti, investigador do Centro de Investigação Associada da Comissão Europeia. Em Espanha, o Governo já está a começar a impor limites na utilização de água pelos agricultores, em França também já se tomam medidas, como a proibição de encher piscinas ou de regar jardins. A guerra está já aberta e opõe agricultores, negócios, ativistas ambientais, Governo, lobbyistas e poderes políticos locais.

Pior, para responder aos desafios ao longo do anos, os agricultores espanhóis foram recorrendo a perfuração de poços ilegais: o Greenpeace calcula que existam 1 milhão destes poços em Espanha, não sancionados, e teme-se que se a situação de agrave à medida que a seca e a escassez de água se tornam uma realidade cada vez mais comum (Executive Digest)

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