terça-feira, dezembro 30, 2025

Sondagem revela que mais de um terço dos portugueses gostariam que o País ainda tivesse colónias



Cinquenta anos após o processo de descolonização, uma parte significativa da sociedade portuguesa continua a revelar uma relação ambivalente com o passado imperial. Uma sondagem recente indica que 31,5% dos portugueses gostariam que Portugal ainda tivesse colónias, num resultado que evidencia a persistência de uma visão imperial na memória coletiva, apesar das transformações políticas, sociais e históricas ocorridas desde o fim do regime colonial.

De acordo com dados divulgados pelo Público, o estudo foi desenvolvido pelo Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-NOVA) em parceria com a DOMP–Instituto de Estudos, no âmbito do projeto “Legados do Colonialismo Português em África — Os portugueses, o Império e a Guerra Colonial”, envolvendo uma amostra representativa de 1.116 inquiridos. A investigação é coordenada cientificamente por António Costa Pinto, Bernardo Pinto da Cruz e Teresa Furtado.

Apesar de mais de 31% manifestarem nostalgia pelo império, a maioria dos inquiridos avalia positivamente o processo de descolonização: quase 58% consideram que as independências foram boas ou muito boas para Portugal, enquanto 34% as classificam como más ou muito más. Em termos comparativos, Portugal surge como o país europeu com maior percentagem de respostas favoráveis à manutenção de um império colonial, superando o Reino Unido e os Países Baixos, um dado que, segundo os autores, traduz uma relação simultaneamente marcada pela rejeição política e pela valorização simbólica do passado imperial.

O estudo revela ainda que o sentimento de orgulho prevalece sobre a vergonha quando os portugueses são questionados sobre o império colonial: 50,6% afirmam que é algo de que se deve sobretudo orgulhar, enquanto 20,3% dizem que é motivo de vergonha, e 26,3% optam por uma posição intermédia. Os autores destacam que Portugal apresenta uma das relações mais polarizadas com o seu passado colonial, combinando níveis elevados de orgulho com uma percentagem igualmente relevante de associação à vergonha, num padrão semelhante ao observado em países como a Alemanha ou o Japão.

Quanto à caracterização do regime colonial, 41,8% dos inquiridos concordam que foi racista, embora uma percentagem próxima — 35,3% — considere que deve ser avaliado à luz dos valores da época. Cerca de 19,3% rejeitam a ideia de que o colonialismo português tenha sido racista. No que respeita à Guerra Colonial, a maioria entende que os crimes foram cometidos tanto por portugueses como por africanos, com uma forte tendência para reconhecer o sofrimento como transversal e evitar a hierarquização das vítimas, ainda que se registem ligeiras diferenças geracionais na identificação dos principais prejudicados.

A sondagem evidencia também clivagens políticas claras. A aceitação da ideia de um império colonial concentra-se sobretudo entre eleitores do Chega e do CDS-PP, e, em menor grau, do PSD, enquanto à esquerda a rejeição é mais expressiva, sendo praticamente total entre eleitores do Livre. No plano das soluções para lidar com o passado colonial, as opções mais consensuais passam pela abertura de arquivos, criação de monumentos comuns e apoio aos retornados, enquanto propostas como julgamentos internacionais, sanções retractivas ou pedidos oficiais de desculpa não reúnem consenso, refletindo uma resistência generalizada à judicialização ou culpabilização formal do passado (Executive Digest)

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