segunda-feira, dezembro 22, 2025

A Economia do ano?...

Portugal foi considerado a “economia do ano” pela revista The Economist. A distinção foi recebida com entusiasmo pelo Governo e, em parte, com razão. É raro Portugal surgir bem classificado em rankings e indicadores económicos internacionais, sobretudo quando comparado com economias mais ricas e mais produtivas da OCDE. O ranking da The Economist avalia cinco dimensões — crescimento do PIB, inflação, volatilidade da inflação, desempenho bolsista e emprego. Portugal apresenta resultados sólidos em todas elas, destacando-se no controlo da inflação e na criação de emprego. Nestas áreas, o desempenho recente foi efetivamente melhor do que o de muitos países da OCDE.

Este reconhecimento é positivo. Reflete estabilidade macroeconómica e uma recuperação robusta após choques sucessivos. Reflete também a capacidade da economia portuguesa para tirar partido de um contexto externo relativamente favorável. A maior distância geográfica relativamente ao conflito na Ucrânia e a menor dependência energética e comercial da Rússia ajudaram Portugal a absorver o choque melhor do que outros países europeus. A isto, juntaram-se fatores como o forte dinamismo do turismo e a entrada significativa de imigrantes no mercado de trabalho.

Num país habituado a aparecer nos rankings sobretudo pelos piores motivos, não deixa de ser relevante surgir, desta vez, do lado positivo da tabela. Dito isto, importa evitar leituras excessivamente triunfalistas. O ranking atribui um peso elevado a fatores conjunturais e temporários. Além disso, todos os indicadores avaliam variações e dinâmicas recentes, e não níveis absolutos ou “fotografias” da economia. Acresce que o mercado de trabalho acaba por ser valorizado duas vezes, nos indicadores de PIB e de emprego, o que beneficia economias mais trabalho-intensivas, como é a portuguesa. Por outro lado, o ranking não avalia crescimento potencial, produtividade ou sustentabilidade de longo prazo — precisamente onde Portugal continua a revelar fragilidades persistentes. Em suma, a distinção é bem-vinda e merece ser assinalada, mas não deve ser confundida com uma transformação estrutural da economia portuguesa. Serve como sinal de que é possível estar entre os melhores, mas, tornar Portugal um verdadeiro exemplo a nível internacional exigirá reformas profundas. Até porque, os ventos favoráveis que nos têm beneficiado não durarão para sempre (fonte: Mais Liberdade, Mais Factos)

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