No último filme que chegou às salas de cinema, Robert de Niro é-nos apresentado como um estagiário que, farto de estar sozinho, desocupado e reformado, aceita ser o faz-tudo de uma jovem empreendedora dona de uma empresa de vendas na internet. Porque é feito para o cinema, quase tudo é bom e bonito e acaba em bem. Na vida real, um caso assim não seria tão simples, traria dificuldades e impedimentos, mas o pior (partindo do princípio que não se tratava de alguém qu simplesmente não conseguia encontrar emprego para as suas capacidades e nível salarial e decidira contentar-se com o que lhe aparecera) de tudo seria mesmo o preconceito.
Quantos de nós veriam com bons olhos estar no lugar de Robert de Niro ou o aceitariam como colega? Ou, sendo um profissional mais experiente, como encarava o facto de lhe apresentarem um fedelho como chefe?
Mesmo que a idade já não seja um posto, ainda há algum complexo na forma como olhamos uma relação de trabalho em que o lugar superior é ocupado por alguém mais novo.
Por cá, uma pessoa que chega à liderança de uma empresa pouco depois de apagar 30 velas no bolo de anos não é vista como alguém especial, com excecionais capacidades de liderança, conhecimento e talento, mas antes com malícia – é com certeza o filho de alguém importante ou dormiu com alguém para ali chegar tão depressa ou simplesmente tinha uma cunha invejável. E frequentemente é difícil fazer-se respeitar.
A perceção de que é essa a ideia generalizada – e sobretudo da dificuldade de ver num jovem um líder – afasta, muitas vezes, os decisores de optarem pela solução mais justa na hora de promover alguém. “É um excelente profissional, merecia imenso, mas é demasiado novo.” Desde quando é que a idade é um impedimento? Se há trabalho, talento e sensatez, não há razão para que não seja considerado para o lugar – afastá-lo, aliás, poderá trazer desconforto, insegurança, desânimo e deixar em cacos uma carreira prometedora.
Mas o complexo da idade também funciona ao contrário: uma fatia considerável de profissionais considera que já não tem idade para desempenhar determinados cargos. Um estagiário com mais de 60 anos, por exemplo, é uma ideia bizarra – que impede quer as pessoas de se candidatarem a lugares menos sofisticados, mas onde sabem que seriam muito felizes, quer as empresas de ousarem dar resposta àquelas que têm a coragem de se candidatar. “Qualificações em excesso” é o argumento mais comum. Mas quem disse que aquele ex-diretor de empresa não quer voltar a uma posição onde pode meter as mãos na massa.
Cofundador do grupo Euro RSCG, aos 73 anos, reformado há seis, Manuel Peres voltou ao ativo em 2013, para ser o novo craft master da agência BAR. Com mais de 50 anos de experiência, o publicitário ensinou muito, aprendeu também, divertiu-se muito e produziu muito. E até recebeu um Prémio Carreira. E já este ano, arrumou as malas e voltou à reforma. A BAR modificou-se com a sua passagem e ele rejuvenesceu com estes dois anos de volta ao ativo, ao que mais gostava de fazer.
O caso de Manuel Peres, infelizmente, é ainda uma exceção num quadro em que as carreiras se constroem em estreita ligação de proporcionalidade com a idade. É uma barreira que quer as empresas quer os profissionais – que lideram ou que recebem indicações – teriam muito a ganhar se fosse ultrapassada (texto da jornalista Joana Petiz, Subdirectora do Diário de Notícias, com a devida vénia)
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