domingo, novembro 24, 2019

Nota: os deveres da coligação

A coligação PSD-CDS na Madeira, formada para garantir a maioria absoluta dos mandatos parlamentares, fundamental à estabilidade de uma governação, só cai antes do final da Legislatura por culpa própria, de quiser. O resto é conversa. Se a coligação não se fortalecer, se tudo não passar de um mero negócio de conveniência, se não forem engolidos sapos ou elefantes vivos, sempre e quando for necessário, se cederem os interesses gerais aos sonhos, frustrações, ambições pessoais ou de grupos, a ameaça do fracasso e da ruína será mais do que evidente. E nesse caso a oposição não estará condenada a passar 4 anos lamentando-se apenas de não ter ganho o 22 de Setembro, a ser mais do mesmo, sem qualquer mais-valia para ninguém. A instabilidade da coligação permitirá que alguns partidos, antes das autárquicas que vão reforçar os conflitos entre eles - o PS-M depois do 22 de Setembro dificilmente aceitará ser carpete de terceiros ou trampolim para que uns tantos partidos pequenotes tenham a visibilidade que eleitoralmente não têm nem nunca terão - continuem numa auto-flagelação patética na praça pública tentando ainda hoje, o mesmo farão daqui a meses ou anos, identificar os verdadeiros culpados do desaire, um desaire que custou milhões mas que felizmente foram compensados... - e que colocou em causa muitas promessas, dezenas, centenas de promessas, desde compromissos governamentais a distribuição de lugares pelo topo da administração pública.
Ceder a pressões externas ao universo político e social natural da coligação, e por ela garantidamente coberto se marcar o seu mandato pela eficácia e pela justa enumeração das prioridades, será um erro desastroso.
As opiniões emitidas na periferia da coligação, a começar pelas minhas, valem o que valem, não vinculam ninguém a elas, não podem ser entendidas mais do que o desabafo ou a denúncia de um estado de alma, garantidamente assente na frustração política pessoal perante a evolução eleitoral mais recente da tribo que é a nossa. Pior, sem que ninguém esboce sinais de preocupação e sem que a "tribo" se prepare, antecipada e inteligentemente, para o que inevitavelmente acontecerá a curto prazo. Temo que a desvalorização do essencial e o recurso à improvisação não sejam mais do que instrumentos de aceleração de uma potencial degradação ameaçadora.
A questão que se coloca a cada eleitor, melhor dizendo, a cada militante dos parceiros da coligação, é apenas a de saber se, passados os primeiros tempos da "tempestade" pós-eleitoral (porque há sempre derrotados e vencedores e "derrotados" e "vencedores"....) em que a adaptação não tem que ser necessariamente consistente e imediata, existe, melhor, se se mantém preservado o contrato de confiança e se cada militante ou simpatizante do PSD-M e do CDS-M, continua a confiar nos respectivos líderes dos parceiros da coligação.
É nessa lógica que me coloco, embora sem descurar a exigência da liberdade de cada um para, bem ou mal, emitir as suas opiniões e com elas querer transmitir, apenas isso, algo com destinatário perfeitamente identificável. Opinar no abstracto, com base no abstracto, e virado para o abstracto, é obviamente também uma expressão da liberdade opinativa individual, mas reconheçamos que se trata de uma perda de tempo que  pouco ou nada, diria mesmo nada, adianta às pessoas e ao acto de governação em si mesmo e de gestão inteligente de um acordo que não pode ser apenas um casamento de conveniência, mesmo que o seja. Os tempos mudaram que nem esses casamentos de conveniência resistem mais, pelo contrário, são os mais vulneráveis, instáveis e regra geral acabam por ser sempre os primeiros a desmoronar-se. Por isso inteligência, seriedade, sinceridade, rigor político, capacidade de liderança, ética, rigor, coerência, perspectivas da prioridades, recusa de tudo o que se transforme num acto de pressão, manipulação, vergonha, chantagem, etc. Isso são os pequenos cancros de uma qualquer coligação partidária na certeza de que a alternativa a esta coligação - escrevam, porque vou repetir - a alternativa a esta coligação, se falhar por incompetência mútua, nunca será a mesma coligação. Porque caso ela falhe, estarão os dois parceiros condenados a uma humilhante e penosa travessia no deserto que nem sei como e quando dela sairão. Basta que olhem à insignificância do CDS nos Açores, hoje a braços com divergências internas acentuadas, e sobretudo ao que sucedeu ao PSD-Açores que viu passar durante décadas um desfile de gente "importante", de lideranças fabricadas nos médias, mas que depois, pouco ou nada disseram aos eleitores, que é o mesmo que dizer, não tiveram qualquer capacidade de afirmação social e de ganhar eleições construindo uma alternativa coerente e forte.
É esse pesadelo que marca o PSD-Açores e que devia servir, deve servir, de referência ou de lição aos demais partidos da Madeira. Pensem nisso.
Agora, depois de discutido e aprovado o programa de governo - que no fundo não passa de um manual de intenções para 4 anos, como qualquer programa de governo é - vamos passar ao primeiro orçamento regional (2020), onde tudo passa da teoria  à prática e onde, mais do que na elaboração do programa de governo, a articulação inteligente e pragmática dos dois parceiros da coligação tem que ser ainda mais fortalecida. É por via dos orçamentos que as pessoas começam realmente a perceber o que pretende a coligação fazer, até onde e como é que a vida das pessoas e das famílias vai melhorar, como é que as empresas terão condições para assumirem o seu papel social que não se pode resumir à tentativa de acumulação de lucros sem investimento e sem criação de riqueza. E sem justiça para com quem para elas trabalha (LFM)



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