Estudos de analistas mostram que o voto dos que se mantém indecisos na última semana não mudou os resultados nas anteriores quatro eleições. Abstencionistas também preocupam.
Patrícia Calçada tem 41 anos, trabalha no sector público, e desde sempre votou centro-direita, mas a quatro dias das eleições assume estar "francamente indecisa". Não sabe se vai votar na coligação, no PS ou no BE. "Há uma nova roupagem no Bloco que pode marcar a diferença. Tenho consciência que nem PS, nem direita terão maioria. Não sei mesmo o que fazer, vou decidir na hora".
Paula Santos também ainda não decidiu em que quadrado vai pôr a cruz no domingo, mas assume que deverá ser num partido que lhe pareça fazer "uma oposição construtiva". Joana Pina Cabral, 51 anos, reformada da banca, está indecisa entre votar em branco ou em Jerónimo de Sousa.
Patrícia, Paula e Joana fazem parte do bolo de cerca de 22% ou 28% de indecisos (varia de sondagem para sondagem) que, a uma semana das eleições de 4 de Outubro, ainda não sabem em quem vão votar. Uma fatia do eleitorado que, de escrutínio para escrutínio, baixou para perto dos 15% na última semana, mas que não determinou mudanças nos resultados finais do PSD ou PS.
Isto é, estudos feitos pelo Instituto de Ciências Sociais, liderados pelo sociólogo António Barreto, depois das eleições, com os que antes se tinham declarado indecisos, mostram que nas últimas quatro legislativas - 2002, 2005, 2009, 2011 - os que na última semana de campanha estavam indecisos acabaram por votar nas ‘franjas', sobretudo no CDS e BE. Os indecisos a um mês das eleições é que se foram distribuindo pelo PSD ou PS, mas muito antes da recta final, porque, explicam os analistas, os indecisos de última semana "são, normalmente, eleitorado de protesto e flutuante, sem posicionamento ideológico tradicional". Ana Silva é um desses casos: "Já votei em vários partidos mas, este ano, nenhum dos candidatos com possibilidades de chegar a primeiro-ministro me convenceu".
No seu blogue, o cientista político, Pedro Magalhães, escreve, depois de analisar o comportamento nas últimas eleições, que "ao passo que o CDS parece ter-se dado sempre melhor entre os eleitores que dizem ter decidido no final da campanha, o PSD deu-se sempre pior". E prossegue: "As diferenças entre os ‘early deciders' e os ‘late deciders' nunca foram dramáticas e nem sequer em 2002 serviram para mudar o desfecho principal". Mas se é verdade que, na última semana da campanha em 2011 (e também em 2009), o número de indecisos caiu para valores inferiores a 20%, este ano, as sondagens apontam para uma franquia acima dos 25%, a apenas quatro dias da ida às urnas. Ou seja, há mais indecisos de recta final.
Abstencionistas preocupam tanto quanto indecisos
Os analistas políticos avisam, até, que mais do que os indecisos, quem poderá determinar grandes alterações no resultado final face às sondagens (que têm dado vantagem à coligação sem maioria absoluta) são os chamados "novos abstencionistas" - o eleitorado tradicional do PSD que "está descontente" e que na hora pode "optar pela abstenção", explica ao Económico o politólogo José Adelino Maltez. Face a 2011, o PSD terá ‘perdido' cerca de 700 mil votos. Adelino Maltez avança mesmo que, nesta recta final, além de lutar por conquistar alguns indecisos descontentes com o PSD, a coligação está a lutar também para "evitar o abstencionismo tribal". Daí os cuidados em falar em maioria absoluta com convicção durante a campanha, "porque pode convidar à abstenção". E o mesmo se está a passar com o PS, embora em menor escala face ao risco de abstencionistas no seu eleitorado. Para Costa, a batalha passa mesmo por ir convencer estes indecisos de última semana. Sendo certo que nas quatro eleições anteriores o voto dos indecisos de última semana não alterou o resultado previsto nas sondagens para PS e PSD, os analistas Pedro Magalhães e José Adelino Maltez alertam que as legislativas desde ano têm a particularidade de se seguirem a um período de ‘troika' e grande austeridade, existindo um eleitorado "descontente" do PSD, que pode estar a engrossar o bolo dos indecisos. Pedro Magalhães lembra que nunca viu numa eleição um partido que vá à frente nesta altura não ganhar, mas Adelino Maltez entende que os abstencionistas podem "mudar tudo".
O Económico falou com indecisos que fogem da regra que se verificou nas anteriores quatro eleições e que garantem que daqui a quatro dias darão o seu voto à coligação ou ao PS. São indecisos de última semana, mas nem equacionam votar CDS ou BE, como tem sido costume. É o caso de Ana Esteves, 51 anos, desempregada. "Sempre votei no PS, mas em 2011 votei PSD para não votar Sócrates. Agora não sei. Acho que o Governo deve ser castigado, mas tenho medo que o PS estrague o que foi feito. Vou decidir mesmo em cima da hora". Maria Francisca, empresária em nome individual, também oscila entre o PS e a coligação e diz que ficou indecisa depois do debate entre Passos e Costa quando ouviu o líder do PS dizer que o primeiro-ministro deixou o país endividado em mais 30 mil milhões de euros. "Então passámos por privações tão grandes para no fim deixarem o país mais endividado?", questiona. "Gostava de ver alguém que nos explicasse, de uma forma clara, e séria onde é que se gasta tanto dinheiro" para se poder decidir entre Passos e Costa. Leonardo Sousa, 25 anos, é dos que pode entrar na coluna dos abstencionistas. Este jovem do Porto está indeciso entre ir votar ou votar em branco e diz mesmo que "a maioria dos colegas" do seu grupo - que moram quase todos na Foz (Porto) - "não irá votar em ninguém". E deixa clara uma mensagem: "Nada do que possam dizer [Passos ou Costa] me fará mudar de ideias" (texto da jornalista Inês David Bastos do Económico, com a devida vénia)
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