quarta-feira, agosto 23, 2023

National Geographic: Paul do Mar, um segredo recente


Demorou até o turismo encontrar este recanto madeirense, mas há poucos lugares iguais na Terra. A Madeira é um destino paradisíaco a que nada parece faltar, mas, com excepção dos surfistas, talvez poucos tenham ouvido falar no Paul e no Jardim do Mar, duas pequenas povoações implantadas em plataformas costeiras no extremo ocidental da ilha. É difícil descrever este recanto da costa.

O ar da maresia parece aqui ser celebrado com originalidade, na relação que os habitantes locais parecem ter com o mar. A areia preta e as rochas espalhadas ao acaso conferem dramatismo. Os barcos ondulam suavemente no porto de abrigo e uma antiga chaminé de fábrica evoca a velha indústria de conservas. Daqui também parte o troço do caminho real com destino à Freguesia dos Prazeres, com os seus degraus escavados na pedra, a ascensão da ribeira e o acesso às cascatas antes de estas se precipitarem no mar. Na marginal, uma imponente estátua de bronze com quatro metros de altura foi encomendada pelos pescadores em honra dos que já partiram. Quando o Sol se aproxima do horizonte, sente-se no ar o cheiro a peixe e a lapas grelhadas. Até à construção do longo túnel de acesso, só aqui se chegava a pé pelas veredas íngremes ou por mar. A estrada não segue para lado nenhum e o trânsito é praticamente inexistente. Os turistas são poucos e, na marginal, os moradores passeiam e põem a conversa em dia enquanto as crianças jogam à bola junto do cais.



A meia encosta, algumas casas com assinatura de arquitecto revelam que alguns construíram aqui as suas casas de fim-de-semana, mas a maioria dos edifícios é modesta. Boa parte dos socalcos onde antes se cultivava a cana-de-açúcar está abandonada, mas aqui e acolá subsistem pequenas hortas de subsistência.

A vida no mar é dura e por detrás do ambiente bucólico deste magnífico lugar convém não esquecer que estão o sangue, o suor e as lágrimas de gerações de homens e mulheres que trabalharam aqui arduamente para sustentar as suas famílias.

Quando a noite cai, a maioria da população recolhe a casa, pois há sempre um novo dia de trabalho neste balcão privilegiado com vista para o oceano. No alto da falésia, do Miradouro da Raposeira ou do Miradouro do Precipício, pode ver-se o Paul do Mar de cima e ter a noção de quão perdido no mar ele se encontra (National Geographic, texto do jornalista Mário Rio)

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