segunda-feira, julho 18, 2022

Nota: registei as declarações de Montenegro nos Açores

Escrevi aqui, antes do final do 40º Congresso nacional do PSD, que não gostava de Montenegro e que não votaria nele em directas, opinião assente nas ligações tidas com o "passismo" de má memória para o PSD, pelas acções persecutórias que manteve em relação aos deputados da Madeira que votavam contra o orçamento de estado passista que sistematicamente passou quatro anos a lixar a Madeira.

Mas também disse, apesar dessa sombra que vai perseguir Montenegro - aliás há sondagens que já o demonstram essa desconfiança dos eleitores - que era tempo de atirar isso para o lado e de acreditar que o PSD precisa criar condições para construir uma liderança forte, que seja capaz de marcar a diferença, de construir alternativas, de se reaproximar das pessoas e de abandonar de vez os tiques de arrogância patética que Passos Coelho encarnou. O PSD sofre hoje os efeitos do legaqo dessa escumalha que em 2010 tomou de assalto o poder no PSD em nome de interesses corporativistas que depois foram sendo descortinados, com as ajudas da troika, com a banca e as grandes empresas em lugar de destaque, além da venda ao desbarato de empresas públicas.

Montenegro, a partir do momento em que foi eleito para a liderança do PSD, ou é apoiado ou não. Ninguem é obrigado a apoiar seja quem for, ninguém é obrigado a não apoiar. No meu caso dou uma oportunidade a Montenegro, apesar do clarmoso erro cometido recentemente na gestão do processo de eleição do líder parlamentar, ao não atribuir pelo menos um lugar entre os vice-presidentes a uma das regiões autónomas, sabendo-se que Madeira e os Açores são os únicos locais de relevo onde o PSD ainda é poder, se bem que apenas graças a coligações circunstanciais. De resto o PSD foi escorraçado de todo o lado. Foi um erro lamentável que temo possa revelar os tiques centralistas que ainda condicionam o PSD e sobretudo os tiques centralistas e autoritários que podem marcar a liderança de LM e que se extendem ao grupo parlamentar do PSD em São Bento que espero não tenha a ousadia de repetir a relação persecutória com a RAM. Embora eu saiba, e sei mesmo, que existiam nessa altura razões combinadas para isso, já que LM cumpria ordens de deliberada obstaculização da governação regional de Alberto João Jardim.

Dito isto, gostei dos compromissos asumidos por LM nos Açores. Não sei se foi apenas para ser simpático por estar no congresso regional do PSD-Açores. Mas registei e gostei dos compromissos deixados, mesmo que eu tenha muitas dúvidas que o PSD - salvo se ocorrerem factos anormais que acelerem a queda do PS e do seu governo central, regresse ao poder já em 2026. Antes disso precisa encarar de forma arrojada as europeias de 2024 e depois das autárquicas de 2025. Sem esquecer as regionais de 2023 na Madeira e de 2024 nos Açores. E Montenegro sabe que o seu futuro, em 2026, depende do que acontecer nesta sequência eleitoral. O resto é conversa da treta.

Ou seja, pelo que disse nos Açores - o Congresso Nacional no Porto foi mero show-off que ja caiu no esquecimento - LM consegue convencer-me, pelo menos até ver o que tudo isto esconde, quer em termos de hipocrisia, quer em termos de coerência e cumprimento. E também, e sobretudo, em termos de manutenção da identidade programática e ideológica próprias do PSD, em vez de andarem a transformar o PSD num partido de negociatas por causa do poder, refém de chantagens ou de pressões de coligações que não representam nenhuma mais-valia para ninguém. LM tem o dever de impedir a descaracterização de um partido farto das asneiradas de elites medíocres e de lideranças incompetentes e vazias, que por lá têm passado desde a crise económica, orçamental e social de 2010 e 2011, com o PS e José Sócrates, e que deixaram como legado o perigo do PSD se extinguir, depois de copiosa e repetidamente derrotado nas urnas e de perder votos em cada acto eleitoral realizado. (LFM)

Sem comentários: