terça-feira, setembro 26, 2023

Sondagem Presidenciais: Guterres não teria rival à Esquerda, Mendes e Passos empatam à Direita


Entre os eleitores do PSD, o ex-primeiro-ministro é o favorito para as presidenciais. Entre socialistas, Ana Gomes empata com Santos Silva. Faltam mais de dois anos para as eleições presidenciais, não há candidatos assumidos, apenas desejos ou intenções. E em muitos casos o silêncio. Mas já há favoritos que se destacam dos restantes. Mais para a Direita, de acordo com uma sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, Marques Mendes (20%) só terá caminho aberto se Pedro Passos Coelho (20%) deixar. Mais para a Esquerda, Guterres é o mais desejado (34%), mas é líder das Nações Unidas e nada indica que queira abreviar o mandato, que só termina em 2026. E, se assim for, é Ana Gomes (19%) quem se destaca na área socialista, face a personalidades como Mário Centeno (12%) ou Augusto Santos Silva (8%).

Os inquéritos para esta sondagem foram feitos na semana passada. Mas não se perguntou aos portugueses a quem entregariam o seu voto. Porque os resultados de uma sondagem sobre intenções de voto seriam pouco úteis numa lista com vários candidatos da área social-democrata e socialista. No final, como quase sempre (mas nem sempre), cada um dos dois grandes partidos dará o seu apoio a um único candidato. Esta sondagem testou, portanto, de forma separada, uma lista de nomes à Esquerda e uma lista de nomes à Direita, para se tentar perceber quem são, nesta altura, os favoritos dos portugueses. Nomes que têm sido referidos no espaço público como presidenciáveis, mesmo sabendo-se que vários não parecem interessados em apresentar uma candidatura.

Candidatura em "prime time"

É na área mais à Direita que a competição parece, nesta altura, mais renhida, com destaque para dois nomes: Marques Mendes, que lançou uma espécie de candidatura em "prime time" televisivo, no final de agosto; e Pedro Passos Coelho, que tem mantido o máximo de discrição sobre um eventual regresso à política ativa. Estão ambos empatados nos 20%, embora o antigo ministro de Cavaco e Durão e agora comentador tenha vantagem nas casas decimais.

Sucede que isso é assim quando a pergunta é feita a todos os portugueses. Se se analisar os resultados apenas entre os eleitores do PSD, percebe-se que o ex-primeiro-ministro só não será o candidato do partido se não quiser: neste segmento fundamental para um candidato presidencial mais à Direita, Passos tem uma vantagem de 21 pontos percentuais sobre Mendes e de 24 pontos sobre Rui Rio, que é o terceiro na lista de favoritos.

Rio lidera na região norte

O antigo presidente da Câmara do Porto e até ao ano passado líder do PSD é um "candidato" com uma clara delimitação territorial: na Região Norte lidera isolado a lista de favoritos à Direita, na Área Metropolitana do Porto está tecnicamente empatado com os dois nomes mais fortes, mas, do Douro para baixo, os resultados são bastante fracos. Curiosamente, onde Rio é menos apelativo (Centro e Sul), é André Ventura que consegue o terceiro lugar.

Se se fizer o exercício de tentar perceber qual dos candidatos à Direita poderá ser mais abrangente, e partindo do princípio de que as eleições se ganham ao centro, Marques Mendes é o candidato mais promissor, uma vez que, entre os eleitores socialistas, tem nove pontos de vantagem sobre Rio e 19 pontos sobre Passos. Ao contrário, a sondagem mostra que este último entra com maior facilidade do que o seu principal rival no eleitorado do Chega e da Iniciativa Liberal.

Depois de Guterres, Ana Gomes

Na área mais à Esquerda, se António Guterres quisesse (ou pudesse, uma vez que o seu mantado como secretário-geral da ONU só termina no final de 2026, vários meses depois das eleições presidenciais), não haveria grandes dúvidas: é o claro favorito do conjunto dos portugueses (34%) para uma candidatura e vence em quase todos os segmentos da amostra. Aliás, entre os eleitores socialistas, aqueles que, em princípio, mais contam, até alarga a sua vantagem (40%) sobre os restantes.

Guterres, no entanto, é um candidato que dificilmente se materializará. E quando se analisa o pelotão que segue atrás de si, também não há dúvidas sobre quem se destaca: Ana Gomes, que concorreu em 2021 contra Marcelo Rebelo de Sousa, sem o apoio do PS, arranca um sólido segundo lugar, com uma percentagem praticamente igual à dos dois principais favoritos à Direita (19%), deixando Mário Centeno a sete pontos e, mais significativo ainda, Augusto Santos Silva a 11 pontos. A socialista consegue, aliás, ficar à frente de Guterres entre o eleitorado mais jovem (18 a 35 anos).

Santos Silva com pouco gás

Recorde-se que o atual presidente da Assembleia da República é quase uma espécie de candidato pré-designado pela elite dirigente dos socialistas. Ou, pelo menos, é assim que tem sido tratado no espaço mediático e político. E os seus resultados, pelo menos nesta sondagem, não condizem com a ambição. Não passa dos 8% e fica até atrás de Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal (que termina o mandato em 2025, mesmo a tempo de formalizar uma candidatura, se for essa a sua intenção).

Mas há um campeonato em que, apesar de tudo, Santos Silva consegue empatar com Ana Gomes: no segmento dos eleitores socialistas marcam ambos 15%, dois pontos mais do que Centeno. As boas notícias restantes voltam a ser para Ana Gomes: se a ideia for ir buscar votos mais à Direita, a socialista leva larga vantagem sobre Santos Silva entre os eleitores do PSD e os liberais (e neste segmento até volta a bater Guterres) e só fica a perder no Chega; se a ideia for ir buscar votos mais à Esquerda, volta a ser a socialista mais bem colocada, mesmo que perca para Francisco Louçã entre os bloquistas e para João Ferreira entre os comunistas.

Segmentos da amostra

Desequilíbrios de género, só à Direita: O empate entre Mendes e Passos desfaz-se quando se detalha os favoritos de homens e mulheres: Mendes é favorecido pelas mulheres (mais cinco pontos do que entre os homens), exatamente a mesma diferença que faz de Passos um candidato "mais masculino". As escolhas à Esquerda são bastante homogéneas: o maior desvio é para Guterres, com mais dois pontos entre os homens.

Pensionistas castigam ex-primeiro-ministro: No que diz respeito aos escalões etários, a maior vantagem de Passos Coelho sobre Marques Mendes é nos que têm 35 a 49 anos. Mas o segundo compensa com uma vantagem larga nos mais velhos (talvez ainda tenham na memória os congelamentos e os cortes das pensões nos tempos da troika). Entre os mais jovens é onde há mais equilíbrio e uma surpresa: Ventura empata com Passos no primeiro lugar.

Ana Gomes campeã dos mais jovens: A unanimidade em torno de Guterres só se desfaz entre os mais jovens (18 a 34 anos), que preferem Ana Gomes. Nos mais velhos (65 ou mais anos), um segmento mais importante do que os outros na hora do voto, Santos Silva cola-se à antiga embaixadora, que só tem um ponto de vantagem. Centeno e Ferreira têm melhores resultados nos mais novos e Louçã destaca-se no que têm 50 a 64 anos.

Divisões de classe entre Mendes e Passos: Quando o ângulo de análise são as classes sociais, há uma divisão clara nas escolhas mais à Direita: Marques Mendes lidera nos dois segmentos com os rendimentos mais baixos; Pedro Passos Coelho nos dois que têm rendimentos mais altos. À Esquerda, sucede nas classes sociais o mesmo que noutro tipo de segmentos: António Guterres sempre em primeiro, Ana Gomes sempre no segundo lugar.

FICHA TÉCNICA

Sondagem de opinião realizada pela Aximage para DN/JN/TSF. Universo: Indivíduos maiores de 18 anos residentes em Portugal. Amostragem por quotas, obtida a partir de uma matriz cruzando sexo, idade e região. A amostra teve 804 entrevistas efetivas: 696 entrevistas online e 108 entrevistas telefónicas; 380 homens e 424 mulheres; 181 entre os 18 e os 34 anos, 210 entre os 35 e os 49 anos, 225 entre os 50 e os 64 anos e 188 para os 65 e mais anos; Norte 281, Centro 177, Sul e Ilhas 123, A. M. Lisboa 223. Técnica: Aplicação online (CAWI) de um questionário estruturado a um painel de indivíduos que preenchem as quotas pré-determinadas para os indivíduos com 18 ou mais anos; entrevistas telefónicas (CATI) do mesmo questionário ao subuniverso utilizado pela Aximage, com preenchimento das mesmas quotas para os indivíduos com 50 e mais anos e outros. O trabalho de campo decorreu entre 14 e 18 de setembro de 2023. Taxa de resposta: 71,52%. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,5%. Responsabilidade do estudo: Aximage, sob a direção técnica de Ana Carla Basílio (DN-Lisboa, texto do jornalista Rafael Barbosa)

Sem comentários: