quinta-feira, abril 24, 2025

Qual é a probabilidade de Tolentino de Mendonça ser o próximo Papa

O cardeal madeirense está na lista restrita de 22 candidatos à sucessão do papa Francisco  elaborada pelos especialistas. Mas o padre José Manuel Pereira de Almeida, vice-reitor da Universidade Católica, diz à Euronews que as probabilidades do português não são muito elevadas. A morte do Papa Francisco intensificou o debate no espaço público sobre o seu potencial sucessor e lançou um frenesim nas casas de apostas sobre quem será escolhido para ocupar o cargo de topo da Igreja Católica Romana, ramo maioritário do Cristianismo com mais de mil e 300 milhões de fiéis em todo o mundo.

Entre os 136 cardeais que vão escolher o futuro Papa, isto é, cardeais com menos de 80 anos, requisito imposto pelas atuais normas da Igreja, quatro são portugueses: D. Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa; D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima; D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, e D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal.

Tolentino de Mendonça, de 59 anos, o mais jovem entre os chamados candidatos à liderança do Vaticano, foi criado cardeal pelo Papa Francisco em 2019, depois de Manuel Clemente (2015) e António Marto (2018), mas, dos portugueses, é o candidato mais forte a sentar-se na Cadeira de São Pedro, estando mesmo no seleto lote de 22 cardeais considerados pelos especialistas do Cardinalium Collegii (Colégio de Cardeais,. em português) como papabili, ou seja, com condições para chegar a Papa. Esta plataforma online reúne uma equipa internacional e independente de prestigiados jornalistas e investigadores católicos que dão informação sobre os principais candidatos, embora ressalve que não faz prognósticos sobre quem poderá ser o próximo pontífice.

Seja como for, em Portugal, o entusiasmo com a hipótese de Tolentino de Mendonça vir a chefiar a Igreja Católica tem crescido nos últimos tempos, mas o padre José Manuel Pereira de Almeida, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa e que conhece bem o cardeal madeirense, põe água na fervura.

“É improvável”, adianta o padre à Euronews, ao mesmo tempo que aposta num rosto de fora da Europa. “A minha ideia é que a escolha não irá recair num cardeal europeu, por causa da evolução que a própria Igreja Católica tem tido nos outros continentes, como em África e na Ásia”, explica. Em 2013, quando Francisco foi eleito Papa após a renúncia de Bento XVI, os cardeais eleitores da Europa representavam 56% do total, mas as escolhas do pontífice argentino deram mais peso a África, à Ásia e à Oceânia, que até então só contavam com 22 cardeais eleitores na soma dos três continentes.

A relação de forças no próximo conclave garante maior diversidade geográfica, com a Europa a constituir agora 39% do total – há 53 eleitores do velho continente, 37 da América, 24 da Ásia, 18 da África e quatro da Oceânia. Segundo a Agência Ecclesia, estarão representadas 73 nações no conclave, contra apenas 49 em 2013, sendo que os países com mais eleitores são a Itália (17), Estados Unidos da América (10), Brasil (7), Espanha, França e Índia (5 cada), configurando mais de um terço do total. “Não me admiraria se o próximo Papa viesse de um outro continente que não da Europa”, sublinha Pereira de Almeida.

Demasiado moderno e progressista?

É bem conhecido o ditado italiano, segundo o qual, “quem entra Papa sai cardeal”, o que poderia jogar a favor de Tolentino de Mendonça, visto como possível candidato à sucessão de Francisco mas sem estar nas principais cogitações de especialistas e apostadores. Só que, além do fator geográfico, há um outro ditado que reduz ainda mais as chances do cardeal luso. Apregoa-se no Vaticano que “a um Papa gordo deve seguir-se sempre um magro”, o que vale por dizer que a um reformador deve seguir-se um conservador.

Tolentino Mendonça, lembra a equipa do Cardinalium Collegii, tem criado bastante controvérsia durante a sua vida sacerdotal, em especial pelas abordagens tidas como heterodoxas e tolerantes face à homossexualidade, apesar de o cardeal de Machico nunca se ter manifestado de forma pública contra os ensinamentos da Igreja a este respeito. Além disso, não zelou pela sua popularidade quando se aliou a uma irmã beneditina feminista que promove o aborto, a ordenação de mulheres, o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por casais do mesmo sexo.

“Para a tradução nacional, é o ministro da Educação e da Cultura, o que quer dizer que tem sob a sua tutela as universidades católicas no mundo, os aspetos culturais e mais significativos das Conferências Episcopais, e portanto é um homem muito bem cotado, no sentido que é muito considerado, muito escutado”, realça o padre Pereira de Almeida. Tolentino de Mendonça tem prestígio e era muito próximo de Francisco, mas a suas posições liberais na tentativa de arrastar a Igreja para uma era mais moderna talvez sejam mais um obstáculo do que uma mais-valia (Sol, texto do jornalista João Azevedo)


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