sexta-feira, dezembro 12, 2025

Do esconderijo na Venezuela a Oslo: como foi a fuga secreta de María Corina Machado para receber o Prémio Nobel

 

A chegada de Machado à Noruega marca uma nova fase. O procurador-geral da Venezuela advertiu que será considerada fugitiva caso abandone o território, tornando o seu eventual regresso um desafio direto ao Governo de Maduro. A líder da oposição venezuelana María Corina Machado deixou a Venezuela na madrugada da passada terça-feira, após mais de um ano em clandestinidade. De acordo com fontes americanas consultadas pelo jornal espanhol ‘ABC’, Machado saiu do país por via marítima e alcançou a ilha de Curaçau, situada a cerca de quarenta milhas da costa, no primeiro segmento de uma operação mantida em absoluto segredo.

O objetivo da viagem era participar na cerimónia do Prémio Nobel da Paz em Oslo, mas o mau tempo atrasou a travessia e obrigou a líder a perder o evento, tendo sido a sua filha, Ana Corina Sosa, a receber o galardão em seu nome.

A travessia entre a costa venezuelana e Curaçau ocorreu em condições difíceis, com ondas de um a dois metros e rajadas de vento de leste de força 5 a 6 na escala de Beaufort. Segundo o ‘ABC’, estas condições, com ventos que podiam atingir até 50 quilómetros por hora e ondulação mais intensa nos setores norte e leste, tornaram a navegação lenta e exigente para pequenas embarcações, atrasando e complicando a operação.

O percurso evidencia o ambiente de vigilância constante em que a oposição venezuelana se move e os riscos extremos que enfrenta. Desde agosto de 2024, quando Nicolás Maduro afirmou que Machado e o candidato Edmundo González “deveriam estar atrás das grades”, a líder oposicionista vive em locais rotativos para evitar captura. A saída por mar confirma padrões observados em operações anteriores, como a operação Guacamaya, em que cinco colaboradores de Machado foram retirados da residência diplomática argentina em Caracas. Na altura, o regime tentou apresentar a saída como negociada, mas fontes consultadas pelo ‘ABC’ indicam que a coordenação externa e a pressão internacional abriram um corredor que Caracas não conseguiu fechar a tempo.

Fragilidade do regime e itinerário seguro

O trajeto marítimo de Machado evidencia a fragilidade do regime: existem rotas periféricas, vigilância irregular e capacidade limitada de impedir deslocamentos rápidos quando estes são coordenados com antecedência e discrição. Ao chegar a Curaçau, Machado enviou uma mensagem confirmando o seu destino para Oslo, mas avisando que chegaria atrasada. O Comité Nobel começou a receber confirmações do seu trânsito já na manhã de quarta-feira, sem detalhes de localização por questões de segurança. Fontes americanas indicam que elementos do regime venezuelano poderão ter facilitado a saída, embora outras fontes em Oslo descartem qualquer coordenação com o chavismo, atribuindo a fuga a falhas na vigilância interna. O próprio funcionário admitiu não poder confirmar quem controlava os pontos de acesso ao litoral no momento do embarque.

Regresso complicado e tensão com o Governo

A chegada de Machado à Noruega marca uma nova fase. O procurador-geral da Venezuela advertiu que será considerada fugitiva caso abandone o território, tornando o seu eventual regresso um desafio direto ao Governo de Maduro. A pressão dos EUA mantém-se elevada, com presença militar no Caribe e ações autorizadas contra embarcações ligadas ao narcotráfico. Paralelamente, líderes de Argentina, Equador, Paraguai e Panamá aguardaram em Oslo a sua possível aparição, reforçando o peso internacional da sua figura. Machado garante que regressará, e o desenlace dependerá da decisão do regime sobre a sua ausência (Executive Digest, texto do jornalista Francisco Laranjeira)

Sem comentários: