sexta-feira, abril 25, 2025

Sondagem Expresso-SIC: Montenegro tem mais fiéis na AD do que Pedro Nuno no PS

Na comparação das qualidades dos dois líderes, Pedro Nuno aparece pior do que Montenegro – e também tem piores registos entre os simpatizantes do PS do que Montenegro entre os seus. Mas rejeição dos dois líderes é alta – o dobro do que acontecia entre António Costa e Rui Rio. Se as eleições podem decidir-se mais em função da capacidade de mobilizar o eleitorado mais fiel do que de crescer além-fronteiras, há um detalhe a reter na sondagem feita pelo ICS/ISCTE para o Expresso e a SIC que avalia a forma como os eleitores olham para as características dos dois candidatos a primeiro-ministro: seja na experiência, ponderação, simpatia, força ou competência, os que se dizem simpatizantes do PSD cerram mais fileiras em torno de Luís Montenegro do que os eleitores que dizem ter simpatia pelo PS cerram em torno de Pedro Nuno Santos. Alguns destes conseguem ver mais qualidades no atual primeiro-ministro.

Entre os simpatizantes do PS, 24% acham, assim, que Montenegro é mais experiente do que Pedro Nuno e 18% que é mais ponderado do que Pedro Nuno. E por aí fora: 17% dos simpatizantes do PS arriscam que o primeiro-ministro é um líder mais forte do que o secretário-geral socialista (entre os eleitores da AD só 9% acham que Pedro Nuno ganha neste parâmetro) e 15% arriscam que Montenegro é “mais simpático” do que o líder do partido pelo qual dizem ter simpatia. “Não poucos simpatizantes do PS parecem — perdoem o jogo de palavras — antipatizar com Pedro Nuno Santos: não veem nele alguém cujas características o distinguem positivamente do primeiro-ministro”, nota Santana Pereira, coautor do estudo, num artigo publicado nesta edição.


Na análise inversa, são residuais os simpatizantes do PSD que acham que Pedro Nuno Santos é melhor do que Montenegro: 4% acham que Pedro Nuno é mais honesto, 3% acham que é mais competente. Só na empatia, franqueza e honestidade os eleitores sociais-democratas dão algum crédito ao secretário-geral socialista. E mesmo aí as percentagens são inferiores — 10% dos simpatizantes do PSD afirmam que Pedro Nuno diz mais o que pensa do que Montenegro, 9% dos eleitores da AD dizem que Pedro Nuno é mais forte do que Montenegro e 7% arriscam que o oponente é mais empático do que o primeiro-ministro.

Outro dado curioso que parece adensar a dificuldade de Pedro Nuno Santos em descolar nas sondagens: são muito mais os eleitores do PS que não têm pudor em afirmar que “nenhum dos dois” se destaca positivamente nas qualidades em análise do que os do PSD. Ou seja, há mais simpatizantes do PS (entre 13% e 29%) a constatar que nenhum dos dois é honesto, franco, forte, competente, ao passo que os do PSD tendem a pôr essas fichas no seu líder. A par disto, Montenegro é avaliado em 6,6 pelos eleitores de direita e Pedro Nuno é avaliado ligeiramente abaixo, em 6,4, pelos de esquerda.

Numa eleição que tanto um como outro querem que seja “mano a mano” para efeitos de apelo ao voto útil, é o incumbente que faz melhor score perante a totalidade da amostra em praticamente todos os parâmetros: Pedro Nuno só é melhor a “dizer o que pensa”. E, estando os dois a ser alvo de averiguações preventivas por parte do Ministério Público, há outro dado que se destaca: são muito mais os eleitores que dizem que não reconhecem qualidades a “nenhum” dos dois do que eram em dezembro de 2021, na véspera das eleições que puseram Costa e Rio frente a frente. Nessa altura, a rejeição dos dois líderes andava na casa dos 15%, agora passa facilmente a barreira dos 30%. Quanto a popularidade, de 0 a 10, Montenegro tem positiva por pouco (5,3) e Pedro Nuno fica a uma unha da positiva (4,9). Taco a taco.

Spinum ainda viva, mas influencia pouco

Depois de, em março, a primeira sondagem do ICS/ISCTE feita após a queda do Governo ter dado conta de que os inquiridos repartiam a culpa pela crise política, nova sondagem indicia que o caso que levou Montenegro a apresentar a moção de confiança pode interferir pouco no momento da escolha. Questionados sobre como ficou a imagem que tinham de Luís Montenegro em função das “controvérsias e dos acontecimentos que se seguiram” à boleia do caso Spinumviva, 55% dos inquiridos respondem que ficou na mesma, 40% admitem que a imagem ficou “pior” e apenas 3% dizem que “melhorou”. Entre os que dizem que a imagem piorou, a maioria identifica-se como simpatizante de um partido da oposição (12% dos do PSD ficaram desiludidos com Montenegro), mas uma fatia significativa (40%) dos que ficaram com pior ideia de Montenegro diz não ter simpatia partidária, ou seja, são eleitores disponíveis para ser convencidos a votar. Em que medida vai isto afetar a decisão sobre o voto? 47% responderam que não vão afetar “nada”, 30% que vão afetar “pouco” e apenas 20% atribuem ao caso um peso decisivo na hora de votar.

Só Marcelo e Montenegro acima da média

O Presidente da República e o atual primeiro-ministro são as únicas figuras políticas avaliadas acima do ponto neutro da escala, de acordo com a sondagem ICS/ISCTE. Marcelo Rebelo de Sousa destaca-se, com nota 6 (a escala é de 0 a 10), e Luís Montenegro fica pouco acima da linha de água, com 5,3. Pedro Nuno Santos desce neste estudo para os 4,9 — sendo, ainda assim, mais popular entre eleitores que se situam à esquerda do que o próprio chefe de Estado.

Quanto aos restantes líderes, Rui Tavares vence o duelo com Rui Tavares, embora por curta margem. Aparecendo depois Nuno Melo, líder do CDS que entrou nos debates por imposição de Montenegro, com 4. Inês Sousa Real e Mariana Mortágua empatam a seguir — embora a líder do Bloco seja mais popular à esquerda (4,6, contra 4 da líder do PAN). André Ventura é o penúltimo da lista (sendo visto como o menos popular dos líderes de direita no seu segmento de eleitores). Apesar das boas avaliações conseguidas nos debates televisivos, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, é o lanterna vermelha.

FICHA TÉCNICA

Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 5 e 14 de abril de 2025. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis sexo, idade (4 grupos), instrução (3 grupos), região (NUTS II, 7 regiões) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de região e habitat, foram selecionados aleatoriamente 93 pontos de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto nas eleições legislativas recolhida através de simulação de voto em urna. Foram contactados 2815 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 803 entrevistas válidas (taxa de resposta de 29%, taxa de cooperação de 44%). O trabalho de campo foi realizado por 35 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes em Portugal Continental, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 11). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 803 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. As percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas David Dinis, Rita Dinis e Sofia Miguel Rosa)

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