As regiões do sul de Portugal e os arquipélagos da Madeira e dos Açores preparam-se para um novo embate eleitoral a 18 de maio, num contexto marcado por disputas renhidas, milhares de votos que não se traduzem em mandatos e algumas incógnitas que poderão redefinir o equilíbrio de forças políticas. Em zonas como o Alentejo, Algarve e ilhas, o número reduzido de lugares a atribuir ao Parlamento acentua o impacto do sistema eleitoral e pode provocar reviravoltas inesperadas. Portalegre, o círculo eleitoral que menos deputados elege em todo o país (apenas dois), é exemplo disso mesmo. Segundo o Diário de Notícias, em 2024, 40% dos votos ali expressos — cerca de 23.650 — foram desperdiçados, ou seja, não contribuíram para eleger qualquer deputado. Uma realidade que o PSD local quer inverter. “Queremos recuperar o deputado que escapou desde 2015”, declarou ao Diário de Notícias uma fonte da estrutura distrital, sublinhando que dificilmente conseguirão ultrapassar o PS, força historicamente dominante no distrito. A expectativa passa agora por aproveitar a fragilidade da lista do Chega — abalada pela saída de Henrique de Freitas, que se demitiu após ser excluído da candidatura — para garantir o segundo lugar. Caso tal aconteça, poderá eleger-se João Pedro Luís, secretário-geral da JSD, e nome número dois da lista liderada por Manuel Castro Almeida.
Em Évora, a distribuição dos três mandatos disponíveis poderá manter-se inalterada em relação a 2024: dois para o PS, um para o PSD. O Chega, que há um ano conquistou um lugar pela primeira vez com Rui Cristina, volta a arriscar com um candidato externo — Jorge Galveias, anteriormente cabeça de lista por Aveiro. Já a CDU, que perdeu representação em 2022 e 2024, procura agora recuperar terreno com Maria da Graça Nascimento, embora fontes socialistas locais considerem que a candidatura comunista não terá força para se impor, lamentando que “não tenha o peso político de nomes anteriores, como João Oliveira ou Alma Rivera”.
Beja repete o padrão de candidatos parachutados. A
Aliança Democrática (AD) mantém Gonçalo Valente como cabeça de lista, enquanto
o PS aposta em Pedro do Carmo, ex-autarca de Ourique e antigo deputado. Já o
Chega transfere Rui Cristina de Évora para Beja, mesmo não tendo ligação ao
distrito. A CDU tenta reconquistar o assento perdido com Bernardino Soares,
ex-líder parlamentar, que sublinhou em debate televisivo as suas “ligações
familiares a Vila Nova de São Bento, no concelho de Serpa”. O desafio para todos
os partidos é evidente: os três distritos alentejanos elegem apenas oito
deputados no total, dispersando 64.777 votos não convertidos em mandatos — um
cenário que penaliza especialmente as forças com menor expressão eleitoral.
No Algarve, a disputa promete ser mais acesa. O
círculo de Faro, com nove deputados em jogo, teve em 2024 uma taxa de
desperdício de votos menor (23%) e apresenta um novo equilíbrio tripartido. Se
no passado PS e PSD dominaram confortavelmente, agora o Chega também entra na
luta com força, tendo conseguido eleger mais do que um deputado há um ano. O
Bloco de Esquerda (BE), que perdeu representação em 2019, renova a aposta em
José Gusmão. Em 2024, o bloquista ficou a apenas quatro mil votos de conquistar
um lugar — margem curta num universo de mais de 383 mil eleitores.
Nos Açores, as atenções viram-se para o impacto do
escândalo que envolveu Miguel Arruda, o primeiro deputado do Chega eleito pelo
arquipélago. Suspeito de furtos em aeroportos, desfiliou-se após o caso ser
conhecido, passando a deputado não-inscrito. A polémica poderá penalizar a
votação do partido, deixando em aberto o destino dos cinco mandatos açorianos,
que deverão ser repartidos maioritariamente entre PS e PSD, conforme tem sido
habitual.
Na Madeira, cresce a expectativa em torno do Juntos Pelo Povo (JPP), que obteve um resultado expressivo nas eleições regionais de 23 de março, igualando os socialistas em número de deputados no parlamento regional (11). Esta ascensão poderá agora traduzir-se num feito inédito: a eleição do primeiro deputado do JPP à Assembleia da República. Em 2024, o partido ficou a apenas 518 votos de conseguir esse objetivo. O PS, que elegeu Paulo Cafôfo e Miguel Iglésias no último sufrágio legislativo, apresenta agora novas caras, enquanto o PSD e o CDS-PP mantêm-se como forças dominantes. O desfecho dependerá, uma vez mais, da capacidade dos partidos locais em mobilizar o eleitorado num contexto em que cada voto pode ditar o equilíbrio nacional (Executive Digest, texto do jornalista Pedro Zagacho Goncalves)
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