segunda-feira, julho 11, 2022

Portugal: Primeiro impacto da guerra pode roubar 1,2 mil milhões de euros à produção nacional

O Governo publicou estudo sobre os impactos na atividade nacional, onde já identifica setores que podem ser mais afetados pela crise, como produção de máquinas, equipamentos e veículos automóveis. A economia portuguesa não é das mais expostas à situação crítica provocada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, mas já há efeitos negativos sobre as exportações portuguesas e a produção nacional que podem ser estimados. Segundo um estudo de um centro de investigação governamental, o choque nas exportações nacionais de bens já poderá ascender a quase 770 milhões de euros, menos 1,3% face ao nível pré-pandemia (2019). A produção nacional associada às exportações poderá ter sofrido um revés de 1,2 mil milhões de euros, menos 0,3% face ao nível pré-pandemia. Como referido, o governo publicou na semana passada um primeiro estudo mais detalhado sobre os impactos na atividade nacional, onde também já identifica alguns setores que podem estar a ser mais afetados pela crise bélica, como é o caso da produção de máquinas, equipamentos e veículos automóveis.

O trabalho do Centro de Competências de Planeamento, de Políticas e de Prospetiva da Administração Pública (Planapp) - uma entidade tutelada pela ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e com a supervisão direta do próprio primeiro-ministro, António Costa - assume dois cenários: a interrupção nas exportações de bens para Rússia, Ucrânia, Bielorrúsia, a que se deve somar uma quebra de 5% das exportações de bens para países do centro e leste da União Europeia mais Moldávia.

Tudo considerado, como referido, as exportações totais de mercadorias de Portugal devem perder este ano e no próximo cerca de 770 milhões de euros. A produção quebra 1,2 mil milhões de euros. O valor acrescentado bruto (VAB) do setor exportador, a variável que determina diretamente o valor do produto interno bruto (PIB), poderá recuar quase 400 milhões de euros por causa da guerra.

De acordo com o mesmo estudo do Planapp, menos produção significa menos salários, indiciando problemas no emprego. A guerra pode induzir uma redução das remunerações pagas de quase 200 milhões de euros. Em todo o caso, ainda estamos a falar de uma quebra ligeira face ao nível de 2019 (menos 0,2%).

Nesta investigação, assinada em parceria com o economista João Pedro Ferreira, da Universidade da Flórida, afirma-se que "as exportações de Portugal para os países que estão diretamente envolvidos no conflito Rússia-Ucrânia (Rússia, Bielorrússia e Ucrânia) representavam 0,4% das exportações internacionais de bens em 2019", o último ano antes da pandemia.

"Os resultados mostram que não será por via da redução das exportações" para esses países que a economia portuguesa "pode esperar por um choque semelhante ao que está a ser esperado na economia alemã e nos países do leste europeu", reparam os autores.

"De acordo com as nossas projeções, a quebra das exportações portuguesas para os países diretamente envolvidos na guerra e os países do centro e leste europeu, cujas economias foram afetadas de forma mais severa, deverá refletir-se numa redução de 1,3% das vendas totais ao exterior", mas este valor, embora relativamente baixo, esconde realidades diferentes. Há partes da economia portuguesa que vão sentir mais o peso da guerra.

Os autores sublinham isso mesmo. "Este choque não afeta naturalmente todos os setores na mesma medida, visto que alguns estão mais expostos aos mercados internacionais e/ou mais dependentes dos destinos aqui considerados".

"Em termos setoriais, o maior impacto será sentido" na produção de máquinas e equipamentos e de veículos automóveis, refere o estudo.

O ramo das máquinas e equipamentos pode sofrer uma quebra de 6,6% ao nível da produção por via da redução das exportações. A redução produtiva pode superar os 170 milhões de euros só nesta atividade.

O fabrico de veículos automóveis registará o segundo maior impacto negativo na produção. Em termos absolutos pode perder mais de 155 milhões de euros com a guerra num primeiro embate. É uma quebra de 1,8%.

O setor da produção de madeira e cortiça (não inclui fabrico de mobiliário) regista o segundo pior embate negativo. A estimativa é que a situação de guerra possa induzir uma quebra de 2,4% na produção (menos 76 milhões de euros) por via da disrupção nas exportações.

"Importa destacar que o choque na indústria da madeira e cortiça pode ser superior a 2% da sua produção, e que, no caso da fabricação de produtos têxteis este valor está também muito próximo dos 2%", sublinham os autores.

Esta investigação releva ainda que "o impacto económico da guerra virá sobretudo da escalada de preços de certos produtos, da desaceleração geral do Produto Interno Bruto (PIB) das economias europeias e do aumento combinado da dívida dos países e das taxas de juro".

Como referido, "não é exatamente por via da redução das exportações para estas economias que a Portugal pode esperar por um choque semelhante ao que é expectável na economia alemã e nas economias do centro e leste europeu".

No entanto, "a incerteza pode acrescentar perdas àquelas que são estimadas neste exercício", "em particular, uma desaceleração da economia mundial, uma escalada dos preços nas matérias-primas, ou uma subida dos juros e consequente aumento do peso da dívida podem contribuir para impactos negativos do PIB numa dimensão muito superior à estimada".

Hoje é consensual entre as instituições globais (FMI e OCDE, por exemplo), europeias (Comissão Europeia, Banco Central Europeu) e nacionais (Governo, Banco de Portugal) que quanto maior for a incerteza e quanto mais tempo durar a guerra, pior vai ser para as economias ocidentais.

A energia russa pode ser totalmente cortada, as sanções impostas à Rússia podem fazer um ricochete completo no Ocidente. A inflação pode acelerar ainda mais e as taxas de juro também, na Europa e nos Estados Unidos.Vários bancos globais e economistas avisam que uma recessão mundial pode estar mais próxima ou mesmo iminente. Há já quem fale de estagflação em 2023 (DN-Lisboa, Dinheiro Vivo, texto do jornalista Luís Reis Ribeiro)

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