Portugal assinalou o Dia dos Avós, uma data
dedicada a reconhecer o papel fundamental dos mais velhos na vida das famílias
e na sociedade. No entanto, por detrás da celebração, está uma realidade
preocupante: milhares de idosos portugueses enfrentam sérias dificuldades económicas,
que colocam em causa a possibilidade de envelhecerem com dignidade.
Antecipando a efeméride, o Gabinete de Proteção Financeira da DECO (GPF) divulgou um relatório detalhado sobre os desafios que afetam os cidadãos com mais de 65 anos, revelando uma situação económica estruturalmente adversa marcada por rendimentos baixos, despesas crescentes e pouca margem para reagir a imprevistos.
- De acordo com o relatório, em 2024 e 2025, os consumidores seniores representaram mais de um em cada quatro casos acompanhados pela DECO. Esta faixa etária é particularmente vulnerável a alterações económicas, uma vez que depende quase exclusivamente de pensões fixas e frequentemente insuficientes para cobrir os custos da vida quotidiana. A DECO sublinha que os idosos estão expostos a um conjunto de pressões financeiras acumuladas que têm vindo a agravar-se nos últimos anos, nomeadamente:
- Inflação persistente: A taxa média anual de inflação em 2024 foi de 2,4%, com maior impacto no preço dos bens alimentares e dos serviços de saúde — dois setores essenciais para os mais velhos.
- Habitação mais cara: Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), as rendas aumentaram, em média, 6,7%, representando uma fatia cada vez maior do orçamento dos pensionistas.
- Custos com energia e medicamentos: Mais de 40% dos seniores dizem ter dificuldade em pagar despesas básicas, como eletricidade, gás e medicamentos, agravando a sua vulnerabilidade.
Pensões aquém do necessário
A pensão média de velhice em Portugal, segundo
dados da Segurança Social de 2025, é de 592,64 euros mensais, um valor que está
muito abaixo do mínimo necessário para garantir uma vida com dignidade. De
acordo com um estudo do CESIS (Centro de Estudos para a Intervenção Social),
esse valor mínimo deveria rondar os 849 euros por mês.
Apesar de muitos seniores estarem menos expostos
ao endividamento tradicional, como créditos à habitação ou automóvel, enfrentam
uma rigidez orçamental elevada. A DECO destaca três fatores principais que
dificultam o reequilíbrio financeiro desta população:
- A impossibilidade de gerar novos rendimentos
- Uma baixa flexibilidade orçamental
- A ausência de apoio familiar ou comunitário, em muitos casos
Em média, os seniores têm cinco responsabilidades
de crédito, sobretudo créditos pessoais e cartões de crédito, com taxas de juro
que variam entre 15% e 18%. Estas modalidades de financiamento apresentam
riscos elevados de desequilíbrio financeiro e de sobre-endividamento.
Privação material e social severa atinge um terço
dos seniores
De acordo com dados do Eurostat de 2023, 32,6% dos
idosos portugueses vivem em situação de privação material e social severa, o
pior valor entre todos os países da Europa Ocidental. A ausência de qualquer
tipo de reserva financeira significa que qualquer despesa imprevista — uma
avaria doméstica, uma intervenção médica ou mesmo uma fatura mais elevada —
pode tornar-se numa ameaça direta à estabilidade do idoso.
“Muitos avós portugueses vivem na fronteira da
exclusão, após uma vida inteira de trabalho e contributo para a sociedade”,
alerta a DECO. A propósito do Dia dos Avós, a DECO reafirma o seu compromisso
com a defesa dos direitos económicos e sociais dos consumidores seniores,
exigindo políticas públicas mais eficazes e um reforço do apoio social e
comunitário.
A associação lembra que, além da sua importância afetiva, os avós desempenham um papel ativo e relevante do ponto de vista social, cultural e até económico dentro das famílias. Num momento em que o envelhecimento da população portuguesa se acentua, garantir condições de vida dignas aos mais velhos é, segundo a DECO, uma questão de justiça intergeracional e de responsabilidade coletiva (Executive Digest)
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