Esta campanha está inundada de sondagens e até de tracking polls. É difícil calcular quais estão mais certas ou erradas, mas há indicadores comuns que vale a pena destacar. A principal é a ideia de que o PS atingiu um teto máximo, que já só pode furar através do voto útil à esquerda. A segunda é que PSD e CDS, depois de terem chegado a valores historicamente muito baixos, estão a recuperar parte dos eleitores que tinham perdido nos primeiros anos da governação. Não se sabe qual das tendências vai prevalecer, mas é óbvio que, do ponto de vista aritmético, a margem potencial da coligação é superior.
Nas últimas eleições PSD e CDS somaram 50% dos votos, enquanto o PS ficou abaixo dos 30%. Este simples facto não define nada de forma clara, mas devia servir de ponto de partida para muitas análises. Sobretudo, porque dá uma ideia bem diferente da criada ao longo dos últimos quatro anos em que a popularidade do governo caiu a pique. Não porque essa queda não tenha existido - existiu e foi abrupta e profunda -, mas porque a margem de recuperação de eleitorado próximo nunca desapareceu.
Este é o principal facto que se retira das sondagens, a par da fraca votação de pequenos e novos partidos. Depois do resgate e de anos de austeridade profunda, era absolutamente natural que o sistema partidário fosse fortemente abalado. Mas, ao contrário do que aconteceu nas europeias e na Madeira, nenhuma sondagem indica que os pequenos e novos partidos façam grande mossa no sistema clássico.
Esta é a segunda novidade. A terceira é o facto de existir alguma apatia e/ou resignação que indiciam, uma vez mais, grande abstenção e indiferença. Depois de tudo o que se passou antes e depois do resgate, era normal que houvesse uma grande mobilização. Nada o indica e de nenhum dos lados da barricada.
A quarta novidade é que a ideia de que PCP e Bloco podiam somar 20% - números que se repetiram durante algum tempo na legislatura anterior -, parece afastada. E isso acontece porque o PS conseguiu recuperar uma boa parte desse eleitorado e é natural que ainda possa aprofundar essa tendência. O voto útil tende a crescer em momentos de incerteza de resultado ou de forte possibilidade do outro lado da barricada.
Um último ponto sobre as tracking polls que estão a ser feitas. A utilidade deste método não reside na fotografia que se tira diariamente, mas nas variações que existem, sobretudo as guinadas que decorrem da campanha. Estas sondagens contínuas são usadas há muitos anos pelos partidos políticos para afinar o discurso, reagir a temas urgentes e pouco mais. Serve mais de GPS afinado do que de radar, ou seja, mostra a estrada à nossa frente mas não facilita a visão aérea.
Entre barómetros, sondagens em urna ou telefónicas, amostras grandes ou pequenas, trancking poll ou estudos isolados, estas são as principais coisas a ter em atenção. Isto e as tendências de consolidação ou desvio que se venham a notar. O resto cabe, como sempre, aos eleitores, porque dia 4 é que se decide tudo" (texto do jornalista Ricardo Costa, publicado no Expresso, com a devida vénia)
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