sexta-feira, dezembro 12, 2025

Trump arrasa a Europa pelo "desastre" na imigração e até ignora aviso de Costa: "Acho que são fracos"

A Europa é “decadente” e está a ser liderada por pessoas “fracas”. São palavras duras e saíram da boca do presidente dos Estados Unidos, que foi considerado pelo POLITICO como a pessoa mais poderosa do Velho Continente, na primeira vez em que o site atribui esta distinção a um norte-americano.

Donald Trump vê um falhanço particular na incapacidade europeia de controlar a imigração ou em fazer esforços para acabar com a guerra na Ucrânia, num conflito no qual os Estados Unidos têm estado a pender para o lado da Rússia, enquanto a Europa se mantém firme na defesa intransigente da Ucrânia. Não é que esta seja propriamente a primeira vez que Donald Trump ou a sua entourage atacam a Europa - basta ver a atividade recente de Elon Musk no X -, mas estas palavras são particularmente duras, além de virem acompanhadas de uma espécie de ameaça aos atuais líderes.

É que, descontente com quem manda por cá neste momento, o presidente norte-americano admite mesmo vir a apoiar candidatos alinhados com a sua visão no futuro. “Acho que são fracos. Mas também acho que querem muito ser politicamente corretos”, atirou, vendo uma Europa que “não sabe o que fazer”.

"A política de imigração deles é um desastre. O que eles estão a fazer com a imigração é um desastre. Tínhamos uma catástrofe a caminho, mas eu consegui impedi-la. Agora não temos pessoas a passar pelas nossas fronteiras, zero, sete meses. Quero dizer, quem é que acreditaria em zero? Passámos de milhões de pessoas - nalguns casos, milhões de pessoas por mês - mas de milhões de pessoas para nenhuma pessoa", atirou.

Comentários especialmente preocupantes pela altura em que surgem, já que a negociação para um fim da guerra na Ucrânia continua e os Estados Unidos parecem estar a pender cada vez mais para o lado da Rússia. Isso já levou os líderes europeus a emitirem vários alarmes - Emmanuel Macron até terá avisado para uma traição -, temendo que os Estados Unidos abandonem não só a Ucrânia, mas também a própria Europa, histórica aliada.

Diretamente questionado sobre a sua visão, Donald Trump não deixou quaisquer garantias à Europa, referindo até que a Rússia estava claramente numa posição mais forte que a Ucrânia.

Acresce a isso a recentemente conhecida Estratégia de Segurança Nacional, na qual a Casa Branca assinala um risco de “apagão civilizacional” da Europa, nomeadamente por causa da forma como está a lidar com questões como a imigração.

É sob esse peso que, para Donald Trump, cidades como Londres e Paris estão a ceder, nomeadamente com as pessoas que chegam do Médio Oriente e de África. Sem uma mudança nas atuais políticas de fronteiras, o presidente dos Estados Unidos antevê que alguns países europeus “vão deixar de ser viáveis”.

Procurando ser mais específico, Donald Trump apontou o exemplo do autarca de Londres, Sadiq Khan, filho de imigrantes paquistaneses e que é o primeiro muçulmano no cargo. Um “desastre” político, no entender do presidente dos Estados Unidos, que culpa a imigração pela eleição: “Ele foi eleito porque demasiadas pessoas entraram. Votaram nele agora”.

"Se olharmos para Londres, temos um autarca chamado [Sadiq] Khan. É um autarca terrível. Um autarca incompetente, mas também horrível, perverso e nojento", acrescentou.

Um efeito, o da imigração, que Donald Trump também já vê na Escandinávia. "A Suécia era conhecida como o país mais seguro da Europa, um dos mais seguros do mundo. Agora é conhecido como altamente inseguro - bem, um país muito inseguro. Nem sequer dá para acreditar", continuou, apontando depois "dois grandes erros" à Alemanha, com Angela Merkel a permitir uma abertura de fronteiras para a entrada de refugiados e a redução da sua independência energética.

E nem mesmo os avisos do presidente do Conselho Europeu fizeram acalmar o presidente dos Estados Unidos. António Costa avisou, na sequência da tal Estratégia de Segurança Nacional, que a Casa Branca deve respeitar a soberania europeia e o seu direito a governar-se como entender.

“Os aliados não ameaçam interferir na vida democrática ou nas escolhas políticas internas dos seus aliados”, afirmou António Costa, que pediu respeito pela Europa e, especificamente, pela União Europeia.

Confrontado pelo POLITICO com essas palavras, Donald Trump nem pestanejou. Não só se sente no direito a fazer comentários sobre a direção política europeia, como admite vir a apoiar certos candidatos em eleições futuras, mesmo que isso coloque em causa certas sensibilidades.

“Vou apoiar [candidatos]. Vou apoiar pessoas, mas já apoiei pessoas de que muitos europeus não gostam. Apoiei Viktor Orbán”, lembrou, admitindo que gosta das políticas fronteiriças do primeiro-ministro da Hungria, talvez o maior pária da atual composição da União Europeia.

Além de Viktor Orbán, Donald Trump tem também bem a dizer do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que é, imagine-se, um "bolo fofo". "Quando alguém tem um problema com Erdogan, pede-me para lhe ligar porque não conseguem falar com ele. Ele é um bolo fofo. Por acaso gosto muito dele. Penso, até, que construiu um grande país, um grande exército", afirmou, acrescentando também elogios à política migratória da Polónia, que tem sido mais dura nos últimos anos.

Críticas que se estendem, como já se percebeu, à questão da guerra. Donald Trump voltou a sugerir que Volodymyr Zelensky deve mesmo aceitar o que tem na mesa, ironizando com a atual posição do presidente da Ucrânia: “Seria bom se ele lesse [o plano de paz”, afirmou, dizendo que muitos ucranianos gostam do que foi elaborado pelos Estados Unidos, e que tem mais em consideração os interesses da Rússia do que outra coisa.

Mas também aí se encontra espaço para criticar a Europa, nomeadamente França, Alemanha e Reino Unido, que têm liderado os esforços para não deixar a Ucrânia sozinha entre dois gigantes. “Eles falam, mas não produzem, e a guerra continua e continua”, reiterou, deixando até um novo apelo por eleições na Ucrânia, numa das mais claras confirmações de que não vai mesmo à bola com Volodymyr Zelensky. “Eles não têm uma eleição há muito tempo. Sabe, eles falam sobre democracia, mas chegamos a um ponto em que já não é democracia”, concluiu (CNN Portugal, texto do jornalista António Guimarães)

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