sábado, agosto 26, 2023

Portugal: Porque crescem tanto as rendas?

Lisboa foi a cidade em que as rendas dos imóveis melhor situados mais cresceram no primeiro semestre de 2023, num conjunto de 30 cidades analisadas a nível mundial pela consultora Savills. O estudo dá conta de um crescimento de 13,9% nos preços das rendas prime na capital, o maior de qualquer cidade europeia e apenas seguido de perto por Singapura (13,6%). A capital portuguesa é também a que registou a maior subida anual (ver gráfico). Os dados desta consultora especializada em imóveis de luxo — cujos valores de rendas mensais propostos em Portugal vão de 1850 euros por um estúdio até aos 10 mil euros por um apartamento num edifício histórico —, foram publicados em julho, e na altura divulgados pelo Expresso. Mas ganharam força esta semana, por terem sido incluídos num artigo do “Financial Times”.

A subida das rendas é transversal a todos os segmentos de mercado, dizem os analistas contactados pelo Expresso. Argumentam que a falta de oferta reflete também a instabilidade legislativa — que afeta a confiança no mercado — incluindo as novas limitações às rendas trazidas pelo Mais Habitação. Para trás, fica um período de taxas de juro baixas que permitiram que fosse mais barato comprar do que arrendar.

“A oferta de arrendamento que existe é mínima seja qual for o segmento de mercado e em todas as tipologias”, diz Carlos Vasconcellos, administrador da Quest Capital, empresa de investimento imobiliário que detém o maior portefólio residencial em Portugal, com mais de 3 mil apartamentos em arrendamento.

Carlos Vasconcellos salienta um “aumento significativo” da procura por parte de estrangeiros para arrendamento de longo prazo. “Neste momento, a pressão da procura leva a que se faça leilão para arrendar”, salienta. Um outro fator relacio­na-se com o Mais Habitação, que levou muitos proprietários a retirar as suas casas do mercado e a vendê-las. “Entenderam que, com tantas limitações e incógnitas, não fazia sentido manter as casas no arrendamento”, afirma.

Uma alusão ao limite de 2% no aumento de rendas dos novos contratos previstos pelo Governo como à perspetiva de novo congelamento da atualização de rendas existentes.

Em 2022, o Governo decidiu fixar a atualização para 2023 em 2%, devido à inflação, quando o previsto na lei — inflação média dos últimos 12 meses — apontava para 5,43%. Para 2024, a atualização legal ficará acima dos 7% — os dados da inflação de agosto serão conhecidos na próxima semana.

Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, destaca que a par da redução de oferta, com o anúncio do “travão” na atualização, os novos contratos subiram logo 10% em meados do trimestre. “No 2º trimestre de 2023, o índice de rendas chegou aos 29,6% em Lisboa”.

Uma tendência em linha com os últimos dados disponibilizados pelo INE para o 1º trimestre, com um aumento de 20,6% das rendas dos novos contratos em Lisboa (€14,50/m2), e de 22,1% no Porto (€11,25/m2).

UMA OUTRA REALIDADE

Diana Ralha, diretora de comunicação da Associação Lisbonense de Proprietários (ALP), reconhece que os preços das rendas estão a aumentar, à semelhança de outros bens, mas salienta que a maioria dos senhorios “não está a praticar preços desajustados, apesar da inflação”.

Lembra que os Censos de 2021 apontam para uma renda média de menos de 400 euros mensais e esclarecem que há mais rendas em Portugal abaixo dos 50 euros do que contratos acima dos 1000 euros. “A renda mediana dos mais de 7000 contratos que a ALP gere pelos seus associados, a esmagadora maioria dos quais na Grande Lisboa, é de cerca de 600 euros”, salienta (Expresso, texto do jornalista HELDER C. MARTINS)

Sem comentários: