As televisões portuguesas que não são inovadoras em nada - limitam-se a copiar o que aconteceu na Inglaterra antes das últimas eleições legislativas de Maio de 2015, e com os resultados que todos nos lembramos, já que um pretenso "empate técnico" entre trabalhistas e conservadores veio a transformar-se numa tremenda malha eleitoral dos conservadores de David Cameron - optaram pelas chamadas sondagens diárias que na realidade não passam de barómetros eleitorais e sociais que têm por base um mesmo universo de entrevistados durante algum tempo.
Recordo o que se passou em Maio de 2015 na Inglaterra: os conservadores somaram quase 11,4 milhões de votos contra 9,3 milhões de votos dos trabalhistas; os conservadores elegeram 331 deputados (quase 51% do total) contra 232 dos trabalhistas e 56 lugares dos nacionalistas da Escócia (1,5 milhões de votos). A taxa de participação foi de 66,1% quando as previsões apontavam para uma abstenção substancialmente superior aos 33,9% registados.
A ideia subjacente a este trabalho é manter o mesmo universo de participantes para perceber os motivos das oscilações dos diferentes partidos nos valores apurados e identificar os factores que contribuíram para a subida ou descida percentual dos partidos e/ou das coligações.
Na Inglaterra as televisões mantiveram essa técnica que acabou por ser desacreditada, já que os prognósticos apontavam todos para um "empate técnico" que na realidade não se confirmou, pondo em causa a metodologia adoptada, a seriedade das empresas promotoras, a competência e formação técnica dos funcionários destas empresas enviados para o terreno, os critérios subjacentes à selecção do universo de cidadãos envolvidos no projecto, as eventuais ligações (perigosas) entre essas empresas de sondagens e os partidos, os proprietários dos média e/ou alguns políticos ou empresários, etc.
Mais recentemente o alegado "empate técnico" na Grécia veio a revelar-se nas urnas um tremendo embuste, já que o Syriza ficou a apenas 6 deputados da maioria absoluta parlamentar e ganhou com uma folga da ordem dos 500 mil votos à Nova Democracia. Sei que tecnicamente há quem sustente que uma diferença de votos da ordem dos 500 mil votos pode ser considerada um "empate". Há empresas que partem dessa lógica com a qual não concordo. Mas o propalado "empate técnico" grego deixa de fazer sentido quando se esquecem, no caso concreto da Grécia, que o sistema eleitoral dá uma "oferta" de 50 deputados ao partido vencedor, prática que sem mantém há algumas décadas e que visa, no essencial, dar condições acrescidas ao partido vencedor para poder governar com uma representação parlamentar mais folgada do que a que elegeu em consequência da votação nas urnas. O que se passou na Grécia foi que a fiabilidade das sondagens voltou uma vez mais a ser posta em causa, já que 35,5% para o Syriza contra 28,1% da Nova Democracia pode ser tudo menos um "empate técnico". Mais, 145 deputados para o Syriza contra 75 da Nova Democracia num total de 300 mandatos, pode ser tudo o que lhe quiserem chamar, menos um "empate técnico" (mesmo sem a "oferta" dos tais 50 mandatos o partido de Tsipras elegeu 95 deputados que em nada correspondem a "empate técnico" ou coisa do género).
Coloca-se então um problema politicamente complexo e deontologicamente ainda mais complicado: estarão as chamadas sondagens diárias - às quais chamaria de barómetros de opinião e indicadores comportamentais - a ser usadas como instrumentos de pressão e de manipulação da realidade junto dos eleitores? O fracasso das previsões reflectidas nas sondagens na Inglaterra e na Grécia reforçaram as dúvidas de quem acha que para além da potencial promiscuidade entre os média e/ou os partidos e as empresas de sondagens, há que haver em períodos eleitorais uma regulação mais eficaz e com uma grande capacidade de intervenção, para que eventuais irregularidades ou manipulações sejam afrontadas sem receio.
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