quinta-feira, novembro 28, 2019

Isto é ajudar os jovens?

É verdade que os tempos já foram piores e que, no auge da crise, o desemprego entre os mais novos chegou quase aos 40%. Isso já passou mas há estragos que ainda vão demorar a ser reparados. O poder de compra médio dos recém-licenciados caiu 18% desde 2008. Não foram os únicos a perder, pelo contrário, mas perderam bastante. Ao mesmo tempo, o prémio salário das licenciaturas, ou seja, o acréscimo de remuneração para quem estudou, tem igualmente vindo a encolher. E isso tem um duplo problema: não valoriza as qualificações nas empresas e gera ineficiências e, pior, pode dar um sinal errado a quem está a decidir sobre investir na sua educação.
Há 10 anos anos, uma licenciatura valia mais 51% de salário líquido face a quem apenas tinha ficado pelo ensino secundário. Agora são apenas 22%. Se o prémio se tivesse mantido igual, seriam hoje mais 180 euros mensais. Pode parecer pouco mas para níveis salariais relativamente baixos e para jovens em início de vida adulta faz diferença. E pode ser também a distância entre ficar em Portugal ou procurar alternativas no estrangeiro onde a mão-de-obra escasseia e onde as qualificações portuguesas são bastante apreciadas.
Agora, o governo quer contrariar esta tendência. A subida dos salários dos jovens qualificados é uma das prioridades do acordo que o Governo levou à concertação social. Chama-se “Acordo Global sobre Crescimento Económico e Política de Rendimento” e pretende acordar um referencial para os aumentos salariais na negociação colectiva e, para os jovens qualificados, um patamar superior.

Objetivos: eliminar o gap com a Europa no peso dos salários no PIB e melhorar o prémio salarial das licenciaturas. No primeiro caso, passa por fixar um referencial de subida dos salários na negociação coletiva acima da inflação e da produtividade que permita aumentar a fatia dos salários no PIB em quatro pontos, num acordo semelhante ao desenhado por Guterres na década de 90. No segundo caso, passa por determinar um aumento superior para jovens qualificados, a par de outras medidas como maiores valores dos estágios do Instituto de Emprego e Formação Profissional. Curiosamente, nos aumentos para os funcionários públicos, as Finanças ficam-se pela inflação deste ano. E com isso poupam cerca de 230 milhões de euros (Expresso)

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