segunda-feira, outubro 19, 2015

Mania de escrever: a lição que Berta não aprendeu e prejudicou o PSD-Açores duas vezes

Quando ganhou a Câmara Municipal de Ponta Delgada - creio que foi a primeira mulher a ganhar nos Açores uma das principais autarquias - Berta Cabral começou a insinuar-se para voos mais altos, sobretudo num  PSD local que depois da saída de Mota  Amaral, tinha ficado encostado às boxes (continua pelos vistos), somando derrota atrás de derrota.
Nas eleições regionais de 2012 - longe de constituírem o melhor teste político e eleitoral para ela - Berta chegou a ter entre 9 a 11 pontos de vantagem (pelas sondagens) sobre os socialistas. Depois cometei o erro político gravíssimo, de se "encostar" excessivamente a Passos exactamente no final do ano em que o pico da austeridade foi maior e maior foi o impacto dessa austeridade na vida das pessoas. A submissão absurda de Berta relativamente a Passos, arrastando o PSD dos Açores para uma ideia de partido submisso e domado por Lisboa, valeu a Berta uma derrota copiosa levando-a a apresentar a demissão. A gravidade da derrota foi tanto maior quando é sabido que o PS prescindiu de recandidatar Carlos César, por opção deste - César que desde a saída de Mota Amaral chefiou o governo regional sempre com maioria absoluta a favor dos socialistas - e avançou com Vasco Cordeiro um discreto nº 2 do antigo líder socialista que rapidamente assumiu a liderança do PS e não teve dificuldade de maior em derrotar Berta. Mas ela não se retirou da arena, nem deixou de ser uma olhada como uma espécie de "lambe-botas" do "passismo" e de Passos.
Algum tempo depois de derrotada e de ter sido afastada do PSD açoriano, Berta - provavelmente porque os Açores albergam a Base das Lajes - foi convidada, imagine-se só, para o cargo de secretária de estado da defesa, tacho que foi  então visto como uma recompensa de Passos pela fidelidade quase canina de Berta, e o reconhecimento, subtil e hábil,de que foi ele o coveiro do PSD dos Açores e da própria Berta. Algo que ela nunca teve a dignidade de reconhecer e de assumir os seus erros políticos absolutamente infantis e inaceitáveis, atendendo a tudo o que esteve em jogo nas regionais de 2012 e pela oportunidade que o PSD teve então para inverter o ciclo político na Região.
Desacreditada por essa absurda submissão, que muitos nos Açores não compreenderam e aceitaram, Berta colou-se definitivamente ao "passismo". E, não satisfeita, mexeu agora os cordelinhos, com Passos a fazer coro, para ser ela a cabeça-de-lista às legislativas, justificação que assentou apenas, presume-se, no facto de ser secretária de estado, já que nem integra a direcção social-democrata dos Açores.
Esta imposição de Lisboa ditou o afastamento, à bruta, de Mota Amaral que se queixou de ter sido informado pelos jornais da sua saída das listas, apesar de ter sido também perceptível, incompreensivelmente, a força feita pelo ex-Presidente do Governo Regional e ex-Presidente da Assembleia da República para voltar a ser candidato. Pelo menos quanto a isso Mota Amaral teve a dignidade não de jogar nos bastidores da política, mas de assumir claramente e com todas as letras esse seu desejo. Claro que ao ter entrado algumas vezes em colisão com o grupo parlamentar em Lisboa e mesmo com as opções de Passos, valendo-lhe alguns processos disciplinares (!) Mota  Amaral passou a ser uma carta fora do baralho, já que os ocupantes do poder social-democrata em Lisboa nunca aceitariam a sua continuidade.
O que é que aconteceu afinal?
Mais uma derrota pessoal de Berta Cabral - que pensamos deverá ser a última pois só se não tiver um pingo de vergonha na cara é que andará a tentar saltitar de poleiro em poleiro, lei-se de tacho em tacho - que levou o PSD a perder um deputado pelos Açores e a perder quase 9 mil votos contra os quase 15 mil ganhos pelo PS. O CDS perdeu um pouco mais de 7 mil.
Vejamos a evolução dos indicadores eleitorais nos Açores:
Autárquicas-2013
Abstenção: 104.053 eleitores, 46%
PS - 57.306 votos, 46,9%
PSD - 38.149 votos, 31,2%
CDS - 3.205 votos, 2,6%
Nota: considerar ainda 7.810 votos, 6,4% na coligação PSD/CDS/PPM e mais 2.576 votos, 2,2% na coligação PSD/PPM.
Legislativas-2011
Abstenção: 131.900 eleitores, 59,4%
PS - 23.195 votos, 25,7% (2 deputados)
PSD - 42.784 votos, 47,4% (3 deputados)
CDS - 10.944 votos, 12,1%
Regionais-2012
Abstenção: 117.371 eleitores, 52,1%
PS - 52.827 votos, 49% (31 deputados)
PSD - 35.572 votos, 33% (20 deputados)
CDS - 6.110 votos, 5,7% (3 deputados)
Nota: a Assembleia Legislativa dos Açores tem 57 deputados, pelo que o PS obteve a maioria absoluta.
Legislativas-2015
Abstenção: 133.743 eleitores, 58,8%
PS - 37.869 votos, 40,4% (3 deputados)
PSD - 33.836 votos, 36,1% (2 deputados)
CDS - 3.654 votos, 3,9%

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