Parecem favas contadas mas Miguel Albuquerque teme
a desmobilização do eleitorado. A aposta é jogar no tudo ou nada: ou há maioria
ou vou-me embora. O CDS está disponível para diminuir a sua representação nos
orgãos regionais, como quer o PSD/Madeira. Ainda não será desta que o PSD será afastado do poder na Região Autónoma
da Madeira. As sondagens confirmam-no e a fazer fé nos últimos dados Miguel
Albuquerque prepara-se para obter uma maioria absoluta reforçada. À boleia de
uma coligação que correu bem no último mandato, também Nuno Melo se prepara
para ter a primeira vitória depois da catástrofe das eleições legislativas de
janeiro de 2022, que despejaram da Assembleia da República um dos partidos
fundadores da democracia.
Quanto às restantes forças políticas que concorrem
às eleições, os resultados previstos não prometem motivos para grandes
festejos. É quase certo que na noite de 24 de setembro só Chega e IL poderão
ter motivos para cantar vitória, assegurando uma estreia na Assembleia Regional
da Madeira. Socialistas e Juntos Pelo Povo, as duas principais forças da
oposição, deverão sofrer uma queda significativa de votos e os comunistas
provavelmente deixam de ter representação na Assembleia Regional.
Albuquerque teme fantasma da abstenção
Numas eleições sem grandes riscos, Miguel Albuquerque tem-se esforçado por baixar a pressão e evitar o discurso da vitória antecipada. «Logo depois do discurso triunfal de Nuno Melo esta semana na Madeira, foi preciso vir baixar a expetativas», diz-nos um social-democrata da região. O PSD/Madeira teme que, estando enraizada a convicção de que a vitória está garantida, haja eleitores que desistam de ir às urnas.
A hipótese de uma abstenção elevada é o fantasma
que ensombra o ambiente de otimismo que se vive no quartel general de Miguel
Albuquerque. É por esta razão que o líder laranja se tem multiplicado nos
últimos dias a fazer um discurso de mobilização, deixando claro que, aconteça o
que acontecer, não há entendimentos com o Chega.
Numa entrevista à Renascença na passada quinta
feira, Albuquerque chegou mesmo a dramatizar e a garantir que, se não tiver
condições para governar apenas com o apoio da coligação PSD/CDS, abdica do
lugar. «Não tenho nenhum problema, não vou engolir sapos, nem vou fazer
coligações com partidos anti-autonomistas», afirmou.
Numa posição contrária à que assumiu no passado,
em que não excluia entendimentos com o Chega, Miguel Albuquerque optou agora
por seguir o caminho oposto.
Na reta final para as eleições, o presidente do
Governo Regional diz aos madeirenses que é tudo ou nada. Por outras palavras,
Albuquerque quer repôr a urgência na ida às urnas, dizendo aos eleitores que
não basta ganhar. É preciso garantir a maioria absoluta.
Depois das eleições é preciso renegociar com o CDS
Se a decisão de manter a coligação com os
centristas depois de quatro anos de convivência no Governo Regional não
levantou dúvidas ao PSD/Madeira, coisa diferente é a forma como se vai fazer o
equilíbrio de forças pós-eleições. Neste momento, o CDS tem a presidência da
Assembleia Regional e os secretários regionais da Economia e das Pescas. Agora,
e face às novas circunstâncias, avolumam-se as vozes no interior do partido
para que seja revista a partilha de lugares.
Em causa está a presidência da Assembleia
Regional, que os sociais-democratas querem reaver. Na verdade, a cedência do
lugar ao centrista José Manuel Rodrigues nunca foi bem aceite pelas estruturas
locais do PSD. E agora é unânime a opinião de que este lugar deve regressar ao
PSD.
«Há uma coligação eleitoral que se desfaz por lei
no dia das eleições, a qual foi imposta por chantagem do centrista José Manuel
Rodrigues: ‘ou sou o Presidente da Assembleia ou junto-me ao partido
socialista’. E foi. E é. E espero que não seja mais. pelo menos voto nessa
convicção. Foi a nossa nódoa negra em quase cinquenta anos de democracia». As
palavras são de Miguel Sousa, um dos mais influentes sociais-democratas da
Madeira, num artigo de opinião publicado no Diário de Notícias da Madeira, e
expressam uma posição unânime no partido.
CDS aposta no balão de oxigénio vindo da Madeira
O tema não deverá levantar discussão de maior no
interior da coligação. Uma fonte centrista diz ao Nascer do SOL: «Primeiro
temos de vencer as eleições e depois se trata do resto com humildade e respeito
pelos eleitores».
Os centristas esperam que o dia 24 de setembro
marque o início de um novo ciclo no partido. O passado recente (PSD e CDS
governaram em coligação na última legislatura) justifica a coligação com o PSD
e afasta a leitura de que o partido tem medo de ir a votos sózinho. Mas a
verdade é que esta é uma coincidência que dá muito jeito ao partido liderado
por Nuno Melo. «Os resultados dos últimos quatro anos de governação PSD/CDS na
região dão-nos grande confiança de vencer estas eleições com enorme humildade e
respeito pelos eleitores. Superámos coletivamente a pandemia, mobilizámos
apoios sociais e económicos. A economia madeirense cresceu 25% desde 2019,
temos a maior população empregada de sempre na Madeira. Há estabilidade
política, confiança e investimento das empresas e compromisso social com as
famílias». As declarações são de um responsável centrista que aposta na extrapolação dos resultados na Região para
o que poderia ser a influência do partido numa governação nacional, como
argumento para reconquistar o eleitorado perdido no país.
Satisfeitos com a clareza com que Miguel
Albuquerque exclui qualquer entendimento com o Chega, os centristas apontam
para os problemas que o partido de André Ventura tem causado nos Açores,
ameaçando quebrar o acordo com o Governo de coligação à primeira dificuldade.
Não podia haver melhor circunstância para o CDS
regressar às urnas do que a que vai contecer a 24 de setembro e a direção do
partido sabe disso. A estratégia é mostrar coesão com o PSD e não levantar
problemas, mesmo que, como é certo, o CDS venha a perder poder na coligação. O
tempo é para rentabilizar o que é bom e desvalorizar contratempos.
E, no caso das coisas correrem bem, como é que o CDS vai tirar partido de um bom resultado? A resposta já está a ser ensaiada e é-nos dada por quem está a redefinir a estratégia dos centristas: «Estas eleições marcam o início de umciclo eleitoral e são muito importantes para o CDS. Mostram que o CDS realmente é um partido de quadros, com experiência e vocação de governo, com sentido de Estado e com credibilidade para integrar uma solução de centro-direita estável que inicie um novo ciclo político em Portugal depois do desastre que tem sido a governação socialista» (Sol)
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