domingo, julho 17, 2022

Sondagem: Portugal deve reforçar a NATO. Mas baixar dívida pública é mais importante

Cresce o apoio à opção de evitar o confronto direto com os russos. Mas aumenta o pessimismo quanto à duração da guerra na Ucrânia: será de mais de um ano, segundo 47% dos inquiridos. A maioria dos portugueses concorda com o reforço dos meios de combate da NATO (65%) e com a participação de Portugal nesse esforço militar (57%). Mas é um compromisso limitado. Porque a maioria também acompanha a ordem de prioridades de António Costa: a redução da dívida pública é mais importante do que aumentar o orçamento da Defesa (57%). De acordo com a sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF, cresce o pessimismo quanto à duração do conflito na Ucrânia: são agora 47% os que apontam para mais de um ano de guerra (16% em março). Foi no final de junho, na cimeira de Madrid, que os líderes da NATO tomaram uma decisão histórica: a força pronta a entrar em combate vai multiplicar-se por sete e passar de 40 mil para 300 mil militares. Dois terços dos portugueses estão de acordo com a decisão (65%), justificada com a ameaça russa. São um pouco menos, mas ainda maioritários (57%), os que concordam com a necessidade de Portugal acompanhar esse reforço, ainda que isso implique um aumento dos gastos com a Defesa. Os mais empenhados são os homens (69%) e os que têm 65 ou mais anos (71%).

ATENÇÃO ÀS CONTAS CERTAS

Recorde-se que os países da NATO têm o compromisso de fazer chegar os seus gastos com a Defesa a 2% do Produto Interno Bruto (PIB). No caso de Portugal, significaria passar dos atuais 2,3 mil milhões de euros para mais de quatro mil milhões por ano. Não parece ir tão longe, nem a ambição do Governo, nem a dos portugueses. No final da cimeira da NATO, António Costa lembrou que a situação financeira do país é frágil. E deixou claro que, entre Defesa e redução da dívida pública, é esta última que leva primazia. E 57% dos portugueses concordam com o primeiro-ministro (apenas 15% discordam), com destaque para os eleitores socialistas, liberais e comunistas. Quando se pergunta aos portugueses sobre a posição híbrida da NATO relativamente à invasão - apoio à Ucrânia, sem intervir diretamente na guerra com a Rússia -, são cada vez mais os que concordam com essa posição: 52% em abril, 56% em maio e 60% em julho. Essa percentagem é particularmente elevada em alguns segmentos da amostra: os mais velhos (77%); os socialistas (71%); e os que têm maiores rendimentos (69%).

HOMENS MAIS MILITARISTA

Ainda assim, e no caso de a situação evoluir para um envolvimento direto da NATO na guerra, são mais os que apoiariam o envio de tropas portuguesas para Ucrânia (51%) do que os que rejeitam essa possibilidade (26%). Os mais militaristas são os homens (mais 19 pontos que as mulheres), os mais velhos (mais 15 pontos que os mais novos) e os mais ricos (mais 13 pontos que os mais pobres). Os que mais resistem à possibilidade de enviar jovens militares para a guerra, mesmo quando estamos no mero campo das hipóteses, são as mulheres (mais 14 pontos que os homens) e os mais pobres (mais sete pontos que os mais ricos).

HIPÓTESE DE GUERRA NUCLEAR

Por outra pergunta se percebe, no entanto, que apenas um quinto dos portugueses imagina que a guerra venha a ganhar dimensão e a envolver mais países: 15% pensam que se vai evoluir para uma guerra convencional à escala mundial, enquanto 5% lhe juntam a previsão de uma guerra nuclear. Ainda assim a previsão que merece maior número de respostas é a que aponta para a Ucrânia a ceder território à Rússia (23%). Outros 9% apontam para um final ainda menos promissor para os ucranianos: Moscovo vai vencer a guerra, Não obstante, menos do que os que acreditam na vitória da Ucrânia e dos seus aliados (16%). Independentemente do resultado, quase metade dos inquiridos (47%) já aponta para que a guerra se prolongue por pelo menos mais de um ano. Os pessimistas são agora três vezes mais do que em março passado (16%).

Governo mantém a nota negativa no combate à crise

Já não sobra quase ninguém que não tenha sentido o impacto da guerra. Os portugueses continuam a fazer uma avaliação bastante negativa da resposta do Governo à crise económica que a guerra aprofundou. Mesmo que os números sejam mais simpáticos neste mês de julho, o saldo é de 21 pontos percentuais negativos (em junho eram 32 pontos). De acordo com a sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF, só há dois segmentos da população em que o saldo é positivo (mais avaliações positivas do que negativas): entre os que têm 65 ou mais anos (por escassos dois pontos positivos) e entre os eleitores socialistas (sete pontos). Entre as avaliações negativas destacam-se os habitantes do Norte, as mulheres e os mais jovens, para além dos eleitores do Chega e da Iniciativa Liberal.

Menor poder de compra

À medida que os meses passam, são cada vez menos os inquiridos que dizem não ter sentido ainda o impacto da guerra: apenas um em cada dez, com destaque para quem vive na região de Lisboa (14%) e os que têm entre 18 e 34 anos (17%). É sobretudo na diminuição do poder de compra (por efeito da inflação galopante, que em junho chegou aos 8,7%) que o conflito e a crise subsequente mais se fazem sentir (65%). E pelo menos um quinto dos portugueses (20%) já deixou de comprar determinados produtos e bens que costumava incluir no seu cabaz de compras habitual (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa)

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