domingo, julho 17, 2022

Sondagem: Quebra no PS e subida do PSD deixam esquerda e direita empatadas


Os últimos três meses fizeram mossa nos socialistas: a inflação, que reduziu o poder de compra; a novela do aeroporto, que pôs a nu a falta de coordenação política; e o fecho sucessivo de Urgências hospitalares, que abalou a confiança no Serviço Nacional de Saúde, atiram o PS para 35,8% nas intenções de voto, segundo a sondagem da Aximage para DN, TSF e JN. O PS baixa cinco pontos relativamente a abril, o PSD sobe outros tantos e fica com 30,1%. Feitas todas as contas, apresenta-se um cenário virtual inédito nos últimos dois anos: esquerda e direita parlamentar valem os mesmos 46 pontos. Três meses em política podem ser, de facto, uma eternidade. Foram, pelo menos, os suficientes para pôr em causa a estabilidade de um governo que conquistou, em janeiro, a maioria absoluta. Não só António Costa e os seus principais ministros são avaliados de forma negativa (incluindo a, até aqui, campeã de popularidade, Marta Temido), como o PS, se houvesse hoje eleições, teria uma quebra assinalável. Seria o vencedor, mas já não teria sequer garantida uma maioria de esquerda no Parlamento. Esta é, aliás, outra das principais novidades do barómetro da Aximage (que passou a ter uma periodicidade trimestral): se somarmos os resultados dos vários partidos da direita parlamentar, há um empate a 46 pontos com a esquerda (mesmo que seja pouco credível que a "geringonça" se repita, nos anos mais próximos, depois da acrimónia que levou à queda do governo anterior). Note-se, no entanto, que o PSD dependeria sempre do Chega para formar um bloco alternativo de poder.

Desgaste de Costa

Entre PS e PSD há agora escassos seis pontos de diferença. Em janeiro a distância foi de 12 pontos. Mas a aproximação ficará mais a dever-se ao rápido desgaste de António Costa do que à mudança de líder no PSD. Luís Montenegro terá pacificado o partido (como confirmam as votações no respetivo Congresso), mas ainda não entusiasma os portugueses (estreia-se nas avaliações com saldo negativo e perde para André Ventura quando se pergunta quem é a principal figura da oposição). O fim do vazio do poder no PSD foi ainda assim suficiente para recuperar parte do pecúlio perdido para a Iniciativa Liberal em abril. E, à conta disso, os liberais (agora com 6,1%) perdem o terceiro lugar que tinham conquistado ao Chega. Os radicais de direita não só estão de regresso ao pódio (10,2%), como crescem quase três pontos relativamente às Legislativas. Iniciativas como a moção de censura poderão estar a render juros, pelo menos a curto prazo.

Montenegro estreia-se com saldo negativo e perde na confiança

Luís Montenegro estreia-se sem grande brilho no barómetro da Aximage para o DN, TSF e JN: fica com saldo negativo na avaliação dos portugueses, ainda que por apenas um ponto. E perde claramente para António Costa, quando se pergunta quem merece mais confiança para primeiro-ministro. Como prémio de consolação terá de servir o enorme trambolhão do líder do PS, que passa de um saldo positivo de 19 pontos (em abril) para um saldo negativo de oito (em julho). Em terreno positivo, este mês, só o liberal João Cotrim de Figueiredo. No pouco tempo que Montenegro leva no cargo poderá estar parte da explicação para o seu resultado pouco vincado. E isso percebe-se melhor quando se contabilizam os inquiridos que revelam alguma indiferença relativamente ao social-democrata: 59%, somando os que não têm opinião (21%) e os que se refugiam numa avaliação neutra (38%). Note-se que consegue avaliação positiva no Porto, no centro, entre os que têm 18 e 34 anos, e nos que fazem parte da classe média baixa. Em terreno positivo neste barómetro fica o líder dos liberais: no mês de abril já o tinha conseguido por um escasso ponto, agora são quatro. Mas sofre do mesmo mal da indiferença de Montenegro. Algo que não se pode dizer nem de Jerónimo de Sousa (o líder com pior avaliação), nem de André Ventura (o penúltimo deste ranking).

Comunistas a descer

Se à direita o cenário é de reforço (em comparação com os resultados das Legislativas, todos crescem), à esquerda, a fragilização do PS não é compensada por alguns ganhos do Bloco de Esquerda (5,6%, mais um ponto e meio que em abril) e do Livre (2%, mais meio ponto). Até porque, ao contrário, os comunistas continuam em trajetória descendente (3,3%, menos um ponto percentual), porventura castigados pelas suas posições públicas sobre a guerra na Ucrânia (como a recusa do líder, Jerónimo de Sousa, em admitir que está em curso uma invasão russa). No fundo da tabela estão o PAN (que respira um pouco melhor do que em abril, com 1,9%) e o CDS, que parece ter esgotado o efeito da novidade do líder. Passada a cobertura mediática que essa eleição gerou, os centristas pagam o preço de estarem fora do Parlamento e descem para 1,4%.

PSD à frente no norte

Na análise ao resultado por regiões dos dois principais partidos, há uma alteração substancial relativamente a abril: o PSD de Montenegro ultrapassa o PS de Costa no norte e leva dez pontos de vantagem. O melhor resultado dos socialistas já não é em Lisboa, mas é na região da capital que a vantagem para os sociais-democratas é maior (13 pontos).

Chega virado a sul

O Chega surge nesta sondagem muito alicerçado nas duas regiões mais a sul, incluindo a capital, o que constitui uma novidade. O BE consegue o terceiro lugar no centro e no norte, enquanto a Iniciativa Liberal fecha o pódio na Área Metropolitana do Porto.

Testosterona eleitoral

Há partidos que têm demonstrado de forma consistente uma maior dependência do eleitorado masculino. E essa tendência mantém-se: são os casos do Chega, da CDU e do CDS, em que os eleitores homens são o dobro das mulheres. O maior desequilíbrio para a metade feminina regista-se no PAN, em que elas mais do que duplicam o eleitorado masculino.

Mais velhos com o PS

Apesar do desgaste, o PS continua a ter o seu principal pilar entre os mais velhos (44%), que, aliás, são os que menos se abstêm de votar. A novidade deste barómetro, por comparação com abril, é que o PSD passa para a frente na faixa etária anterior, dos 50 aos 64 anos, com 37,7%.

Comunistas envelhecidos

O Chega está em terceiro nos dois escalões mais jovens e com uma força inusitada entre quem tem 18 e 34 anos. Os bloquistas são os maiores entre os mais pequenos no caso da faixa dos 50/64 anos, enquanto os comunistas ficam no pódio entre os que têm 65 ou mais anos.

Abstenção feminina

A abstenção é mais elevada entre as mulheres (50,8%), com valores muito semelhantes aos mais jovens. Mas onde o desinteresse pela ida às urnas bate recordes é entre os mais pobres e uma classe média baixa. Também há diferenças regionais importantes, com o norte a registar 49% de abstencionistas (DN-Lisboa, texto do jornalista Rafael Barbosa)

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