quinta-feira, setembro 21, 2023

Um em cada três europeus vota em partidos populistas, aponta estudo: Europa bate recordes de votos na extrema direita e esquerda

Quase um terço dos europeus votam agora em partidos populistas, de extrema-direita ou de extrema-esquerda, segundo revelou esta quinta-feira o jornal britânico ‘The Guardian’, que deu ênfase a um estudo que mostrou o amplo apoio à política anti-establishment que tem surgido por toda a Europa. De acordo com uma análise realizada por mais de 100 cientistas políticas de 31 países, nas eleições nacionais de 2022 houve um número recorde de 32% dos eleitores europeus a votar em partidos anti-establishment, em comparação com 20% no início da década de 2000 e 12% no início da década de 1990 – cerca de metade destes eleitores apoiam partidos de extrema-direita, uma tendência eleitoral que tem vindo a aumentar rapidamente.

“Há flutuações mas a tendência subjacente é que os números continuem a aumentar”, referiu Matthijs Rooduijn, cientista político da Universidade de Amesterdão, nos Países Baixos, e autor do estudo. “Os partidos tradicionais estão a perder votos; os partidos anti-establishment estão a ganhá-los. É importante, porque muitos estudos mostram agora que quando os populistas asseguram o poder, ou influenciam sobre o poder, a qualidade da democracia liberal diminui.” Em 2023, foram identificados 234 partidos anti-establishment em toda a Europa, incluindo 165 partidos populistas (a maioria de extrema-esquerda ou de extrema-direita).

O populismo divide a sociedade em dois grupos homogéneos e opostos, um “povo puro” contra uma “elite corrupta”, argumentando que a política deve ser uma expressão da “vontade do povo”. Os seus apoiantes garantem ser um corretivo democrático, que privilegia a pessoa comum em detrimento das elites, dos interesses instalados e de um sistema estabelecido.

“Para os populistas, tudo o que se interpõe entre ‘a vontade do povo’ e a elaboração de políticas é mau”, sustentou Rooduijn. “Isso inclui todos os travões e contrapesos vitais – uma imprensa livre, tribunais independentes, proteções para as minorias – que são uma parte essencial de uma democracia liberal.”

Os exemplo já abundam na Europa: ao autoproclamado líder iliberal da Hungria, Viktor Orbán, e ao partido governante ‘Lei e Justiça’ da Polónia, há já vários líderes e partidos populistas de extrema-direita com responsabilidades de Governo, incluindo Giorgia Meloni em Itália e, na região nórdica, o partido Finlandês e os Democratas Suecos, aderiram recentemente ou estão a subscrever coligações governamentais.

Há também partidos que registam um grande aumento de popularidade: o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) está confortavelmente à frente nas sondagens a um ano das eleições, a AfD da Alemanha duplicou nas intenções de voto, para 22%, enquanto Marine Le Pen parece no bom caminho para ter a sua melhor corrida até à presidência francesa.

Três partidos nativistas de extrema-direita na Grécia conquistaram assentos parlamentares na votação de Junho, e enquanto em Espanha o Vox perdeu mais de um terço dos seus deputados em Julho, os partidos populistas e insurgentes poderiam decidir, nas próximas eleições entre agora e Novembro, os governos de Eslováquia, Polónia e Países Baixos.

Uma multiplicidade de fatores é responsável por esta tendência, sublinharam os investigadores. “Os partidos de extrema-direita, em particular, alargaram realmente a sua base eleitoral e estão a formar coligações de eleitores com preocupações muito diferentes”, referiu Daphne Halikiopoulou, cientista política da Universidade de York, do Reino Unido. “O grande problema deles sempre foi a imigração. Isso ainda existe mas as preocupações culturais representam agora apenas uma pequena parte do seu eleitorado. Foram muito além do núcleo de seguidores, capitalizando toda uma série de inseguranças dos eleitores. Estão a diversificar.” (Executive Digest, texto do jornalista Francisco Laranjeira)

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