O aumento é significativo, se comparado com as últimas três vezes em que esta pergunta foi feita no barómetro do ICS/ISCTE: em 2019 e final de 2023 era evidente a rejeição de maiorias, em dezembro de 2021, 40% diziam preferir uma maioria - e Costa teve-a. Agora, 58% diz o mesmo. Parece uma contradição, mas é um facto: a perceção dominante é de que o Governo está a fazer um mau trabalho; a vantagem da AD é curta; e a única maioria parlamentar possível, para já, exige a presença do Chega, mas esse é um cenário que é largamente reprovado pela maioria. Ainda assim, a maioria dos portugueses preferia uma maioria absoluta, e nunca como hoje houve tanta gente a preferi-la. De acordo com a sondagem do ICS/ISCTE, feita para o Expresso e a SIC, mais de metade dos 803 inquiridos (58%) dizem achar preferível que o vencedor das eleições tenha uma maioria absoluta de deputados, para governar com estabilidade e sem negociações, ao passo que 33% prefere que não exista maioria.
É uma evolução clara, se comparada com as últimas três vezes em que esta pergunta foi feita no barómetro do ICS/ISCTE: em 2019 e final de 2023 era evidente a rejeição de maiorias — e os resultados eleitorais confirmaram isso. Em dezembro de 2021, na véspera do António Costa vs Rui Rio, as preferências eram outras: se 47% diziam não querer uma maioria, 40% admitiam desejá-la — e, de forma surpreendente, até tendo em conta as sondagens da altura, Costa conseguiu conquistá-la.
Agora o retrato é ainda mais claro: se 58% dos inquiridos veem com bons olhos a ideia de maioria absoluta, apenas 33% dizem não a querer. Problema: ao contrário do que acontecia nas legislativas de 2022, o Chega tem uma bancada em dimensão suficiente para a impedir (pelo menos por agora). Outro problema: na primeira parte desta sondagem, publicada há uma semana, a AD mantinha-se longe de um cenário de maioria — mesmo se somarmos a esses 33% os 4% atribuídos à IL. Ainda assim, ministros e primeiro-ministro vão ensaiando formulações do mesmo pedido. Em março, Paulo Rangel chegou a manifestar vontade de a AD ter “maioria absoluta”. Agora, Montenegro pede uma “maioria maior”.
A perceção dominante entre os portugueses, por enquanto, é a de que quem vai ganhar as eleições é a AD. Quando questionados sobre “que partido ou coligação acha que vai ter mais votos nesta eleição” (diferente de perguntar em quem vai votar), 39% responderam que a AD seria vencedora e apenas 23% puseram as fichas no PS. O apelo ao voto útil é certo dos dois lados, e na segunda-feira se verá se o debate desequilibra para algum.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 5 e 14 de abril de 2025. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis sexo, idade (4 grupos), instrução (3 grupos), região (NUTS II, 7 regiões) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de região e habitat, foram selecionados aleatoriamente 93 pontos de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto nas eleições legislativas recolhida através de simulação de voto em urna. Foram contactados 2815 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 803 entrevistas válidas (taxa de resposta de 29%, taxa de cooperação de 44%). O trabalho de campo foi realizado por 35 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes em Portugal Continental, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 11). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 803 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. As percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto das jornalistas Rita Dinis e Sofia Miguel Rosa)
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