terça-feira, setembro 26, 2023

Sondagem: Mais de um terço dos jovens não têm habitação estável

Mais de metade dos que vivem em situação precária não conseguem arrendar casa ou ter acesso a crédito. Baixos salários apontados por 49% como principal explicação da crise. Mais de um terço dos jovens (36%) e um terço dos adultos (33%), entre os 35 e 49 anos, não têm habitação estável. A maioria porque não consegue aceder ao crédito ou pagar os valores de renda pedidos no mercado. Na sondagem feita pela Aximage para o DN/ JN e TSF, quase metade dos portugueses culpa os baixos salários e não a inflação ou a especulação imobiliária pela crise na habitação.

Do quarto da população que não tem uma situação de habitação estável, 36% responde que não consegue arrendar por causa dos preços, 16% não têm acesso a crédito, 15% pagam a renda com dificuldade, 13% já recorreram a pais e amigos para pagar as prestações ao banco, 7% já admitiram entregar a casa e outros 7% já tiveram de partilhar o alojamento com familiares ou terceiros. Neste grupo com situação habitacional precária, 41% diz que procura casa há mais de um ano. Para 90% dos portugueses a crise na habitação é grave ou "muito grave" (57%), especialmente para os mais jovens dos 18 aos 34 anos (60%) e adultos entre os 35 e 49 anos (62%).

Em risco de ir para a rua

Quase metade (49%) apontam os baixos salários como fator a contribuir para a crise. Mais do que o preço das rendas (36%), a inflação (31%) ou a pouca oferta no mercado (11%). Em julho, de acordo com um estudo da agência Century 21 Portugal, a renda média em Lisboa superou os 1400 euros e quase atinge o salário médio bruto pago em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, no segundo trimestre do ano: 1539 euros. O valor médio do metro quadrado para compra de casa só é inferior ao de Paris de acordo com a plataforma de dados europeus imobiliários, Casafari. E a bitola da capital serve para subir os preços no resto do país.

É uma bomba relógio. Para dia 30 está agendada nova marcha pela habitação em diversas cidades no país como Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Aveiro e Faro.

Ontem, a Associação dos Inquilinos e Condóminos do Norte de Portugal pediu medidas urgentes ao Governo para ajudar as famílias que "estão em risco de acabar na rua por não poderem pagar a casa".

Já a associação dos Inquilinos Lisbonenses alerta para uma situação "insustentável". "O mercado da habitação está já com preços totalmente incomportáveis para a generalidade das famílias", frisou António Machado, assegurando que para muitos agregados a taxa de esforço já é superior a 50%.

A ministra da Habitação reuniu esta semana com representantes dos inquilinos e proprietários, prometendo que vai "avaliar" as propostas apresentadas pelas várias entidades sobre a atualização das rendas para 2024 e tomar uma "decisão equilibrada". A maioria PS voltou anteontem a aprovar, no Parlamento, sem alterações, o pacote "Mais Habitação", depois do veto do presidente da República em agosto. A Oposição entregou mais de 320 propostas de alteração, todas chumbadas.

As críticas ao programa não se cingem aos partidos, inquilinos, proprietários. Também os autarcas contestam algumas medidas.

Entre as medidas mais contestadas destaca-se a suspensão do registo de novos alojamentos locais fora dos territórios de baixa densidade ou o arrendamento coercivo pelos municípios de imóveis devolutos há mais de dois anos.

O presidente dos autarcas do PSD, Helder Sousa Silva, defende que o pacote "é uma mão cheia de nada" que não irá resolver a falta de casas no país.

Medidas

Rendas em 2024: A ministra da Habitação, Marina Gonçalves, ainda não revelou qual o valor da atualização das rendas em 2024.

Prestações: O Governo aprovou mecanismo para a famílias pedirem aos bancos uma prestação fixa, durante dois anos, por um valor mais baixo. O montante em dívida não é amortizado, sendo os acertos pagos daqui a quatro anos.

FICHA TÉCNICA

Sondagem de opinião realizada pela Aximage para DN/JN/TSF. Universo: Indivíduos maiores de 18 anos residentes em Portugal. Amostragem por quotas, obtida a partir de uma matriz cruzando sexo, idade e região. A amostra teve 804 entrevistas efetivas: 696 entrevistas online e 108 entrevistas telefónicas; 380 homens e 424 mulheres; 181 entre os 18 e os 34 anos, 210 entre os 35 e os 49 anos, 225 entre os 50 e os 64 anos e 188 para os 65 e mais anos; Norte 281, Centro 177, Sul e Ilhas 123, A. M. Lisboa 223. Técnica: Aplicação online (CAWI) de um questionário estruturado a um painel de indivíduos que preenchem as quotas pré-determinadas para os indivíduos com 18 ou mais anos; entrevistas telefónicas (CATI) do mesmo questionário ao subuniverso utilizado pela Aximage, com preenchimento das mesmas quotas para os indivíduos com 50 e mais anos e outros. O trabalho de campo decorreu entre 14 e 18 de setembro de 2023. Taxa de resposta: 71,52%. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,5%. Responsabilidade do estudo: Aximage, sob a direção técnica de Ana Carla Basílio (DN-Lisboa, texto da jornalista Alexandra Inácio)

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