domingo, julho 31, 2022

Os números das desigualdades territoriais em Portugal Continental

O ECO faz um retrato dos cinco grupos no mapa de Portugal Continental segundo o estudo “Territórios de bem-estar: assimetrias nos municípios portugueses”, da Fundação Francisco Manuel dos Santos. “O bem‑estar percebido relaciona‑se com as oportunidades e as condições de emprego, equilíbrio trabalho e vida familiar, qualidade das relações sociais, oferta e condições de habitação ou segurança e melhores ou piores condições de acesso a serviços e equipamentos próprios do Estado social”. Estes são os pilares do estudo “Territórios de bem-estar: assimetrias nos municípios portugueses”, publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

O ECO Local Online faz um retrato dos cinco territórios do estudo coordenado por Rosário Mauritti, professora no ISCTE, que “identifica as diferentes configurações e perfis de bem‑estar e de desigualdade social dos municípios de Portugal Continental”. Estes cinco territórios são territórios industriais em transição, territórios intermédios, territórios urbanos em rede, territórios inovadores e territórios de baixa densidade. Em cada um dos territórios estão agrupados os municípios de Portugal Continental que têm características semelhantes, como densidade populacional, e perfil educativo, socioprofissional e rendimentos das populações. Além de classes sociais, estrutura de idades e mobilidade. Entretanto, os investigadores selecionaram cinco municípios portugueses ilustrativos de cada um dos perfis territoriais identificados. São eles Póvoa de Lanhoso, Portalegre, Portimão, Oeiras e Mação.

Territórios Industriais em Transição

Este cluster abrange 13% dos territórios e 17% da população total. Cerca de 80% dos territórios deste agrupamento (28 de um total de 35 municípios) são posicionados nas NUTS II do Norte e 20% do Centro – “envolvendo de forma incidente, a norte, concelhos das sub‑regiões de Vale do Ave, Tâmega e Sousa, Cávado, e também quatro dos 17 municípios da Área Metropolitana do Porto (AMP)”, lê-se no estudo. Já no Centro estão posicionados seis dos 11 municípios da sub‑região de Aveiro/Beira Litoral.

Neste território, as novas indústrias têm vindo a reforçar o emprego no terceiro setor e na economia digital. Contudo, ainda convivem com indústrias de trabalho pouco qualificado e baixos salários. “O custo crescente da habitação é uma preocupação“, segundo a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Cerca de 83% da população não tem mais do que o ensino básico e apenas 10% em estudos de nível superior. Os rendimentos brutos médios anuais da população rondam os 9.381 euros por ano.

Territórios Intermédios

Este grupo territorial contempla Alto Minho, sub-regiões das Beiras e Serra da Estrela, Estremadura e Médio Tejo, Lezíria, Alto Alentejo e Alentejo central e Litoral, além de alguns municípios do Algarve. É nos territórios intermédios que vive 21% da população, sendo predominantemente mais idosa. Este território caracteriza-se por ter trabalhadores menos qualificados, com um baixo nível de habilitações literárias, que se dedicam principalmente aos setores da agricultura e da indústria. O operariado representa 29%. O trabalho assalariado de base nos serviços pessoais, de proteção e segurança, bem como nas atividades de comércio e apoio administrativo, também assume protagonismo com cerca de 35% da população como empregados executantes. Os rendimentos brutos médios anuais rondam os 10.784 euros por ano.

Territórios Urbanos em Rede

Engloba municípios de todas as regiões do continente, incluindo parte dos concelhos de Lisboa e do Porto com 41% da população concentrar-se nos territórios urbanos em rede, onde a dinâmica económica e social é intensa. Com grande potencial de crescimento demográfico, este território apresenta um emprego mais precário, sendo a conciliação do trabalho com a vida familiar mais difícil do que noutros territórios.

É o cluster com maior capacidade relativa de crescimento populacional, mas é igualmente o aquele onde a população com 65 ou mais anos mais cresceu, entre 2001 e 2011. Cerca de dois terços da população tem, no máximo, o ensino básico. É neste território que se regista ainda a maior concentração de empregados executantes (39%), ou seja, trabalhadores administrativos, dos serviços comerciais, pessoais, de proteção e de segurança; a que se seguem 23% de profissionais técnicos e de enquadramento. O rendimento médio bruto anual neste cluster é de 12.603 euros.

Territórios Inovadores

Englobam as sedes das duas regiões metropolitanas de Lisboa e do Porto, além de Coimbra e três dos “concelhos-satélite” da Área Metropolitana de Lisboa (Oeiras, Cascais e Alcochete). É nestes territórios que reside 13% da população e em cidades densamente povoadas, com uma forte capacidade de atração de empresas. Este território caracteriza-se pela inovação científica e tecnológica, assim como pela aposta em trabalhadores com elevadas qualificações.

Cerca de 35% dos trabalhadores são profissionais técnicos e de enquadramento e 16% são dirigentes de empresas e profissionais liberais altamente qualificados O padrão de rendimentos médios brutos anuais está acima da média registada noutros territórios (18.053 euros por ano).

Territórios de Baixa Densidade

Este cluster é habitado por 8% da população total (738 mil pessoas) e inclui concelhos das regiões de Trás-os-Montes, Douro e Alto Minho, e das regiões da Beira (especialmente Beiral Alta e Beira Baixa). O Alentejo (com 22% de representação neste cluster) marca aqui também presença, com incidência no Alto e no Baixo Alentejo. São cidades de pequena dimensão e zonas rurais periféricas. “Estes municípios envelhecidos têm cada vez menos população, pouca criação de emprego e fraca capacidade económica”, lê-se no estudo.

Quanto às classes sociais, constata-se uma presença expressiva de trabalhadores de serviços de base (35%), com profissões de serviços pessoais e de cuidado, de vendas e de segurança, e também segmentos de assalariamento na agricultura e na indústria (0 – 30%). No que toca à mobilidade, 21% da população trabalha ou estuda noutro município. O rendimento médio bruto anual neste cluster é de 8.990 euros (ECO digital, texto da jornalista Susana Pinheiro)

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