domingo, julho 10, 2022

Nota: não, o caminho não pode nem deve ser esse


Eis-nos perante ameaças (ou insinuações) de recurso a expulsões de militantes de um partido, que é o mesmo que dizer a falta de respeito pela liberdade diferenciada de opiniões e pensamentos. Um regresso a tempos recentes em que se passava rigorosamente o mesmo, em que pedidos de expulsão acabaram no fundo de gavetas, sem nunca se terem concretizado, o que provavelmente o que permitiu cenários posteriores.

Enquanto militante 101 do PSD-M, desde 1974 para ser mais concreto, sempre consegui manter a minha liberdade de pensamento e durante muitos anos o distanciamento que por razões profissionais me era exigido.

Porque não acredito, sempre o disse e mantenho reforçadamente essa opinião, em cinzentos e muito menos em "independentes", porque todos eles votam e fazem escolhas. Em política fazer uma escolha é tomar uma opção. Isto de quererem andar com um pé em cada margem do rio ou satisfazerem ao mesmo tempo Deus e o Diabo é coisa para patéticas histórias do imaginário protagonizadas por hipócritas doentios e vaidosos.

Mas quando toca a corneta dos tachos todos esses "atributos" de cinzentismo mentiroso e "independência" inventada e oportunista, caiem por terra. E nem se trata de manter uma postura de imposição de valores consensualizada. Nada disso. Servem o primeiro que lhes bate à porta.

Por isso são os piores, porque não podemos confiar em quem assim se comporta. Depois existem os bandalhos, o termo é esse já que falamos dos que vivem sob a capa de anonimato que alguns conhecem, indivíduos que jogam em vários tabuleiros, que se organizam em redes burlescas e sem grande impacto, vocacionadas para a invenção, para o insulto e o enxovalho público, usando as várias frentes das desreguladas redes sociais, para denegrirem quem pensa de forma diferente que eles, quem num partido pode ser considerado potencial adversário para estratégias individuais ou de grupos de interesses internos, tentando derrubar aqueles que aparentam ser obstáculos aos intentos que que esses mafiosos de pacotilha e saloios defendem sob a capa do anonimato.

Esses bandidos é que conspurcam os partidos, mas tanto são bandidos os que corporizam esses esquemas, assentes em estranhas cartilhas de autoria conhecida, como aqueles que lideram estes grupos de "anónimos", como aqueles que sabem o que se passa e toleram - com uma nuance, estes só se irritam quando os visados são eles próprios, a sua vida privada, os seus negócios falidos, as dívidas, as insinuações de comportamentos eticamente reprováveis e incompatíveis com a seriedade na política activa, etc. Desde que sejam os outros os alvos e as vítimas, está tudo bem.

Esses é que deviam ser expulsos, todos, de partidos políticos que são instituições públicas respeitadas e financiadas pelo erário público - e bem, contra isso nada tenho contra, até porque apesar dos avanços legais realizados nos últimos anos, continuo a ter, sempre tive, um enorme pavor dos efeitos do financiamento privado que nunca acontece por acaso... - mas que depois assumem posturas e comportamentos próprios de bandidagem sem escrúpulos, que acabam por transformar os partidos onde militam em meros sacos de bosta quando se trata de falar de valores, de éticas, de princípios, etc.

Por favor, não falemos mais de expulsões, por incapacidade de reunir consensos alargados e de mobilizar as pessoas pacificamente e torno de causas comuns.

E não, os partidos não ganham eleições apenas por estarem unidos internamente, algo que, sobretudo em períodos eleitorais, todos sabemos que nunca acontecerá. Normalmente é assim. Ajuda sim, mas essa unidade interna não resolve tudo, o essencial.

Os partidos não ganham eleições com chavões, com ilusões ou mitos. Eles ganham eleições de convencerem desde logo todos os seus militantes, mas sobretudo se convencerem a sociedade civil em geral, porque é lá que se ganham ou se perdem eleições. Não falemos em expulsões, muito menos nesta fase difícil da vida dos Madeirenses, e do agravamento do impacto desta crise económica, social, do aumento das taxas de juro, das rendas, das prestações bancárias, de tudo isso conjugado que vai afectar os rendimentos das pessoas e o seu poder de compra. Isso é que deve constituir a prioridade de quem governa, de perceber o que vai acontecendo a cada momento, de pensar medidas para as terem preparadas caso sejam necessárias, de deixar o espectáculo mediático, absurdo e patético, que alimenta tantos egos fracos que por aí andam, mas que infelizmente do qual muitos dependem, seja poder ou oposição. Deixemos de falar em expulsões, por que isso revela fragilidade, medo, autoritarismo, falta de respeito democrático pela liberdade do outro, mesmo sabendo-se que o PSD e o PS, de uma maneira geral, são os principais partidos a recorrerem a essa postura que em nada funciona a favor deles. Dúvidas? Vejam lá quantos votos têm hoje e quantos votos tinham no passado recente. Isso é o que conta num partido de poder. (LFM)

Nota: se eventualmente posso vir a ser um dos potenciais visados pela ameça, então peço a expulsão imediata - nem recorro - por que não quero prejudicar um partido ao qual aderi quando muito dos lá estão em lugares de liderança, nem nascidos eram! Serei sempre, nesse caso não um militante de base, mas um simpatizante, que preservará a sua identidade e a sua liberdade de pensar, diferente quando achar por bem fazê-lo e disso dar público testemunho. Hoje sou um militante que não quer nem nunca mais regressará a lugares, muito menos agora por que a vida nem sempre o permite quando nos deixa avisos. Um militante ou simpatizante que, repito, nunca abdicará do seu direito a pensar por si e, em coerência, defender o que entende ser , mesmo que seja o único a dizê-lo publicamente, o melhor para o partido ao qual aderi em 1974, o ano do 25 de Abril!

Sem comentários: