domingo, julho 24, 2022

BCE: Como a subida dos juros mexe com a nossa vida

Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), terá anunciado esta quinta-feira (já depois do fecho desta edição de Economia) o primeiro aumento em mais de uma década da taxa de juro diretora da instituição e sinalizado os próximos passos — leia-se, quais deverão ser as próximas subidas. As suas palavras irão mexer, e muito, com as nossas vidas. Juros mais elevados têm múltiplos impactos, muitos deles negativos, para famílias, empresas e Estados. E já se começaram a sentir, porque as taxas de mercado estão a subir há meses. Porque avança então o BCE neste caminho, numa altura em que a economia europeia está vulnerável por causa da guerra na Ucrânia e as projeções apontam para um abrandamento expressivo da atividade? A resposta chama-se inflação. A escalada dos preços continua sem dar tréguas, está em máximos desde a criação da moeda única — 8,6% em termos de variação homóloga em junho —, situando-se muito acima da fasquia dos 2%, a referência para o BCE, que tem como mandato a estabilidade dos preços. Mais ainda: as expectativas para o futuro descolaram desse patamar, podendo gerar ainda mais inflação.

Juros mais altos significam maio­res custos de financiamento para famílias — uma questão crítica em Portugal, onde há mais de 1,3 milhões de contratos de crédito à habitação com taxa de juro variável —, empresas e Estados e são um incentivo à poupança, contribuindo para reduzir o consumo e o investimento. Com a procura a arrefecer, bem como os preços do imobiliário, a inflação deverá baixar. Até porque a subida dos juros também favorece a valorização do euro, para evitar a inflação importada. É isto que leva o BCE a subir os juros. Mas é preciso “perceber em que medida é que a inflação vem mais do lado da procura ou da oferta, porque isso determinará o impacto que a subida das taxas de juro poderá ter na inflação”, salienta Pedro Brinca, economista e professor da Nova SBE.

Certo é o abrandamento da economia. “A subida das taxas de juro pelos bancos centrais costuma acontecer em períodos de forte aceleração económica, em que os salários estão a subir, a puxar pelos preços dos bens e a levar à aceleração da inflação”, aponta Rui Castro Pacheco, líder de investimentos do Banco Best. Só que, “especialmente na Europa, a inflação está a crescer sem grandes subidas salariais nem uma economia em forte crescimento”, alerta. “Se ocorrer um arrefecimento muito grande da atividade económica, mais tarde o processo de aumento dos juros será reequacionado pelos bancos centrais. Aliás, os aumentos descontados pelo mercado já recuaram significativamente face às perspetivas de arrefecimento”, remata Paula Carvalho, economista-chefe do BPI (Expreso, texto da jornalista Sónia M. Lourenço com Isabel Vicente e infografia de Jaime Figueiredo)

Sem comentários: