segunda-feira, julho 18, 2022

"Em 2025, TAP será sustentável e lucrativa." CEO quer futuro em conjunto com os sindicatos

Christine Ourmières-Widener, presidente executiva da TAP, avisa que o primeiro ano de vida do plano de reestruturação da transportadora é decisivo para o futuro da empresa. Numa altura em que reforçou, este mês, as ligações com destino a São Paulo e Rio de Janeiro, a partir do aeroporto do Porto, a responsável da transportadora admite que a situação não é fácil para ninguém, mas deixa avisos à navegação. Quanto ao caos nos aeroportos, a situação já atingiu o pico. TAP reforçou, este mês, o número de voos que ligam o Porto às principais cidades do Brasil. A partir de agora, os passageiros podem contar com duas ligações semanais entre a cidade portuguesa e a cidade carioca. Até agora, a TAP operava um voo entre o Porto e o Rio de Janeiro. Já para São Paulo, a companhia nacional vai aumentar de duas para três, as ligações entre o aeroporto Francisco Sá Carneiro e o aeroporto paulista. No Brasil, a presidente executiva da TAP Porto sublinhou que a empresa está a operar, a partir do Porto, 140 voos semanais, havendo uma aposta na ligação da cidade a destinos mais longínquos, incluindo os voos que já se efetuam para a cidade de Nova Iorque, e que se conjuga com a estratégia que a atual administração está a desenvolver, já a pensar, também, no verão do próximo ano.

Christine Ourmières-Widener foi, ainda, questionada sobre o plano de reestruturação TAP. A responsável garante ter "vários projetos" para a empresa que incluem "uma atividade forte e de sucesso em Lisboa". Nesta fase, sobram "perturbações nas nossas operações, que decorrem dos desafios que o setor da aviação está a enfrentar, não apenas em Portugal, sendo que Lisboa está a recuperar mais depressa do que outros aeroportos", que estão a ter mais dificuldades em descolar do cenário de atrasos permanentes.

"Já atingimos o pico"

À questão, até quando vão continuar os problemas que se têm verificado, a presidente da TAP responde: "Olho para os nossos voos previstos e para todos os fatores em jogo, e acho que já atingimos o pico. Não temos que esperar pelo mês de agosto, porque o nosso pico começou em julho, tal como na maioria das outras companhias, devido à nova distribuição de slots, cujas regras e regulamentação tardaram. A maioria das transportadoras começou a época alta mais tarde do que o habitual, porque não podiam avançar sem conhecerem as novas regras dos slots. O pico de atrasos vai estabilizar até à época de inverno. Julgo que o nível de atividade que temos atualmente é aquele que irá manter-se, porque da nossa parte já estamos a fazer tudo o que é possível e tudo o que pode ser feito. Tomamos todas as medidas para melhorar o nosso desempenho ao nível de recursos, organização e com o aeroporto de Lisboa."

TAP "não tem um problema, tem uma longa lista de problemas"

Sobre a raiz do problema a que temos assistido, Christine Ourmières-Widener refere que a principal dificuldade é haver vários e não apenas um problema para resolver. "É muito complexo, não temos apenas um problema, temos uma longa lista de problemas que vão da otimização, desde logo, com os recursos no serviço de handling, e não só em Lisboa. Depois temos acordos para serem assinados em breve no que diz respeito à operacionalidade ao nível das infraestruturas. Estamos a fazer muitos ajustes com o aeroporto, que estão já implementados e temos necessidade de aumentar o pessoal de cabina, por isso estamos a recrutar mais pessoal de voo. Também tivemos alguns desafios técnicos, como a falta de aviões de reserva para colmatar a procura. Assim, temos uma longa lista de problemas e causas, para os atrasos, que foram identificados, não apenas por nós, mas também por outras companhias que enfrentam os mesmos problemas e estão, igualmente, em busca de soluções."

O futuro da TAP

O plano de reestruturação que está em curso desde o final do ano passado tem, nos próximos meses, um período de tempo que a presidente da empresa classifica de crítico. Mas, no final do processo, "a dimensão está já calculada, e a TAP terá 99 aviões, o que significa que não é uma companhia de pequena dimensão, aliás, já é uma transportadora aérea com uma operação elevada. Há dias em que registámos um volume significativo de ligações. Em 2025, a TAP, deverá ser uma empresa sustentável e lucrativa. É esse o nosso compromisso com o governo e com a Comissão Europeia. Os primeiros seis meses de aplicação do plano mostram que estamos no caminho certo, com um plano definido e, como sabem, estamos a enfrentar alguns desafios, relacionados não apenas com as operações, mas toda a cadeia de serviços tem algumas debilidades e estamos a lidar com uma subida de custos que não podemos controlar. Estamos a tentar mitigar o impacto do aumento do preço dos combustíveis, que já ronda os 250 milhões de euros. Ora, para atenuar este impacto queremos aumentar o leque de fornecedores de combustível. O nosso setor não é nada fácil, representa um desafio de logística complexo, onde se queremos prestar um serviço muito bom temos de ter a certeza que os nossos parceiros percebem o que queremos fazer, para onde queremos ir e seguir com eles numa trajetória difícil. No final do dia podemos prestar o serviço que os nossos clientes merecem".

O futuro da TAP joga-se, na opinião da presidente executiva, até ao final deste ano. O plano de reestruturação foi assinado em dezembro de 2021 e Christine Ourmières-Widener, encara o primeiro ano de vida deste processo como um período de tempo decisivo. Na próxima semana, a presidente da empresa vai reunir-se com todos os sindicatos que representam os trabalhadores da TAP. Diz não temer a convocação de greves, mas sublinha que "não está a ser fácil para ninguém e reconhecemos que a crise foi terrível e que tivemos muitos aviões em terra durante vários meses. Nunca é bom ver isso acontecer a uma companhia aérea. Além disso, todos os nossos trabalhadores tiveram cortes significativos, pelo menos 25% e isso é duro. Mas todos temos um plano a cumprir, o acordo foi alcançado no ano passado e aprovado em dezembro e já lá vão seis meses do plano. Por isso estamos a tentar encontrar formas de nos adaptarmos à situação atual. Por exemplo, o pessoal de cabine voltou a trabalhar a tempo inteiro este verão, já não estão em part-time. É por isso que adotámos algumas medidas, com pouco impacto no salário para não termos que cortar e para aumentar os nossos pilotos. Este é um caminho que temos que fazer em conjunto. Os sindicatos têm, claro, de lutar para defender o melhor para os seus membros, mas nós temos reuniões e passámos muitas horas com eles, porque sabemos que não é fácil para ninguém. Assim, vamos manter o diálogo em aberto, porque é importante melhorar os resultados, em 2022. Aplicar o plano também será crítico, daí que temos que adaptar o plano em função dos resultados. Antes de mais temos que concluir o primeiro ano do plano reestruturação. Este primeiro ano é muito decisivo".

Christine Ourmières-Widener diz ter de Pedro Nuno Santos todo o apoio possível. A presidente executiva da TAP diz que a equipa do ministro das Infraestruturas tem respeitado a independência da equipa que guia os destinos da companhia aérea portuguesa, e diz encontrar na tutela "uma equipa competente". Por isso, apoio não tem faltado.

"Bem... 3,2 mil milhões de euros é um apoio significativo, por isso acho que a resposta é sim. A decisão de impulsionar e de apoiar a TAP é um grande compromisso, não apenas para o Governo, mas para todos os portugueses que pagam impostos. Nós sabemos que temos em mãos uma grande responsabilidade, de fazer cumprir o plano, mas, sim, a minha equipa sente-se apoiada. Temos um plano para cumprir. Existe um entendimento pleno entre o Governo e a administração da TAP. O nosso trabalho é fazer cumprir o plano e também usar a nossa experiência neste setor para aplicar o plano o mais rápido possível. O nosso desempenho é avaliado todos os meses, quando a administração reporta ao acionista Estado. Eles têm de saber se estamos a cumprir ou não os objetivos." (TSF, texto da jornalista Sónia Santos Silva)

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