Especialistas como Mario Draghi, o Prémio Nobel da Economia Bengt Holmström e Christine Lagarde sublinham que a inação pode ser fatal. O exemplo da Argentina, outrora próspera e hoje devastada economicamente a ponto de eleger um governo libertário em busca de mudanças radicais, é citado como aviso. Embora a União Europeia ainda esteja longe deste cenário, há paralelos preocupantes e, ao contrário da Argentina, o continente enfrenta inimigos que poderiam explorar a sua fragilidade. O relatório de Draghi, o estudo de Holmström e os recentes discursos de Lagarde tiveram ampla repercussão nos meios de comunicação e nos círculos académicos. Todos fazem um apelo explícito à ação, destacando a urgência de decisões estratégicas em empresas, Governos e instituições. Historicamente, a Europa representava 28% do PIB global em 1980, enquanto os EUA estavam em 21% e a China em 2%. Em 2025, a China aproxima-se dos 20%, os EUA caíram para 15% e a União Europeia para 13%, sinalizando um declínio preocupante. Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, resume: “A Europa está a perder.”
Ao longo das últimas décadas, a Europa concentrou-se na construção do maior Estado de bem-estar social do mundo e num quadro regulatório extenso. Embora positivos, estes esforços comprometeram o crescimento económico, base fundamental da prosperidade e sustentabilidade dos sistemas sociais. Christine Lagarde alertou recentemente que o maior problema da Europa é um modelo de crescimento orientado para um mundo em mudança, acrescentando que a inteligência artificial exigirá ação imediata para garantir competitividade e prosperidade futuras.
Economistas como Luis Garicano, Bengt Holmström e Nicolas Petit propõem soluções para recuperar relevância global e convergir com os EUA. Enrico Letta e Draghi já haviam alertado para a fragmentação do mercado e queda de competitividade, destacando que a União Europeia tem falhado em priorizar áreas cruciais. O risco é seguir o caminho da Argentina: prosperidade perdida, sistemas sociais insustentáveis, políticos extremistas e fuga de talento, agravado por inimigos externos e uma população envelhecida.
Apesar das vulnerabilidades, a situação ainda é reversível. A União Europeia continua rica e talentosa, mas o excesso de regulamentação e o Estado de bem-estar social reduziram concorrência e incentivos para inovação. Sem crescimento, o continente arrisca transformar o Estado de bem-estar social numa utopia do passado, incapaz de sustentar pensões, saúde e educação.
Os economistas defendem que o foco europeu deve ser a prosperidade económica. Para tal, é essencial retornar ao propósito original do bloco: um mercado comum eficiente, livre e plenamente operacional. Propostas incluem substituir diretivas por regulamentos uniformes, criar tribunais comerciais europeus capazes de sancionar rapidamente infrações e permitir que decisões judiciais sejam aplicáveis em toda a UE.
Outras recomendações passam pela criação de um “28º regime” opcional para empresas, promovendo concorrência regulatória e atraindo investimento, e pela introdução de cláusulas de caducidade em leis europeias, substituindo regras eternas por avaliações periódicas de eficácia. Segundo os especialistas, estas medidas permitirão restaurar integração económica, estimular inovação e garantir prosperidade.
“A Europa pode renascer se abandonar a obsessão regulatória, restaurar a integração económica e confiar na capacidade inovadora dos seus cidadãos”, concluem. “Uma Europa melhor é possível se deixar de construir muros de regulação e se concentrar, acima de tudo, na prosperidade. (Executive Digest, texto do jornalista Francisco Laranjeira)


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