Não consegue. Tal
como aconteceu com Rio. O PSD não consegue demarcar-se do "passismo"
que tanto o penalizou. Mais do que isso, o PSD não consegue lembrar aos
portugueses, e manter essa ideia permanentemente acesa, que foi com o governo
de José Sócrates, em 2011, que a troika foi chamada a um Portugal falido.
Melhor, lembrar e insistir, por muito que isso doa, que as três intervenções
externas do FMI ou da troika (FMI, BCE e UE) em Portugal até hoje foram todas da
responsabilidade de governos socialistas.
O governo de
Passos-Portas, eleito em 2011, apesar dos excessos para agradar Merkel,
limitou-se a cumprir o cardápio imposto pelos financiadores de um Portugal sem
dinheiro nem para pagar os salários dos seus funcionários públicos! O problema
não foi apenas o "passismo". Também foi, pela desumanidade
evidenciada - pelo liberalismo criminoso e pela protecção dos capitalistas, das
grandes empresas, da banca falida mas "mansa", pelo processo de
privatizações aceleradas, com formalizações das vendas feitas pela noite dentro
como foi o caso da TAP, etc - na implementação cega de medidas penosas.
O problema,
sobretudo para os portugueses e para o PSD, foi o facto de Passos ter
pretendido, e fê-lo várias vezes, ser mais "papista que o Papa", ou
seja, ir mais longe, ser mais agressivo, ser mais patife do que aquilo que a
troika exigia ao responder perante os financiadores externos - BCE, FMI e UE.
Sucede que o PS,
desde 2015, sabe usar a governação de Passos e as medidas tomadas, nomeadamente
as que geraram mais desemprego, mais empobrecimento, maior redução do poder de
compra, cortes nos salários e nas pensões, etc, e não olharam a meios para
penalizarem as pessoas, os serviços públicos, etc, tudo em nome de um legado
pós-troika que não abona a favor do PSD e que tem sido a causa do fracasso, do
definhamento eleitoral e de uma travessia do deserto que ninguém sabe quando e
se, acabará. E como, e com que consequências.
Portanto, enquanto
o PSD não resolver este problema, enquanto não for capaz de justificar aos
portugueses todo o processo de governação do "passismo", vai ser
sempre penalizado pelo discurso da propaganda socialista que foi um desastre
ainda maior que foi o legado dos governos de Sócrates dos quais António Costa
fez parte em posições de destaque.
Ou seja, o PSD ou é
incompetente, o que se lamenta, e usa paninhos quentes" com medo da contra-resposta
do PS, ou o PS é mais matreiro e sabe que basta usar até à exaustão a mesma lenga-lenga
da governação da coligação Passos- Portas para dar cabo de qualquer estratégia
dos laranjas. Pelo incómodo que se nota, repetidamente, o PS de Costa sabe que
sempre que fala nesse período (2011-2015) e nas medidas tomadas por aquela
dupla, o PSD abana os alicerces e roça o descontrolo político.
Mesmo com uma nova
liderança, mas isso vale o que vale, porque Montenegro foi um dos mais activos
e conhecidos protagonistas desse período negro para o país, os portugueses e o
PSD. Que abriu caminho à geringonça, deixando que Costa brilhasse no
aproveitamento dos efeitos de algumas das medidas tomadas até 2015,
aproveitamento acelerado pela rápida melhoria da conjuntura europeia e
internacional. Entretanto, tudo mudou, com a pandemia, a guerra na Ucrânia e a
inflação globalizada e descontrolada!
Já todos percebemos
que Montenegro fica irritado, não devia, sempre que lhe atiram à cara o
"passismo" e falam da sua forte, factual e indesmentível ligação,
preponderante ligação, a esse tempo. Não devia irritar-se por que enquanto for
líder do PSD, já percebemos isso, não consegue fazer esquecer esse facto. E,
mais do que isso, também já percebemos todos que o PS, seja através de Costa,
seja através de qualquer outro elemento mais político (os cinzentos da política
não entram neste filme e são dispensáveis), vai atirar-lhe sempre isso à cara.
Não vamos discutir responsabilidades nem de quem é a culpa, particularmente
quando se tenta ressuscitar demasiado cedo nomes que foram dos mais penosos. Só
faltava agora que Montenegro se deslocasse a Nova York para trazer de novo o
Gaspar que fugiu para o FMI e para mais de 25 mil dólares de ordenado, mais
mordomias, depois de num supermercado em Lisboa, só por milagre e ajuda
policial, não ter levado um enxerto de porrada popular, merecido, diga-se em
abono da verdade, atendendo ao que fez e como fez. Aliás, talvez a explicação
para o facto, segundo as sondagens, de os eleitores mais idosos aparentemente
estarem a manter alguma fidelidade de voto com o PS, resida aqui, na conjugação
do aumento das pensões promovido por Costa e nestas memórias de um passado
recente, que deixou muitas marcas sociais dramáticas e desnecessárias, que não
se apagam de um momento para outro, Muito menos no PSD, que sabe que é por
causa dos efeitos da governação violenta e desumanizada desse tempo que está a
realizar uma penosa travessia do deserto de onde nunca vai sair se continuar a
manter a postura elogiosa que Montenegro adopta relativamente a um tempo que é
para esquecer. Acresce que todo este gás do novo líder do PSD, que aposta muito
na recuperação do espaço mediático para ser ouvido e visto, vai obviamente
fechar-se aos poucos, porque 4 anos e meio é tempo demasiado de espera e ter a
obrigação de ganhar eleições até 2026, acaba por ser uma empreitada que
Montenegro só a muito custo conseguirá, se é que conseguirá fazê-lo.
Factos
António Costa foi Ministro de Estado e da Administração Interna do XVII Governo Constitucional, de 12 de Março de 2005 a 17 de Maio de 2007, liderado por José Sócrates. Foi Ministro da Justiça do XIV Governo Constitucional, de 25 de Outubro de 1999 a 6 de Abril de 2002, com António Guterres em primeiro-ministro. Foi Ministro dos Assuntos Parlamentares do XIII Governo Constitucional, de 25 de Novembro de 1997 a 25 de Outubro de 1999, de novo com António Guterres na liderança do governo. Foi Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares do XIII Governo Constitucional, de 30 de Outubro de 1995 a 25 de Novembro de 1997, com António Guterres.
As intervenções do FMI em Portugal
Portugal já foi intervencionado três vezes pelo Fundo
Monetário Internacional. A primeira foi em 1977, seguiu-se a de 1983 e por fim
2011.
A primeira intervenção, em 1977, aconteceu num período
em que o país registava uma taxa de desemprego superior a sete por cento, os
bens estavam racionados, a inflação era crescente chegando a alcançar os 20%,
havia forte conflitualidade política e o escudo estava desvalorizado. No poder
um governo socialista liderado por Mário Soares.
A segunda intervenção, em 1983, dá-se durante o
período do chamado bloco central, um Governo de aliança entre PS e PSD,
liderado por Mário Soares. Foi quase um Governo de emergência nacional, criado
por se considerar que seria a melhor forma de combater a grave situação
económica do País.
O pedido de apoio repetiu-se em 2011, numa altura em
que as finanças públicas estavam de novo à beira da rutura, uma vez mais com um
governo socialista liderado desta vez por José Sócrates.
Mas será que existem dúvidas quanto a tudo isto? Então
se o PS enverda pelo caminho de lembrar o passado, qual a dificuldade do PSD em
responder com a mesma moeda? Não entendo (LFM)
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