quinta-feira, julho 21, 2022

Nota: O estranho problema do discurso do PSD de Montenegro

Não consegue. Tal como aconteceu com Rio. O PSD não consegue demarcar-se do "passismo" que tanto o penalizou. Mais do que isso, o PSD não consegue lembrar aos portugueses, e manter essa ideia permanentemente acesa, que foi com o governo de José Sócrates, em 2011, que a troika foi chamada a um Portugal falido. Melhor, lembrar e insistir, por muito que isso doa, que as três intervenções externas do FMI ou da troika (FMI, BCE e UE) em Portugal até hoje foram todas da responsabilidade de governos socialistas. 

O governo de Passos-Portas, eleito em 2011, apesar dos excessos para agradar Merkel, limitou-se a cumprir o cardápio imposto pelos financiadores de um Portugal sem dinheiro nem para pagar os salários dos seus funcionários públicos! O problema não foi apenas o "passismo". Também foi, pela desumanidade evidenciada - pelo liberalismo criminoso e pela protecção dos capitalistas, das grandes empresas, da banca falida mas "mansa", pelo processo de privatizações aceleradas, com formalizações das vendas feitas pela noite dentro como foi o caso da TAP, etc - na implementação cega de medidas penosas.

O problema, sobretudo para os portugueses e para o PSD, foi o facto de Passos ter pretendido, e fê-lo várias vezes, ser mais "papista que o Papa", ou seja, ir mais longe, ser mais agressivo, ser mais patife do que aquilo que a troika exigia ao responder perante os financiadores externos - BCE, FMI e UE.

Sucede que o PS, desde 2015, sabe usar a governação de Passos e as medidas tomadas, nomeadamente as que geraram mais desemprego, mais empobrecimento, maior redução do poder de compra, cortes nos salários e nas pensões, etc, e não olharam a meios para penalizarem as pessoas, os serviços públicos, etc, tudo em nome de um legado pós-troika que não abona a favor do PSD e que tem sido a causa do fracasso, do definhamento eleitoral e de uma travessia do deserto que ninguém sabe quando e se, acabará. E como, e com que consequências.

Portanto, enquanto o PSD não resolver este problema, enquanto não for capaz de justificar aos portugueses todo o processo de governação do "passismo", vai ser sempre penalizado pelo discurso da propaganda socialista que foi um desastre ainda maior que foi o legado dos governos de Sócrates dos quais António Costa fez parte em posições de destaque.

Ou seja, o PSD ou é incompetente, o que se lamenta, e usa paninhos quentes" com medo da contra-resposta do PS, ou o PS é mais matreiro e sabe que basta usar até à exaustão a mesma lenga-lenga da governação da coligação Passos- Portas para dar cabo de qualquer estratégia dos laranjas. Pelo incómodo que se nota, repetidamente, o PS de Costa sabe que sempre que fala nesse período (2011-2015) e nas medidas tomadas por aquela dupla, o PSD abana os alicerces e roça o descontrolo político.

Mesmo com uma nova liderança, mas isso vale o que vale, porque Montenegro foi um dos mais activos e conhecidos protagonistas desse período negro para o país, os portugueses e o PSD. Que abriu caminho à geringonça, deixando que Costa brilhasse no aproveitamento dos efeitos de algumas das medidas tomadas até 2015, aproveitamento acelerado pela rápida melhoria da conjuntura europeia e internacional. Entretanto, tudo mudou, com a pandemia, a guerra na Ucrânia e a inflação globalizada e descontrolada!

Já todos percebemos que Montenegro fica irritado, não devia, sempre que lhe atiram à cara o "passismo" e falam da sua forte, factual e indesmentível ligação, preponderante ligação, a esse tempo. Não devia irritar-se por que enquanto for líder do PSD, já percebemos isso, não consegue fazer esquecer esse facto. E, mais do que isso, também já percebemos todos que o PS, seja através de Costa, seja através de qualquer outro elemento mais político (os cinzentos da política não entram neste filme e são dispensáveis), vai atirar-lhe sempre isso à cara. Não vamos discutir responsabilidades nem de quem é a culpa, particularmente quando se tenta ressuscitar demasiado cedo nomes que foram dos mais penosos. Só faltava agora que Montenegro se deslocasse a Nova York para trazer de novo o Gaspar que fugiu para o FMI e para mais de 25 mil dólares de ordenado, mais mordomias, depois de num supermercado em Lisboa, só por milagre e ajuda policial, não ter levado um enxerto de porrada popular, merecido, diga-se em abono da verdade, atendendo ao que fez e como fez. Aliás, talvez a explicação para o facto, segundo as sondagens, de os eleitores mais idosos aparentemente estarem a manter alguma fidelidade de voto com o PS, resida aqui, na conjugação do aumento das pensões promovido por Costa e nestas memórias de um passado recente, que deixou muitas marcas sociais dramáticas e desnecessárias, que não se apagam de um momento para outro, Muito menos no PSD, que sabe que é por causa dos efeitos da governação violenta e desumanizada desse tempo que está a realizar uma penosa travessia do deserto de onde nunca vai sair se continuar a manter a postura elogiosa que Montenegro adopta relativamente a um tempo que é para esquecer. Acresce que todo este gás do novo líder do PSD, que aposta muito na recuperação do espaço mediático para ser ouvido e visto, vai obviamente fechar-se aos poucos, porque 4 anos e meio é tempo demasiado de espera e ter a obrigação de ganhar eleições até 2026, acaba por ser uma empreitada que Montenegro só a muito custo conseguirá, se é que conseguirá fazê-lo.

Factos

António Costa foi Ministro de Estado e da Administração Interna do XVII Governo Constitucional, de 12 de Março de 2005 a 17 de Maio de 2007, liderado por José Sócrates. Foi Ministro da Justiça do XIV Governo Constitucional, de 25 de Outubro de 1999 a 6 de Abril de 2002, com António Guterres em primeiro-ministro. Foi Ministro dos Assuntos Parlamentares do XIII Governo Constitucional, de 25 de Novembro de 1997 a 25 de Outubro de 1999, de novo com António Guterres na liderança do governo. Foi Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares do XIII Governo Constitucional, de 30 de Outubro de 1995 a 25 de Novembro de 1997, com António Guterres.

As intervenções do FMI em Portugal

Portugal já foi intervencionado três vezes pelo Fundo Monetário Internacional. A primeira foi em 1977, seguiu-se a de 1983 e por fim 2011.

A primeira intervenção, em 1977, aconteceu num período em que o país registava uma taxa de desemprego superior a sete por cento, os bens estavam racionados, a inflação era crescente chegando a alcançar os 20%, havia forte conflitualidade política e o escudo estava desvalorizado. No poder um governo socialista liderado por Mário Soares.

A segunda intervenção, em 1983, dá-se durante o período do chamado bloco central, um Governo de aliança entre PS e PSD, liderado por Mário Soares. Foi quase um Governo de emergência nacional, criado por se considerar que seria a melhor forma de combater a grave situação económica do País.

O pedido de apoio repetiu-se em 2011, numa altura em que as finanças públicas estavam de novo à beira da rutura, uma vez mais com um governo socialista liderado desta vez por José Sócrates.

Mas será que existem dúvidas quanto a tudo isto? Então se o PS enverda pelo caminho de lembrar o passado, qual a dificuldade do PSD em responder com a mesma moeda? Não entendo (LFM)

Sem comentários: