Dando por adquirido que nem coligação PSD-CDS nem o PS obterão a maioria absoluta que pretendem -embora não o assumam publicamente, apesar de alguns sinais nesse sentido deixados isoladamente pelos dois contendores - é bem possível que os deputados da Madeira e dos Açores possam ser decisivos para que socialistas ou coligação confirmem o triunfo eleitoral.
Desde logo é preciso ter presente que terminadas as eleições e divulgados os resultados oficiais, as coligações PAF (PSD e CDS) e CDU (PCP e Verdes) extinguem-se imediatamente, pelo que na Assembleia da República teremos deputados em representação de partidos e não de coligações. É bom que as pessoas tenham presente isto. No caso da Madeira e dos Açores a coligação PSD-CDS, ao contrário do que sucede a nível nacional, não foi formalizada o que implica que PSD e CDS se apresentam sozinhos. Isso nem sequer é novidade porque nos tempos da AD de Sá Carneiro e Amaro da Costa a decisão foi a mesma.
A polémica - em meu entender especulativa - instalada agora entre algumas das alcateias de comentadores partidários, esfomeados e desejosos de criarem factos políticos por antecipação, sobre os quais possam perorar, paira sobre o número de deputados. O método de Hondt não dá ao partido que não ganha o maior número de deputados, regra geral. Isso contudo pode acontecer porque os deputados são eleitos não num círculo único, mas distrito a distrito e região autónoma a região autónoma, o que pode apontar para esse desfecho. Convém sublinhar que isso nunca aconteceu, mas há umas aves de rapina que no quadro de uma descarada manipulação da opinião pública que por aí vai, sonham dia-sim-dia-não, com um cenário desse tipo, que inevitavelmente nos conduzirá, a prazo, a eleições antecipadas, caso se confirme a inviabilização de qualquer acordo parlamentar sólido. Previsivelmente.
Lembremos alguns indicadores associados às eleições de 4 de Outubro, porque nada mais concreto que eles:
Lembremos alguns indicadores associados às eleições de 4 de Outubro, porque nada mais concreto que eles:
- Considerando os resultados do recenseamento eleitoral à data de referência de 19 de Setembro de 2015 (data do encerramento dos cadernos para a eleição), podemos tirar as seguintes conclusões:
a) A chamada região norte - Braga, Bragança, Aveiro, Porto, Viana do Castelo, Vila Real, Viseu e Porto - tem 4.197.74 eleitores inscritos, correspondentes a 44,5% do total do pais (excluindo a emigração). Esta região elege 101 dos 230 deputados, ou seja, 43,9% do total dos mandatos;
b) A chamada região centro - Coimbra, Castelo Branco, Leiria, Santarém e Lisboa - tem 3.290.366 eleitores inscritos, correspondentes a 34,9% do total do pais (excluindo a emigração). Esta região elege 101 dos 79 deputados, ou seja, 34,4% do total dos mandatos;
c) A chamada região sul - Évora, Portalegre, Beja, Setúbal e Faro - tem 1.468.111 eleitores inscritos, correspondentes a 15,5% do total do pais (excluindo a emigração). Esta região elege 35 dos 230 deputados, ou seja, 15,2% do total dos mandatos;
d) É sabido que a emigração com 242.852 eleitores inscritos, 2,5% do total, elege 4 deputados, 1,7% do total. As Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores têm 483.276 eleitores inscritos, correspondentes a 5,1% do total do pais (excluindo a emigração). As "ilhas" elegem 11 dos 230 deputados, ou seja, 4,8% do total.
Muito sinceramente penso que já partidos que estão a cometer erros nesta campanha pois embora seja legítimo que se aposte num pais como um todo, sem diferenciar regiões em função dos eleitores inscritos, a verdade é que esses critérios terão que estar sempre, repito, sempre, presentes na planificação de uma campanha eleitoral. Acresce a isto que em termos eleitorais há uma diferença significativa nos votos obtidos pelo PS, PC, Bloco e Coligação PSD-CDS nas diferentes zonas do país. Por exemplo não vejo o PC ou o Bloco permanecerem demasiado tempo na zona de Viseu - o chamado "cavaquistão" - claramente de influência PSD nem vejo a coligação PSD-CDS andar a permanecer muito tempo no Alentejo, claramente uma área de influência do PC embora ultimamente disputada, ainda que de forma distante, também pelo PS.
Julgo que um dos segredos dos resultados dos barómetros diários e das sondagens semanais, no que à coligação PS-CDS diz respeito, tem a ver com a possibilidade de, concentrando esforços nas zonas do país onde claramente exercem algum predomínio eleitoral, PSD e CDS estarem a recuperar algum eleitorado que ao longo destes anos se distanciou dos dois partidos, que andou pela abstenção ou mesmo votou noutros partidos, mas que agora parece estar a ceder ao discurso do medo que Passo e Portas repetidamente fazem, todos os dias. E aparentemente com algum sucesso.
Ao invés disso, Costa revela-se demasiado fraco para as exigências que eram colocadas ao PS, lidera uma campanha mal estruturada, com falhas, com falta de recursos, sem grande capacidade de mobilização e que nada tem a ver com as duas anteriores de Sócrates. A realidade financeira do PS, a braços com uma dívida assinalável pode estar a condicionar tudo, mas a verdade é que vai sendo tempo de reconhecer que Costa, apesar de ter boas intenções, e não excluo isso, politicamente e mesmo eleitoralmente, não convence, não tem um discurso forte, não consegue encontrar uma linha de rumo no combate à coligação, revelando que se trata mais de uma figura urbana, para consumo, por exemplo em Lisboa e que tem dificuldade de afirmação no terreno, parece mal assessorado e numa campanha alargada a todo o país não consegue convencer nem impor o seu discurso do medo e conter o impacto do também discurso do medo dos adversários de centro-direita. Acresce que Passos e Portas, sobretudo este (a quem o PS chama de "snipper" da campanha pois cabe-lhe regra geral o ataque político do ataque mais violento a Costa e ao PS), têm uma enorme tarimba em campanhas eleitorais.
Finalmente um dos principais problemas de Costa e do PS, quiçá mesmo o principal, foi hoje denunciado por Silva Pereira - deputado europeu e ex-ministro de Sócrates - num texto de opinião no Económico intitulado "A esquerda está a brincar com o fogo": "Dispersar votos pelos pequenos partidos de protesto é oferecer outra vez a vitória à direita. Vale a pena pensar nisso antes que seja tarde".
Neste quadro parece-me evidente que a confirmar-se a tendência de algumas sondagens - não falo de barómetros diários que vale o que valem, zero, sobretudo depois do escândalo na Inglaterra e na Escócia - os deputados que PSD e PS possam eleger nas regiões autónomas da Madeira e doas Açores podem acabar por ser decisivos para a contabilização final do total de mandatos de cada partido.
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