sexta-feira, setembro 18, 2015

Mania de escrever: O marketing político resolve tudo?

1. O marketing político, cada vez mais presente nas campanhas eleitorais, tem mostrado, perante o crescimento e a afirmação das redes sociais nas suas diferentes componentes, que nem sempre consegue conter a velocidade de propagação do chamado "jornalismo dos cidadãos" - sem qualquer regulação e onde a liberdade de pensamento e de escrita é quase total - e dificilmente consegue ganhar tempo para preparar a resposta eficaz, passível de conter os efeitos negativos daí resultantes. Falamos da multiplicação de críticas aos candidatos e/ou aos partidos,  dos boatos, das insinuações, de comentários negativos, etc, que se propagam hoje a uma velocidade perigosamente elevada sem que qualquer estratégia de marketing político contenha em tempo útil. E regra geral quando o faz, já se sentem os efeitos negativos dessa agressividade expressa nas redes sociais.
Hoje persiste a dúvida, que nem o marketing político responde e resolve cabalmente: o candidato é a primeira e a figura central na planificação e execução posterior de uma campanha eleitoral ou o partido no seu todo, a sua ideologia, a simbologia, as cores, as suas propostas, os manifestos, os demais candidatos e o líder é que influenciam os eleitores?
2. As campanhas eleitorais transformaram-se com o passar dos anos numa espécie de manta de retalhos, construída sobre a garantia de um espectáculo mediático propiciado pelos meios de comunicação social, particularmente pela televisão, que é preciso aproveitar. É nesse contexto que vejo os partidos e os seus candidatos, no cumprimento de uma agenda política, a saltitarem frenéticos de instituição em instituição, de organismo em organismo público e/ou privado, de associação em associação, numa sucessão de reuniões que em termos eleitorais - nada de confusões com a importância e contributos das referidas entidades não políticas, elas próprias ganhando espaço mediático para fazerem passar a sua mensagem - não são uma mais-valia nem garantem votos, mais parecendo nalguns casos uma absoluta perda de tempo, nem as declarações que se repetem no final de cada uma dessas reuniões, alinhadas quase sempre com os interesses das entidades em causa, dizem alguma coisa à esmagadora maioria dos eleitores, sobretudo aos milhares que não votam e que precisam de ser sensibilizados e mobilizados. Estamos a falar de entidades que podem ser contactadas ao longo do ano mas que exceptuando os períodos eleitorais muito raramente são procuradas pelos políticos. 
Acresce que focamos todos com a sensação de que se repete na campanha para as legislativas nacionais uma agenda política que praticamente foi religiosamente seguida nas regionais de Março deste ano? Falta de imaginação? Dificuldade na afirmação de um discurso que convença os eleitores? Receio de um contacto mais directo com os eleitores? Recusa de deslocação a áreas previamente consideradas eleitoralmente "hostis"? Por exemplo, usar a mesma terminologia da mudança e da renovação agitada nas regionais - chavões usados e repisados nas regionais, deixando hoje de fazer qualquer sentido - neste momento até poderia ter um efeito contrário ao desejado, o de poder transformar-se num apelo aos eleitores para que através do voto viabilizem uma mudança e uma renovação em termos da política nacional o que poderia trazer problemas mesmo na RAM.
Estamos a falar de eleições, as de 4 de Outubro, destinadas a eleger deputados à Assembleia da República, que rapidamente serão absorvidos pelos respectivos grupos parlamentares e obrigados ao rigoroso cumprimento de uma disciplina partidária da qual não podem abdicar. Aliás não é por acaso que tanto PSD e CDS como o PS parecem ter a intenção de obrigar os seus eleitos ao à aceitação do cumprimento de regras de disciplina funcional internas que impedirão situações  de "rebeldia" que muitas vezes não passam de invenções para que a comunicação social, avisada de véspera, as difunda.
Lembro que o novo líder trabalhista na Inglaterra, enquanto deputado, votou mais de 500 vezes contra as propostas do seu partido ou dos governos apoiados pelo seu partido. Isso na Assembleia da República, com estes partidos, com esta casta de dirigentes políticos agora promovidos ao poleiro, é impensável.
Hoje as campanhas eleitorais desenvolvem-se na lógica de que a comunicação social ao difundir notícias, muitas delas banalidades que não dizem nada aos eleitores, acaba por ser o veículo privilegiado para a realização de uma campanha eleitoral assente no marketing e para que se fale diariamente, na pré-campanha e na campanha eleitoral, de um  partido ou de um candidato. Aparentemente é o mesmo que acontece quando se trata de vender sabonetes ou vassouras. Os partidos, quer os que têm recursos mais escassos, quer os que alinham com a ideia de que é preciso manipular as pessoas fazendo a apologia, e por mera conveniência estratégica, fazem a apologia da contenção forçada nas despesas de campanha - esquecendo que os partidos quando concorrem a eleições têm deveres e responsabilidades acrescidas para com o povo, que podem não ser as mesmas que lhes são imputadas nos períodos não eleitorais, pelo que a opção pelo facilitismo de encararem a campanha não como um instrumento de contacto com o povo, de auscultação dos seus problemas e angústias, mas como um espectáculo mais ou menos mediatizado, sem relevância e que chega a roçar nalgumas situações cobertas o ridículo - não podem furtar-se às suas responsabilidades em períodos eleitorais. Fugir a essas responsabilidades de presença quotidiana na sociedade, de mobilização e de contacto com as pessoas é fomentar a abstenção e desacreditar os actos eleitorais. Estamos a falar de um acto eleitoral cujos encargos globais dificilmente deixarão de ascender a 10 ou mais milhões de euros!
3. Quando se fala em termos eleitorais do marketing político nos media, fala-se essencialmente da televisão que aos poucos tem substituído as acções de rua dos partidos e dos candidatos, cada vez menos interessados em contactos de rua com as pessoas. No fundo é compreensível que os candidatos do PSD e do CDS, apesar de concorrerem separados na Madeira, como se impunha, assim se comportem e tenham alguma dificuldade em se afastarem da governação nacional, da austeridade, de tudo o que aconteceu nestes quatro anos, já que não creio que o alívio ténue, perceptível nos últimos meses, faça esquecer esse passado e essa cumplicidade partidária regional para com os partidos nacionais. Os discursos que tentam vender aos eleitores gato-por-lebre - e destaco particularmente a "cassete" de José Manuel Rodrigues que procura, repetidamente, distanciar-se do CDS de Portas, na compreensível procura de um espaço próprio de afirmação que lhe permita passar por entre os pingos-da-chuva, como se nada tivesse a ver com a governação nacional - chegam a ser patéticos e não tenho dúvidas que são liminarmente rejeitados pelo povo, cada vez mais informado e esclarecido sobre tudo o que se passa à sua volta em termos políticos e de governação. Há uma dificuldade acrescida e, por isso, é natural que os candidatos a deputados, neste contexto, principalmente os do PSD e do CDS, bem como os do PS - até porque a governação socialista entre 2005 e 2011 não está esquecida nesta campanha, pelas consequências da mesma na vida dos portugueses - fiquem com um espaço de manobra muito mais reduzido comparativamente a outros momentos e a outras candidaturas em tempos de vacas-gordas e onde a austeridade não deixou tantas e profundas marcas sociais na sociedade portuguesa em geral como agora aconteceu.
4. Por exemplo, como é que os candidatos e os partidos vão mobilizar a classe média - claramente visada pela austeridade, diria mesmo deliberadamente visada pela coligação PSD-CDS, numa espécie de ajuste de contas ideológico - fazendo-a votar a 4 de Outubro? Como é que partidos e candidatos esperam que a classe média em particular e os eleitores flutuantes em geral, aceitarão as propostas daqueles que os lixaram de uma maneira geral, ou preferirão as propostas alternativas (se é que elas existem) da oposição? Os partidos e os candidatos vão reunir-se com quem neste caso concreto da classe média que em meu entender tem sido a principal causadora do crescimento absurdo da abstenção e de uma certa mudança eleitoral no país?
E como é que os candidatos e os partidos ouvem o que os reformados e os pensionistas têm a dizer, as queixas que fazem ou as reivindicações que podem ter? E quanto aos jovens sem emprego e obrigados a emigrar, como é que os partidos e os candidatos de uma maneira geral os vão mobilizar? Reunindo com organismos ligados à juventude? Dará isso votos? E nem estamos a falar das poucas dezenas de militantes das estruturas partidárias de juventude que são convocadas a acompanhar a campanha eleitoral numa disponibilidade e voluntariado que se repete sempre que há eleições. Estamos a falar do cerne dos problemas centrais da juventude, da falta de esperança e de empregos, da descrença na política e nos políticos, etc. Por acaso serão o marketing eleitoral ou a comunicação política mais sofisticada quem resolverá estes problemas todos? Acham que tudo isto se compara a um mero vender de sabonetes, vassouras ou desodorizantes? Não.
A certa altura, e os factos são esses, as campanhas eleitorais dos partidos - e entre os partidos mais pequenos e com menos recursos, isso sente-se de forma acrescida - centraram-se na ocupação do espaço televisivo concedido nos noticiários, pelo que a realização de reuniões que, repito, eleitoralmente não dizem rigorosamente nada às pessoas nem as mobilizam ou estimulam, acabam por ser a solução mais fácil, mais barata e mais cómoda para os candidatos que deste modo fogem, no caso de alguns deles, de outros palcos onde inevitavelmente ocorre o contacto mais directo e exposto com os eleitores, confrontando-se com as suas reclamações, críticas, reclamações, frustrações e exigências.

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