quarta-feira, agosto 23, 2023

Opinião alheia: "A economia chinesa vive um “julho horrível”

Com os mercados bolsistas agitados em Xangai e Shenzhen e os indicadores económicos em julho a contrariarem o otimismo inicial, o banco central, em Pequim, está a cortar nos juros

1 - A economia chinesa está em crise?

Não. Foi até a economia do G20 a crescer mais no segundo trimestre deste ano, de acordo com as estimativas já conhecidas para um largo número das maiores economias do mundo. O Produto Interno Bruto cresceu, em termos reais, 6,3% em relação ao período de abril a junho do ano passado. Recorde-se que a zona euro cresceu 0,6% no mesmo período e que a Alemanha registou uma quebra. O problema é que a dinâmica de crescimento da economia chinesa em relação aos três meses anteriores revelou um abrandamento de 2,2% entre janeiro e março, para 0,8% entre abril e junho. Alguns indicadores recentes são mais preocupantes: o crescimento das vendas no retalho abrandou de 3,1% em junho para 2,5% em julho. A produção industrial desacelerou de 4,4% para 3,7% naquele período. O valor das exportações caiu 14,5% em relação a julho de 2022.

2 - A China sofre de um surto inflacionista como a Europa?

Não. Pelo contrário, a economia chinesa entrou em deflação (quebra de preços no consumidor) no mês passado. Foi a primeira vez desde fevereiro de 2021 que os preços caíram. É o único caso atual de deflação entre as economias do G20 e das poucas no mundo com um colapso dos preços em julho, emparelhando com a Arménia, Costa Rica e Seicheles, entre as que já publicaram estimativas. Os preços caíram 0,3% em julho na China, quando na zona euro subiram 5,3%. A inflação na China tinha vindo a descer desde 2,1%, em janeiro, até estagnar em 0% em junho. Não é a primeira vez que o país sofre da doença da deflação. Registou quebra de preços mensais em novembro de 2020 e janeiro e fevereiro de 2021. Em termos anuais, viveu em deflação prolongada em 1998, 1999, 2002 e 2009.

3 - Os mercados financeiros da China estão nervosos?

Sim. O índice bolsista global para a China fornecido pela MSCI (Morgan Stanley Capital International) já perdeu quase 5% desde o final do ano passado. Este índice cobre as 756 principais cotadas nas duas Bolsas chinesas (Xangai e Shenzhen), liderado pelas multinacionais Tencent e Alibaba. Só em agosto, o índice caiu 7,3%. O que está a agitar as Bolsas chinesas é, sobretudo, o que se passa no sector imobiliário do país, de novo na ponta da crise. O foco de atenção é a holding Country Garden, que, a 7 de agosto, falhou o pagamento dos cupões de duas obrigações em dólares. Se continuar por resolver o problema até ao final do mês, entrará em incumprimento. Esta imobiliária anunciou perdas de 7,6 mil milhões de dólares (€7 mil milhões) no primeiro semestre.

4 - O banco central em Pequim já reagiu?

Sim. O Banco Popular da China (PBOC, na sigla em inglês) tem cortado nas taxas diretoras. O desaperto da política monetária vem desde setembro de 2019, quando a taxa principal estava em 4,2%. Ao contrário da maioria dos bancos centrais das economias desenvolvidas e emergentes, que enfrentam surtos inflacionistas e têm subido os juros. Este ano, o PBOC já fez uma redução da taxa principal de 3,65% para 3,55% em junho. Em operações no mercado esta semana, cortou nos juros dos empréstimos de médio prazo, baixando-os de 2,65% para 2,5%. Já depois disso cortou 10 pontos-base (uma décima) nas taxas overnight a sete e a 30 dias. Louise Loo, economista em Hong Kong da consultora Oxford Economics, disse ao canal de televisão norte-americano CNBC que o banco central está a reagir “a um julho horrível”. São esperados mais cortes de taxas na próxima segunda-feira (Expresso, texto do jornalista JORGE NASCIMENTO RODRIGUES)

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