O aumento dos receios em relação à situação do Banif - depois do nome do banco ter sido publicamente referido nas conversações entre PSD e PS como um potencial problema para as contas públicas - faz crescer as dúvidas sobre o "timing" para a reprivatização do banco e atira o valor dos seus títulos para mínimos históricos.
Depois de a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, ter garantido, num comunicado do PSD, que não foram transmitidas nas reuniões com o PS nenhumas informações "passíveis de gerar alarme público" sobre a privatização da TAP e a investigação de Bruxelas ao Banif, os analistas contactados pelo Económico acreditam que o tema ainda não está resolvido, gerando preocupações nos investidores.
"O Banif continua a ser fortemente penalizado depois das declarações de Maria Luís Albuquerque, no passado fim de semana", refere ao Económico Pedro Ricardo Santos, gestor da XTB.
"O discurso da ainda ministra das Finanças lembrou a investigação actualmente em curso, por parte da Comissão Europeia, a respeito da aprovação do plano de reestruturação do banco", frisa, lembrando que o Estado Português injectou, em 2013, mais de mil milhões de euros no banco, "assumindo assim o controlo da instituição".
A contraciclo com o comportamento do sector nos últimos dias, "o Banif recuou, com os investidores a demonstrarem receio com eventuais notícias negativas que possam ser publicadas sobre o Banif. A TAP foi também mencionada, mas, não sendo cotada em bolsa, a pressão vendedora concentrou-se inteiramente no Banif", destaca Steven Santos.
As acções do Banif estão em mínimos históricos de 0,31 cêntimos, segunda-feira depois das declarações da ministra das Finanças no sábado, os títulos do banco registaram a maior queda do PSI 20 ao desvalorizar mais de 6% e hoje já esteve a afundar 9%.
Os títulos do banco já caíram mais de 10% desde as eleições, "o que é significativo", refere Steven Santos, analista do BiG. Será o novo Governo a ditar o futuro do banco.
"As quedas da cotação reflectem o desânimo dos investidores, que começam a vender as suas posições, com receio de que a investigação venha a detectar irregularidades que comprometam, no curto-prazo, a reprivatização total do capital do banco", diz Pedro Ricardo Santos.
"As declarações de Maria Luísa Albuquerque serviram para frisar que este assunto está ainda longe de ser concluído", avisa.
O Banif tem sido castigado pelo enquadramento político. "Com os partidos da coligação a quererem afirmar-se no próximo governo e não havendo ainda governo formado, a actual turbulência política está a penalizar o Banif, que foi recapitalizado e reestruturado no contexto de estabilidade governativa existente no anterior mandato", diz Steven Santos.
A venda dos 60,53% nas mãos do Estado está em cima da mesa. A decisão caberá ao novo Governo mas solucionaria a questão das alegadas ajudas de Estado e a investigação de Bruxelas.
O primeiro comunicado divulgado pela ministra das Finanças não especificava empresas mas, duas horas depois, uma actualização referia-se especificamente à TAP e Banif.
Além das declarações da ministra das Finanças sobre a TAP e o Banif, o banco está sob investigação aprofundada da Direcção-Geral da Concorrência, em Bruxelas, sobre alegadas ajudas de Estado devido ao apoio de 1.100 milhões de euros, sendo 400 milhões em CoCo's (capital contingente) e 700 milhões de euros em capital. A investigação arrancou em Julho, depois do Banif ter falhado os prazos de reembolso de 125 milhões de euros.
"As recentes notícias que dão conta da investigação pelas autoridades europeias podem adiar a venda do banco liderado por Jorge Tomé e, por consequência, a saída do Estado do capital da instituição", diz Pedro Ricardo Santos.
'Stress tests' podem levar a novo aumento de capital?
As dificuldades do Banif também podem, contudo, ter outras origens. "O Banif teve um desempenho notável nos últimos anos ao cortar custos e tornar o banco mais eficiente. Contudo, esse exercício não se provou ser suficiente para atrair o capital necessário para devolver atempadamente ao Estado a totalidade dos Coco's e para ter independência de reorientar estrategicamente o seu negócio", defende João Pereira Santos, director de investimento do Banco Carregosa.
Com a entrada do Estado no capital do banco "o objectivo passaria pela venda da posição estatal, o mais rapidamente possível. Ora, essa urgência, levou os preços dos activos a disparar mais de 9% numa só sessão, antes do início do último Verão", lembra Pedro Ricardo Santos.
"Essa é a maior dificuldade do banco: encontrar uma nova orientação estratégica que o permita diferenciar-se da concorrência e rentabilizar as operações no Continente, já que a operação nas Ilhas é rentável", acrescenta João Pereira Santos, lembrando que já em Novembro os novos ‘stress tests' podem identificar necessidades de aumento de capital.
"Levanta-se a questão de saber quem é que vai capitalizar o banco", refere o director de investimento do Banco Carregosa.O Banif já sofreu dois aumentos de capital, onde os accionistas perderam mais de 65%. "Tudo indica que a solução mais adequada seria encontrar um accionista estratégico que injectasse capital e desse tempo e condições para reinventar o seu modelo de negócio", conclui João Pereira Santos (texto da jornalista do Económico, Cátia Simões)
Sem comentários:
Enviar um comentário