domingo, julho 24, 2022

Opinião: "Assegurar a estabilidade de preços"

 

O aumento das taxas de juro constitui um momento marcante no nosso percurso para uma inflação mais baixa. A inflação é demasiado elevada. A guerra da Rússia na Ucrânia provocou um aumento dos custos energéticos e dos produtos agrícolas. A escassez de materiais, de equipamento e de mão-de-obra resultante da pandemia também está a fazer subir os preços. Esta situação prejudica as pessoas e as empresas na área do euro, em especial as que têm rendimentos baixos. Muita desta inflação está a ser impulsionada por factores que os bancos centrais não podem controlar. O que podemos fazer, contudo, é assegurar que a inflação não se torna persistente. É o que poderia acontecer, caso as subidas de preços se generalizassem na economia e as pessoas começassem a contar com uma inflação mais elevada no futuro. Nesse cenário, deparar-nos-íamos com as espirais salários-preços que historicamente conduziram a uma inflação descontrolada.

Por este motivo, na quinta-feira, os meus colegas do Conselho do Banco Central Europeu (BCE) e eu decidimos aumentar as taxas de juro da área do euro em 0,5 pontos percentuais, terminando o período de oito anos de taxas negativas. Estamos unidos no compromisso de assegurar que a inflação regressa ao nosso objectivo de 2% a médio prazo.

Trata-se do primeiro aumento das taxas de juro em 11 anos. No entanto, representa apenas a etapa mais recente do nosso percurso no sentido da cessação das medidas especiais que tivemos de tomar para combater uma série de crises. Iniciámos esse percurso em Dezembro de 2021, quando anunciámos a descontinuação do nosso programa de compra de obrigações no contexto da pandemia, que ajudou a área do euro a enfrentar as repercussões económicas da crise da covid‑19. No mês passado, suspendemos outro programa de aquisição de obrigações, iniciado em 2015, quando a área do euro se defrontava com o risco de deflação, que pode ser tão prejudicial como uma inflação elevada.

Com estas medidas, estamos a transmitir uma mensagem clara às empresas, aos trabalhadores e aos investidores: a inflação regressará ao nosso objetivo de 2% a médio prazo. Estas medidas já estão a ter impacto nas taxas de juro no conjunto da área do euro, o que ajudará a guiar a economia no sentido de um retorno a preços estáveis.

Continuaremos a aumentar as taxas de juro, enquanto for necessário, para fazer a inflação regressar ao nosso objectivo a médio prazo. Reconhecemos também que a Europa se defronta com uma grande incerteza, nomeadamente devido à guerra e aos preços dos produtos energéticos. À medida que a economia evolui e responde a múltiplos desafios externos e internos, o Conselho do BCE analisará a situação e decidirá sobre o ritmo adequado das etapas seguintes, em função dos dados disponibilizados.

O euro une 340 milhões de pessoas. Tem sido – e continuará a ser – uma moeda estável. É esse o compromisso que assumimos. É a nossa função e iremos cumpri-la

A nossa política monetária é executada numa união monetária de 19 países – em breve, 20. Em resultado, é transmitida às famílias e às empresas através de 19 mercados financeiros diferentes. Para fazer face à inflação elevada no conjunto da área do euro, temos de garantir a transmissão ordenada da nossa política monetária em todos os países da área do euro. Por conseguinte, concebemos igualmente um novo instrumento, designado “Instrumento de Protecção da Transmissão” (IPT). O IPT salvaguardará a unicidade da nossa política monetária e, desse modo, ajudar-nos-á a assegurar que os preços permanecem estáveis no médio prazo. O euro une 340 milhões de pessoas. Tem sido – e continuará a ser – uma moeda estável. É esse o compromisso que assumimos. É a nossa função e iremos cumpri-la (Público, artigo de opinião de Christine Lagarde publicado em 22.7.2022 neste jornal)

Sem comentários: