quarta-feira, outubro 14, 2015

Mania de escrever: a propósito desta trapalhada toda em que nos encontramos e o retrato para perceberem melhor este "puzzle"

Passos Coelho cometeu uma série de erros políticos graves na gestão desta crise política.
Mas vamos a factos, antes de tudo, para enquadrar melhor o que está em causa:
- Em 2011, PSD e CDS elegeram 129 deputados (mais 3 da emigração), totalizaram 2.798.487 votos correspondentes a 50,4% dos votantes;
- Em 2015,  PSD e CDS elegeram 104 deputados (não estão contabilizados os da emigração) somaram 2.062.513 votos correspondentes a 38,3% dos votantes.
- Estamos a falar, entre 2011 e 2015, de uma perda potencial de 22 a 23 deputados, menos 735.974 votos e menos 12,03% dos votos.
- Em 2011, a esquerda parlamentar (PS, PCP e Bloco) elegeu 97 deputados e totalizou 2.287.378 votos correspondentes a 41,2% dos votantes;
- Em 2015,  a esquerda parlamentar tem 121 deputados (faltam os mandatos a emigração) e totaliza neste momento  2.736.845 votos correspondentes a 50,87% dos votantes.
- Ou seja, estamos a falar, entre 2011 e 2015, de um aumento de 449.467 votos, de mais 24 mandatos (sem contar com a emigração) e de um aumento de 9,69% da votação.
Para que exista maioria absoluta na Assembleia da República são necessários 126 deputados (total de 230 mandatos), total que a coligação PSD-CDS nunca obterá mas que a esquerda parlamentar unida já supera (121 lugares) mesmo sem considerar os eleitos pela emigração.
A aposta da coligação foi a de jogar tudo por tudo num entendimento com o PS. Mas fez muito pouco por isso, dando a ideia de que tudo continuaria na mesma, salvo uns retoques ali e acolá, apesar da banhada eleitoral sofrida. Mesmo que tenha sido a mais votada - aliás foi por ter sido constituída a coligação que PSD e CDS tiveram mais votos nestas legislativas - a coligação refugiou-se no pedantismo, no convencimento e na prosápia do costume, sem ter percebido que provavelmente estaria a cavar a sua sepultura. Digamos que a coligação precisava de ser aquele "passarito" que todos sabemos que voa sim senhor, mas que precisa de voar bem rasteirinho sob pena de se espatifar contra um muro sem dar-se de conta.
Legitimidade da solução porventura desejada por Costa, de um governo do PS com apoio parlamentar do PCP e do Bloco, sem que estes partidos indiquem ministros ou outros membros do gabinete, do qual poderão fazer parte contudo personalidades independentes (sem filiação partidária efectiva) escolhidas por Costa mas aceites e respeitadas por comunistas e bloquistas? De facto são imensos os argumentos.
O nosso problema é que em Portugal isso nunca aconteceu.  Sucede que temos que nos preparar para situações deste género. Recordo que as últimas eleições regionais na Madeira, em Março deste ano, alertei para a possibilidade do PSD, caso não tivesse a maioria absoluta que veio a conseguir por um deputado apenas, ser ultrapassado por um governo de coligação, negociado pelos partidos da oposição que estabeleceriam entre si pactos políticos com incidência parlamentar, embora de viabilidade dificultada dada a lei eleitoral vigente. Lembram-se disso? Disse e repeti vezes sem conta, porque desconfiava que tudo se decidiria por uma unha negra.  Nessa altura recordei uma situação que por exemplo ocorreu em Canárias, numa das últimas eleições regionais, em que os partidos mais votados (aconteceu com PP e PSOE) acabaram por ser preteridos por um governo negociado entre o 2º e o 3º partido. O Presidente do Governo na anterior legislatura regional, bem como o Presidente do Parlamento canário, pertenciam ao 3º partido (Coligação Canária, de nacionalistas separatistas). A legislatura chegou ao fim apesar de várias situações de divergências.
Não me pronunciou, mas entendo as insinuações sobre a legitimidade política e a ética de Costa e do PS, tal como não me pronunciou sobre  a legitimidade de alguém que obteve menos de 40% dos votos e ter perdido mais de 700 mil votos e ficar sem maioria absoluta se achar no direito de governar arrastando debaixo da asa o PS que foi o alvo preferencial de PSD e CDS durante toda a campanha. Aliás mutuamente, diga-se em abono da verdade.
O que é que aconteceu em Portugal para estarmos envolvidos nesta trapalhada toda, numa espécie de bloqueio ou ameaça disso? Simplesmente isto: PSD, CDS, Passos, Portas, Cavaco, Costa e o PS nunca admitiram o resultado que surpreendentemente o Bloco de Esquerda acabou por obter, particularmente a eleição de 19 deputados que vieram "lixar" isto tudo.

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