Se eu tivesse
influência alguma legislativa - e alguns políticos têm-na - uma das medidas que
procuraria adoptar, sem hesitar, seria a proibição da publicação de sondagens
durante os períodos de campanha eleitoral, passando ao lado dos trabalhos
realizados junto dos cidadãos no dia da eleição.
Considero que a
publicação de sondagens durante a campanha eleitoral é passível de constituir
um insulto aos eleitores, à democracia, aos partidos e aos seus candidatos, no
fundo podem constituir um atentado contra o próprio acto eleitoral.
Considero que um
acto eleitoral não deve ser perturbado por sondagens que têm sempre um efeito
múltiplo, na medida em que podem ser alvo de percepções diversas e, pior do que
isso, podem originar leituras e projecções antagónicas e distorcidas que, em última
instância, podem colocar em causa a liberdade das pessoas e o trabalho dos
partidos e dos seus candidatos durante os tais dias de campanha eleitoral.
Reparem que obviamente não falo de sondagens publicadas na pré-campanha
eleitoral, porque quanto a isso nada tenho a dizer. Limito-me, repito, ao
período oficial de campanha eleitoral.
Sempre achei que a
proliferação de sondagens - e ainda bem que nos últimos tempos, por razões de
ordem financeira (uma sondagem eleitoral tem cada vez mais um custo elevado
para a realidade actual, quer dos partidos, quer sobretudo dos meios de
comunicação social, mergulhados como estão numa crise generalizada que precisa
ser assumida, debatida internamente e discutida externamente, sem complexos,
com vista à procura de soluções concretas, elas são cada vez menos - condiciona
as campanhas eleitorais, desmobiliza as pessoas, pode alimentar a abstenção,
fomenta a descrença entre eleitores e candidatos, afecta o discurso dos
partidos e pode, em último grau, desrespeitar a liberdade do eleitorado.
Eu não entendo
como é que ainda há quem ainda acredite que uma democracia e a liberdade dos
cidadãos a ela associada, podem ser construídas e mantidas sem partidos
políticos e sem uma comunicação social forte, livre e estabilizada. É um facto,
e lamenta-se, que infelizmente, nos últimos anos, os partidos (por causa da
proliferação de casos degradantes associados a situações pouco abonatórias,
sobretudo no domínio da corrupção) e os meios da comunicação social
(pressionados pela libertinagem das redes sociais e por mecanismos de
comercialização indevida dos mídia fortemente penalizadores das empresas) não
atravessam num momento favorável.
Acresce que, para
mim, as sondagens antecipam especulativamente cenários que em muitas situações
nada têm a ver com a realidade, porquanto muitas vezes divulgam dados sem
correspondência com a realidade. Isto não é colocar em causa a liberdade, nem
política nem de imprensa, porque respeitar a liberdade em campanha eleitoral é
não incomodar os cidadãos nem andar a sugerir cenários de pretensos vencedores
e alegados derrotados, catalogação que distorce a realidade e representa uma
ofensa a um período demasiado importante para ser alvo de aproveitamento
oportunista, seja por quem for. Acresce também - e durante anos andei
"nisto" das campanhas - que muitas vezes os partidos realizam
sondagens que não divulgam, são apenas referências para as estruturas que
coordenam as campanhas eleitorais e para os dirigentes e alguns candidatos
desses partidos. Lembro-me que o PSD-Madeira, há uns anos, realizou uma sondagem
pormenorizada, concelho a concelho, com outros indicadores que transcendiam
saber a opção de voto dos inquiridos, trabalho realizado por uma empresa da
especialidade mas que nunca foi divulgado.
É sabido que uma
sondagem hoje publicada no JM atribui à coligação PSD-CDS - uma coligação de
dois partidos, e não apenas a um partido como aconteceu entre 2007 e 2019 -
34,9% dos votos e 26 mandatos. Em 2019 os dois partidos totalizaram 45,8% dos
votos e elegeram 24 deputados...
Lembro, a
propósito, que desde 2007 (ano em que pela primeira vez foi adoptada a nova lei
eleitoral regional assente num círculo regional único) tivemos o seguinte
quadro:
- 2007 - PSD, 64,2% dos votos, 33 deputados (70,2% dos mandatos)
- 2011 - PSD, 48,6%, 25 deputados (53,2%)
- 2015 - PSD, 44,4%, 24 deputados (51,1%)
- 2019 - PSD, 39,4% dos votos, 21 deputados (44,7% dos mandatos)
Perante a realidade destes números, percebo perfeitamente que Miguel Albuquerque tenha reagido com cautela advertindo o eleitorado "que possa ficar mais tranquilo perante a vantagem perspectivada na sondagem: “Vou continuar a fazer o apelo ao voto, porque uma sondagem, quando estamos à frente, tem o aspeto negativo de desmobilizar” o eleitorado, disse" (LFM)
Sem comentários:
Enviar um comentário