terça-feira, novembro 28, 2023

Público - Regiões exportam mais para outras regiões nacionais do que para o estrangeiro

Novo modelo económico construído pelo PlanAPP e pela Universidade de Coimbra traça retrato mais completo das economias regionais portuguesas e das fortes dependências que têm entre si. Os bens e serviços vendidos pelas diferentes regiões portuguesas para as outras regiões do país têm um maior peso nas suas economias do que as vendas que realizam para o estrangeiro, de acordo com uma estimativa realizada utilizando um novo modelo para a economia portuguesa construído para analisar o impacto de medidas e políticas. O Alentejo, muito graças à refinaria de Sines, é a única região do país a registar um excedente comercial.

Os cálculos são apresentados no relatório “Comércio inter-regional em Portugal”, publicado esta segunda-feira pelo PlanAPP - Centro de Competências da Administração Pública. Este organismo encomendou à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra a construção de um modelo que, sendo utilizado pelos diversos organismos do Estado, lhes permita avaliar o impacto das políticas públicas que estejam a implementar ou que pretendam introduzir, não só a nível nacional, como já acontece com outros modelos, mas também a nível regional.

Uma das características inovadoras deste novo modelo – denominado PReMMIA (Portuguese Regions Model for Multi Impact Analysis) – está no facto de levar em conta a estrutura produtiva de cada região e a forma como se relacionam, quer com outros países, quer com as outras regiões do país.

Para conseguir fazer isto, os criadores do modelo tiveram de ir mais além do que a informação já disponível nas estatísticas oficiais. Aquilo que o Instituto Nacional de Estatística (INE) publica é, em relação ao comércio de bens e serviços das regiões portuguesas (as sete da classificação NUT II), apenas os fluxos de e para outros países, isto é, as exportações e importações internacionais. Já no que diz respeito às exportações e importações inter-regionais, estas não constam das estatísticas oficiais.

Esta ausência de dados é ultrapassada pelo PReMMIA através da realização de estimativas feitas com base na informação estatística produzida pelo INE e nos pressupostos assumidos pelo modelo. E a conclusão a que se chega é que, tão importante para as suas economias como o comércio que realizam com o estrangeiro, é o comércio que as sete regiões nacionais consideradas (Norte, Centro, Área Metropolitana de Lisboa, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira) realizam entre si. Estima-se que o volume total das exportações inter-regionais ascenda a 76.904 milhões de euros, um valor que compara com um total de 71.120 milhões de euros de exportações internacionais.

“Se é verdade que as regiões portuguesas têm apresentado um aumento significativo da sua exposição ao exterior, é igualmente verdade que são, também, muito dependentes entre si”, afirma o relatório, que assinala que, “para todas as regiões com excepção da região Norte, a procura originada noutras regiões do país pelos produtos produzidos na região é maior do que a procura internacional”.

Alentejo excedentário

Os dados estimados através do modelo PReMMIA revelam as diferenças acentuadas entre as diversas regiões do país, que se tornam muito evidentes quando se olha para aquilo que cada região exporta e importa para as outras regiões.

Apenas Lisboa e o Alentejo apresentam um saldo de comércio inter-regional positivo e as razões para que tal aconteça são muito diferentes. Em Lisboa, o excedente no saldo comercial com as outras regiões é de mais de 4000 milhões de euros, ou 7% do Valor Acrescentado Bruto (que mede a dimensão da actividade económica) da região e a explicação para este resultado encontra-se em larga medida naquilo a que no relatório se chama “efeito sede”.

Muitas empresas prestadoras de serviços, por exemplo no sector financeiro ou das telecomunicações, têm a sua sede na região de Lisboa e isto faz com que esta região exporte esses serviços para as outras partes do país.

Lisboa, apesar de registar um excedente no saldo do comércio inter-regional, tem em contrapartida um ainda mais elevado défice no comércio com os outros países, pelo que o saldo global da região acaba por ser negativo em 4,2% da economia regional.

Já no caso do Alentejo, o saldo do comércio inter-regional é de 2117 milhões de euros, um valor que representa quase um quinto do Valor Acrescentado Bruto (VAB) da região. Um excedente tão elevado encontra explicação na “importância da refinaria de Sines e da agricultura e floresta” para a região. Os produtos alimentares produzidos e os produtos de coque e refinados petrolíferos encontram-se entre os bens mais exportados pelo Alentejo para as outras regiões do país.

Curiosamente, Sines e a sua refinaria também contribuem para que, no que diz respeito ao comércio internacional, o Alentejo apresente um saldo deficitário. Este, no entanto, é de 13,5% do VAB da região, pelo que o saldo comercial global alentejano acaba por ser positivo. É a única região do país em que, de acordo com as estimativas do modelo, tal acontece.

No pólo oposto, com défices acentuados no comércio global, surgem o Algarve e a Madeira. Nestes dois casos, o saldo do comércio internacional até é positivo, muito por causa do elevado volume de exportações de serviços de turismo que estas duas regiões conseguem atingir. No entanto, de acordo com as estimativas realizadas utilizando o modelo PReMMIA, o saldo do comércio inter-regional no Algarve e na Madeira é acentuadamente negativo.

De notar que os autores do relatório assinalam que as dificuldades na realização de estimativas de comércio inter-regional são maiores no caso dos serviços do que dos bens, algo que pode conduzir a que as estimativas do saldo entre as exportações e as importações de serviços relacionados com o turismo em regiões como o Algarve ou a Madeira possam estar sujeitas a maiores riscos.

Tanto a região Norte, apesar do peso da sua indústria exportadora, como a região Centro apresentam défices, quer no comércio inter-regional, quer no comércio internacional. O PlanAPP, organismo que tem como objectivo apoiar tecnicamente a Administração Pública na definição de estratégias e a optar pelas melhores políticas, irá, de acordo com os seus responsáveis, disponibilizar este novo modelo aos organismos públicos “a partir de Janeiro” (Publico, texto do jornalista Sérgio Aníbal)

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