domingo, setembro 17, 2023

Razia no jornal “A Bola”

Pouco tempo depois de ter iniciado um processo de rescisões por mútuo acordo, a empresa suíça Ringier Sports Media Group (RSMG), os novos donos do jornal “A Bola”, do canal Bola TV, e da revista “AutoFoco”, desencadeou um processo de despedimento coletivo que abrange 81 trabalhadores do desportivo, confirmou o Expresso.A empresa notificou na sexta-feira passada os trabalhadores da intenção de recorrer a este mecanismo; aos quais acrescem cerca de 20 já abrangidos pelas rescisões. Feitas as contas, o grupo de media prepara-se para dispensar quase 70% dos cerca de 150 trabalhadores do jornal.

TRABALHADORES NOTIFICADOS

As empresas Vicra Desportiva e a Vicra Comunicações, cujos quadros correspondem à edição de “A Bola” e ao canal de televisão Bola TV, iniciaram o processo de despedimento coletivo no passado dia 8 de setembro. Os trabalhadores abrangidos tinham, de acordo com o estipulado no Código do Trabalho, cinco dias úteis para criar uma comissão representativa após a comunicação de intenções.

Não foram comunicadas razões para o despedimento coletivo, nem métodos de cálculo das indemnizações, nem prazo para conclusão do processo, três exigências da lei laboral nos processos do género. Não ficou esclarecido se o despedimento coletivo se sucede às rescisões amigáveis, ou se, em alguns casos, se substitui administrativamente aos acordos celebrados inicialmente com os trabalhadores para garantir a estes o acesso ao subsídio de desemprego. Quase 70% da redação vão ser dispensados pelos novos donos do desportivo

Entretanto, no grupo de Facebook da União Audiovisual, a associação de técnicos do sector acusa a Ringier de despedir “sem critério a totalidade dos seus técnicos (continuidade, assistentes de estúdio, realizadores, operadores de grafismo, técnicos de áudio, editores de vídeo e de infografismo) sem lhes prestar qualquer tipo de esclarecimento ou aviso prévio. Encontram-se agora a chamar freelancers e a contratar pessoas para os mesmos postos de trabalho”, o que poderá constituir uma ilegalidade de acordo com o Código do Trabalho.

“Agradece-se a colaboração dos camaradas que ao serem chamados para trabalhar ali se recusem a fazê-lo. Aos que precisarem muito do dinheiro e tenham de o fazer, endereço total compreensão”, acrescenta a publicação na rede social.

RINGIER NÃO COMENTA

A Ringier não respondeu às questões do Expresso sobre o processo de reestruturação, nem sobre eventuais irregularidades com a contratação de freelancers. “Já afirmámos e mantemos que ‘A Bola’ mais do que um jornal é uma instituição respeitada no panorama dos media em Portugal e no mundo. E o RSMG está totalmente empenhado não só em preservar o seu legado como em garantir o seu futuro”, segundo nota remetida ao Expresso. “Temos a convicção profunda que o nosso futuro newsroom [redação] integrado, que vai unir estratégias de conteúdo para jornal, digital e televisão, será um marco nos media em Portugal”, acrescentou.

Sobre se a edição em papel e o canal de televisão continuarão a operar, a Ringier garante que “A Bola” continuará a sua periodicidade diária e as suas emissões em A Bola TV.

“No que diz respeito ao processo de reestruturação, como já comunicámos anteriormente, temos em curso um processo de tomada de decisões sobre o qual não iremos falar até que o mesmo esteja devidamente concluído”, remata.

A Ringier concluiu em julho a compra da Sociedade Vicra Desportiva, dona dos títulos “A Bola”, com edições em papel, digital, e com um canal de televisão, A Bola TV; e da “AutoFoco”, revista para o sector automóvel. Antes da aquisição, a Sociedade Vicra Desportiva era controlada em 90,2% pela Vicontrol SGPS, empresa detida por Mário Jorge de Melo Arga e Lima, de acordo com os dados constantes do portal da Transparência da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). Em 2021, a Sociedade Vicra Desportiva tinha um passivo de €14,6 milhões. As receitas nesse ano alcançaram os €8,7 milhões. Os lucros, por sua vez, fixaram-se nos €356,7 mil.

O grupo suíço Ringier AG é a casa-mãe da subsidiária RSMG. Tem operações em 19 países na Europa e em África através de 140 empresas e conta com 6400 trabalhadores no quadro de pessoal, segundo a descrição na página de internet da empresa. Além de meios de comunicação, a Ringier tem no seu portefólio de negócios plataformas de venda de bilhetes e sites de classificados.

NÚMERO

81, é o número de trabalhadores abrangidos pelo despedimento coletivo do jornal “A Bola”, a que se somam cerca de 20 que tinham acedido a rescindir com a empresa (Expresso, texto do jornalista (PEDRO CARREIRA GARCIA)

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