sábado, novembro 11, 2023

Nota: surpresa? Mas qual surpresa?

Surpresas? Mas quais surpresas quando andamos há quase um ano confrontados com escândalos e potenciais casos de corrupção, irresponsabilidade ou incompetências na gestão dos dinheiros públicos? Diria que a única surpresa foi a forma como tudo decorreu e o impacto que o escândalo de alegada corrupção generalizada teve, com expressão máxima na demissão de António Costa e na convocação de eleições antecipadas.

Acredito que António Costa apressou a sua demissão, quando percebeu que ninguém saboia qual a extensão do caso e que o sonho de um cargo europeu tinha acabado naquele momento. Mesmo assim, apesar de tudo isto, desconfio que Costa ainda tentou manipular o processo de decisão política e que não estaria à espera de eleições antecipadas. A seu tempo ele vai clarificar isso, acredito eu.

Ninguém estava à espera deste desfecho nestes termos. Nem Costa que acredito foi obrigado a demitir-se. Mas mesmo demitido, Costa pretendeu influenciar o futuro e as decisões, até de MRS

Acredito que as próximas eleições serão um exemplo de descarado apelo ao voto útil, e que vão ser antecipadas de uma campanha eleitoral dura, provavelmente das mais duras dos últimos anos, radicalizada, bipolarizada e que pode afastar eleitores das urnas em vez se os aproximar como seria desejável nestes tempos de crise.

Casos de suspeitas de corrupção envolvendo a governação do PS a nível nacional com factos apontados na comunicação social, não são novidade. Novidade é a dimensão da teia tentacular cuja dimensão e amplitude dos negócios está ainda por desvendar. Estamos a falar de processos judiciais ainda investigados, desde o lítio ao hidrogénio, passando pelo célere data centar

Confrontado com a urgente eleição de um novo líder, o PS tem duas opções: ou escolhe uma personalidade ao (e no) centro do partido, conhecida, com prestígio, ou escolhe uma solução mais radical, à esquerda – Pedro Nuno dos Santos, pessoalmente até tenho alguma simpatia pela sua praxis, pelo seu discurso e pela maneira de ser, em termos políticos – apostando na potencial reedição da tal geringonça de esquerda que, se arrastar PCP e Bloco, vai acabar por os destruir. Penso que bloquistas e comunistas aprenderam a lição nas legislativas realizadas depois da geringonça, que deu ao PS uma ampla maioria absoluta em 2022 e que quase empurrou PCP e o Bloco para a periferia da Assembleia da República.

Com essa solução, e o apelo do PS a uma solução governativa estável e a uma certa forma de “vingança” por tudo o que aconteceu, suspeito que até PAN e Livre correm riscos e podem ficar em perigo porque o PS vai pedir, só pode pedir, um voto útil do eleitorado de esquerda

Nos não sabemos qual a amplitude do chamado eleitorado flutuante que costuma ser decisivo nestas eleições extremadas, um eleitorado que vota e que se encontra no centro do universo eleitoral nacional, Há quem fale em 30% do total de eleitores, ou seja, fazendo fé nestes valores, há cerca de 3 milhões de eleitores que votam, ora no PSD, ora no PS, sem compromissos emocionais ou militantes com qualquer um deles, mas votando em função da conjuntura e da percepção de qual será a melhor solução em termos de estabilidade e governança eficaz.

- O PS, depois do impacto do caso Sócrates e da falência do país que ele personifica, permitindo a entrada da troika em Portugal ficou manchado por este novo caso de corrupção generalizada – e acredito que mesmo que alguns dos protagonistas deste caso venham a ser ilibados – os braços tentaculares deste esquema serão ainda mais extensos do que se pensa e bem piores, em termos de descaramento, de envolvimento e de manipulação do processo de decisão pública do que se pensa.

- Mas à direita as coisas estão bem piores para o PSD que mais do que pensa sobre o Chega tem que resolver de uma vez por todas que não concorre coligado ao CDS – porque isso transforma o PSD num partido de direita, cada vez mais radicalizado, o que bada tem a ver com a ideologia dos pais fundadores do partido, entre eles Francisco Sá Carneiro - continua perseguido por uma sombra terrível, a dos tempos da troika e de uma governação Passos-Portas – que ditou o desaparecimento do CDS da politica nacional – que penalizou os portugueses, sem que estes valorizem qualquer tipo de enquadramento, nomeadamente as causas dessa governação (2011-2015) e a constatação que o governo PSD-CDS não passava de um sopeiro da troika e das instituições internacionais que meteram cerca de 90 mil milhões de euros em Portugal, para nos safar da falência vergonhosa, mas de onde levaram mais de 140 mil milhões de euros se contabilizarmos capital devolvido,  juros e comissões.

- Acresce que as pessoas não têm memória curta e o PSD já devia ter percebido – e na Madeira os indicadores eleitorais em queda constante mostram também isso – que estando numa penosa, desmotivante e desmobilizadora travessia do deserto por causa da governação Passos-Portas, ou do PSD-CDS, qualquer negociata eleitoral com o CDS penaliza o PSD mesmo antes das eleições se realizarem. Dúvidas? Então analisem em pormenor os resultados nas legislativas de 2019 e de 2022 e nas regionais deste ano na Madeira. E Luis Montenegro, diga ele o que disser, faça o que fizer, foi uma das principais figuras (líder parlamentar do PSD na Assembleia da República) desses tempos negros da vida mais recente do país. Tal como me lembro dos procedimentos disciplinares adoptados por Montenegro – as queixinhas aos órgãos do partido - relativamente aos deputados do PSD-Madeira devido às votações nas propostas de OE por não servirem os interesses da Madeira e penalizarem a Região. E Montenegro esteve sempre do outro lado da barreira. E isso não lhe perdoo incluindo nas urnas. Mesmo considerando as memórias curtas de quem na altura promoveu rebeliões organizadas contra tais comportamentos e perseguições mas que hoje parecem ter esquecido tudo o que se passou.

Se no PSD não perceberem esta realidade, então tempo que uma nova derrota estará à sua espera a 10 de Março de 2024, provavelmente num ameaçador primeiro passo para a extinção do próprio partido por absoluta desnecessidade do mesmo e incapacidade de afirmação no espectro político e eleitoral nacional. Duvido que Montenegro queira ser o coveiro desse tempo.

E se o PSD para chegar ao poder e promover a mudança no país, precisar do Chega – embora eu ache que a campanha eleitoral do PSD deve assentar num descarado e forte apelo ao voto útil do eleitorado de centro-direita e de direita, única forma para que se garanta uma estabilidade para o país, que não seja de esquerda. Se por timidez Montenegro não for por esse caminho e andar a perder tempo com o CDS e o Chega, então não teremos nem alternativa à esquerda, nem o PSD vai ser capaz de aproveitar este tempo irrepetível, apesar de estar, reconhecidamente, a sofrer os efeitos de um definhar eleitoral que começou em 2015 (LFM)

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